11:24h da manhã de hoje, ligo a CBN-Rádio indo de Santo Antônio de Lisboa para o centro de Floripa. Nesse momento 2 jornalistas/radialistas que admiro e respeito muito, estão comentando manchestes e ocorrências, relatando fatos e emitindo opiniões.
Um deles fala para o outro:
– O que vou te dizer agora é um relato que me passaram, não é uma opinião. Me disseram que em uma faculdade de Direito particular de Florianópolis existe uma sala de estudantes que estão iniciando e que é conhecida como a sala das patricinhas. Ou seja, são garotas que vão a aula, super arrumadas, maquiadas, piastradas, unhas feitas. Detalhes, toda essa produção para ir a aula tem um único objetivo: paquerar. Fiquei estarrecido.Mais na frente acrescentou, “você sabia que o antigo caderno está quase superado em algumas faculdades (particulares) e colégios, porque os alunos estão levando para a sala de aula notebooks e ficam o tempo todo no Whatsapp.”
A questão é o preconceito e os julgamentos que um simples blábláblá desses de rádio sugere. Por que mulheres arrumadas e aqui entende-se unhas pintadas, cabelos produzidos por “escova” ou “piastra”, são consideradas patricinhas, termo pejorativo, cuja origem “pesquisamos” no google…
Uma das hipóteses está ligada ao high society carioca. O termo Patricinha teria surgido em homenagem a Patrícia Leal – uma jovem de família nobre do Rio de Janeiro dona de um estilo carinhosamente apelidado pela alta roda e hoje adotado por muitas meninas por todo o Brasil.”
Outra vertente jura que o termo surgiu “a partir de emotional hardcore, vertente do rock que despontou nos anos 80, em Washington D. C.. Atualmente, as bandas internacionais mais queridas pelos emos são Simple Plan, My Chemical Romance e Good Charlotte. No Brasil, Hateen, NxZero, Fresno e CPM 22 estão entre as prediletas.”
De qualquer forma, parece que as meninas de rosa, perfumadíssimas, cabelos empiastrados e loucas por consumo foram consagradas na comédia de Amy Heckerling, estrelada por Alicia Silverstone, As Patricinhas de Beverly Hills, lembram... enfim, onde quero chegar?
Se uma faculdade permite que suas alunas frequentem aulas produzidas, que mal há nisso? Se uma faculdade permite que suas alunas freqüentem aulas produzidas com o objetivo de paquerar, ou “caçar”, que mal há nisso? Até porque quanto tempo duram numa faculdade de Direito com critérios, alunas com perfil ligado a futilidades? Mas, e se este for o perfil de uma mulher, como é de muitas mulheres que possuem autoestima e se cuidam e cultivam esse lado feminino sem serem fúteis, que mal há nisso?
Se alunos levam noteboocks para as salas de aulas e estão decretando o fim do superado caderno, que mal há nisso? Já presenciei alunos em aulas com computador, janelinha do msn e do orkut abertas, mas o professor em cima, fiscalizando o tempo todo o uso do computador e da pesquisa que estava orientando. Professores modernos, atuantes e conhecedores do equipamento. São raros, mas existem.
O mal está, convenhamos, no preconceito, na hipocrisia e nos estigmas que vamos criando, implantando e difundindo na mídia seja rádio, televisão entre outras. O mal está no jargão “mulheres produzidas”, “mulheres desleixadas”, “patricinhas”. O inverso dessas caricaturas, meninas ou mulheres carentes de qualquer produção, implicaria no fato delas estudarem mais? Muitas vezes meninas tristes, sem condições, com problemas de autoestima pela opção que precisam fazer, ou custeiam os estudos ou o visual…
Quanta bobagem. Quantas indagações. Quanta hipocrisia, repito. E nesse diálogo mudo entre os locutores da CBN, eu e meus botões e nossas divagações, me ocorreu lembrar a primeira coisa que perguntei inocentemente aos coordenadores de uma pós-graduação em Direitos Humanos que inicío em maio: vocês tem wireless nas salas de aula?
Por Maria Odete Olsen
Fonte: educacaoecidadania.com.br