goo.gl/Lvkwe7 | A conformidade e o consenso são necessários em muitas hipóteses. Mas também podem levar a efeitos nocivos. Em Why Societies Need Dissent, Cass Sunstein analisa alguns desses possíveis efeitos. Um deles é especialmente preocupante: a polarização do grupo. Grupos que são compostos apenas por pessoas que pensam igual tendem a agir da mesma forma ainda que boas razões indiquem que tal linha de ação não é a mais razoável. Em contextos dramáticos, a polarização pode alcançar o nível da extrema intolerância: mentes discordantes não só são proibidas dentre os integrantes do grupo, como também perseguidas e neutralizadas.
A noção de conformidade está diretamente ligada com as de verdade aparente e de perpetuidade. Do ponto de vista da psicologia cognitiva, aquilo que todo mundo faz parece, em um primeiro momento, ser a coisa correta a se fazer. E aquilo que todo mundo faz estabiliza-se na sociedade a ponto de tornar, até certo ponto, resistente a inovações.
Inovações, por si mesmas, são atitudes revolucionárias. Uma condição para que ocorram é que o indivíduo esteja disposto a correr o risco de apresentar o novo à sociedade. Mas apresentar o novo pode ser algo incômodo ou até mesmo perigoso. A verdade aparente e a perpetuidade unem-se em um vínculo orgânico. Elas arraigam crenças sociais que, por sua vez, tornam-se padrões esperados de comportamento. O grupo espera que você faça X simplesmente porque o grupo costuma fazer X. E, a partir do momento em que você faz Y, expectativas são quebradas.
Os padrões de comportamento geram regras sociais que servem para avaliar não apenas a solidez ou não de uma determinada proposta, como também a reputação do proponente. Esteja ou não correto, aquele que inova terá sempre de lidar com a pressão contrária advinda da solidificação das crenças do grupo. E essa pressão recai tanto sobre aquilo que ele fala quanto sobre o que ele representa para terceiros.
Em outros termos, a conformidade é um desincentivo para que pessoas que pensam diferente coloquem em debate as suas próprias ideias. Quando a reputação está em jogo, muitos pensam, por timidez ou falta de confiança, que o melhor a se fazer é silenciar. Como consequência, produz-se uma espiral do silêncio que retroalimenta os próprios padrões de comportamento que adquiriram verdade aparente e perpetuidade.
Cabeças que pensam diferente são fundamentais para a existência de uma sociedade bem ordenada. Vozes que destoam e ousam questionar saberes unânimes ou consensuais colaboram com a criação de novos conhecimentos e com a instauração de um ambiente conversacional em que adversários intelectuais não são vistos como inimigos ou sujeitos a serem exterminados.
Um dos principais desafios do estudante de direito é o de superar a timidez e a falta de confiança e colocar a sua imagem em jogo. E um dos principais desafios dos professores é auxiliar os alunos na superação de seus medos e demonstrar que os desincentivos fornecidos pela conformidade são um preço muito alto a ser pago quando confrontados com os benefícios pessoais e sociais que a discussão de novas ideias produz.
Por Bruno Torrano
Fonte: emporiododireito
A noção de conformidade está diretamente ligada com as de verdade aparente e de perpetuidade. Do ponto de vista da psicologia cognitiva, aquilo que todo mundo faz parece, em um primeiro momento, ser a coisa correta a se fazer. E aquilo que todo mundo faz estabiliza-se na sociedade a ponto de tornar, até certo ponto, resistente a inovações.
Inovações, por si mesmas, são atitudes revolucionárias. Uma condição para que ocorram é que o indivíduo esteja disposto a correr o risco de apresentar o novo à sociedade. Mas apresentar o novo pode ser algo incômodo ou até mesmo perigoso. A verdade aparente e a perpetuidade unem-se em um vínculo orgânico. Elas arraigam crenças sociais que, por sua vez, tornam-se padrões esperados de comportamento. O grupo espera que você faça X simplesmente porque o grupo costuma fazer X. E, a partir do momento em que você faz Y, expectativas são quebradas.
Os padrões de comportamento geram regras sociais que servem para avaliar não apenas a solidez ou não de uma determinada proposta, como também a reputação do proponente. Esteja ou não correto, aquele que inova terá sempre de lidar com a pressão contrária advinda da solidificação das crenças do grupo. E essa pressão recai tanto sobre aquilo que ele fala quanto sobre o que ele representa para terceiros.
Em outros termos, a conformidade é um desincentivo para que pessoas que pensam diferente coloquem em debate as suas próprias ideias. Quando a reputação está em jogo, muitos pensam, por timidez ou falta de confiança, que o melhor a se fazer é silenciar. Como consequência, produz-se uma espiral do silêncio que retroalimenta os próprios padrões de comportamento que adquiriram verdade aparente e perpetuidade.
Cabeças que pensam diferente são fundamentais para a existência de uma sociedade bem ordenada. Vozes que destoam e ousam questionar saberes unânimes ou consensuais colaboram com a criação de novos conhecimentos e com a instauração de um ambiente conversacional em que adversários intelectuais não são vistos como inimigos ou sujeitos a serem exterminados.
Um dos principais desafios do estudante de direito é o de superar a timidez e a falta de confiança e colocar a sua imagem em jogo. E um dos principais desafios dos professores é auxiliar os alunos na superação de seus medos e demonstrar que os desincentivos fornecidos pela conformidade são um preço muito alto a ser pago quando confrontados com os benefícios pessoais e sociais que a discussão de novas ideias produz.
Por Bruno Torrano
Fonte: emporiododireito