'Em criminoso não se vota', diz promotor de Justiça

À frente do Fórum Permanente de Combate à Corrupção, Affonso Ghizzo Neto (foto) volta a chamar a sociedade para eleger seus representantes de forma consciente.

Idealizador da campanha de combate à corrupção no Estado, o promotor de Justiça da 19ª Vara da Comarca de Joinville, Affonso Ghizzo Neto, volta a chamar a sociedade para a responsabilidade de eleger de forma consciente os candidatos a presidente, governador, senador e deputados federal e estadual. À frente do Fórum Permanente de Combate à Corrupção, Ghizzo Neto organiza a quarta “Marcha Diga não à Corrupção”, neste sábado (27), às 9h30, com concentração no Fórum.

Cerca de 2.000 participantes são esperados na caminhada, trajando camisetas brancas e pretas. O objetivo do ato, diz o promotor, é alertar que o voto sem reflexão contribui para prejudicar ainda mais as políticas públicas no Brasil e que o exercício da cidadania deve ser para além dos períodos eleitorais.

No entendimento de Ghizzo Neto, se o país investir pesado em educação, durante dez anos, a corrupção deixará de existir. Mas enquanto isso não acontece, o Brasil recorre a mecanismos como a Lei da Ficha Limpa. “São mais de 4.000 candidatos barrados pela lei, que bem ou mal vai fazendo um filtro importante.”

Na entrevista concedida ao ND, esta semana, o promotor explica o que é votar consciente, destaca a importância de organismos que fiscalizam os políticos e clama ao elei tor para que não vote em políticos criminosos e para que denuncie a compra de votos.

Qual é a importância da Marcha Diga não à Corrupção?

A simbologia de ir para a rua, de berrar contra a corrupção, contra a impunidade é importante. O movimento é apartidário e não é um movimento oportunista. Tanto isso é verdade que vem ocorrendo desde 2004. É nossa trigésima marcha, aproximadamente, em todo o Estado. Esses movimentos simbolizam a forma de expor para a sociedade que existe uma série de pessoas insatisfeitas com a situação.

Desde a idealização da campanha de combate à corrupção, em 2004, como o sr. avalia o avanço prático desse trabalho? 

Temos frutos para colher em vários campos. Como por exemplo, já se tem uma geração de 22 e 25 anos que foram crianças e adolescentes e que tiveram contato com o programa nas escolas. Faço referência a um relato de um estudante que está no Fórum de Combate à Corrupção. Ele virou um ativista contra a corrupção. O programa o fez ser um militante, uma pessoa preocupada, portanto um voluntário da campanha. Além das pessoas adultas à época que se sentiam impotentes e que vieram agregar o grupo.

O sr. afirma que o evento pretende chamar a atenção para o voto consciente. O que é votar de forma consciente?

É ver o histórico de cada candidato, se ele já se envolveu em casos de corrupção, qual é sua ficha política, o que foi no passado. Enfim, analisar a história profissional e pessoal. E, a partir disso, escolher voluntariamente. Não é o outro que vai dizer em quem você deve votar. Não tem de ir na onda da maioria, da pesquisa. No primeiro turno, mais do que nunca, podemos escolher o melhor candidato ou, para os descontentes, o menos pior.

A Lei da Ficha Limpa pode ser considerada um marco no combate à corrupção?

Sem dúvida. O ideal é que ela não fosse necessária, que o eleitor por si só fizesse esse filtro. Infelizmente, isso não ocorre. Ontem [última terça] foi votado no TSE [Tribunal Superior Eleitoral] o recurso do deputado Paulo Maluf. Leia-se “condenado por ato de improbidade; se sair do Brasil é preso pela polícia internacional; com dinheiro congelado em bancos internacionais e paraísos fiscais”. E esse cidadão estava prestes a sair candidato novamente. E foi barrado pela Lei da Ficha Limpa.

Há ainda os portais da transparência…

Com certeza. O eleitor tem a internet e as redes sociais. Tem muitas opções. O Transparência Brasil, o Contas Abertas são ONGs que estão disponibilizando na internet um material bastante rico e objetivo. Não é uma crítica política ao candidato. São dados objetivos que mostram o que foi feito com o dinheiro público, quais foram as propostas desse candidato enquanto esteve em determinado cargo.

Como o cidadão pode combater à corrupção?

O fundamental é saber que, no bom sentido, a democracia dá trabalho. O eleitor tem de exercer a cidadania antes, durante e depois das eleições. Eu jamais, por exemplo, vou votar em um candidato que está comprando voto. É um critério bem importante. Não vote nesse cidadão porque ele não será um bom representante político. Ele está comprando a coisa pública e como dono da coisa pública vai representar apenas os interesses dele e do grupo que está bancando ele financeiramente. Quem tenta corromper através da compra do voto é um criminoso. E em criminoso não se vota. Se você sabe de algum candidato que está comprando voto, denuncie. E no pós-eleição?

E no pós-eleição?

Temos que nos mobilizar politicamente, cobrar, apresentar propostas ao candidato. Então, podemos nos organizar nos nossos bairros, nas nossas escolas, nos nossos grupos. O Fórum Permanente de Combate à Corrupção se propõe a isso. Temos aqui de pessoas bem humildes àquelas com doutorado. E ambas são iguais nesse fórum. Não é questão de formação intelectual, financeira. Esse laboratório de ideias pode formar algo bem democrático para ter varias visões e formatar os denominadores comuns. E fazer com que essas sejam as prioridades dos nossos representantes.

Quais são as falhas do combate è corrupção no Brasil?

Notadamente a falta de educação e de conscientização do cidadão como um todo favorece a compra e a venda do voto, o cargo em comissão para uma pessoa mais chegada. O uso da coisa pública como se fosse privada acaba sendo aceita no menor e no maior grau da sociedade. Acho que esse é o principal defeito. Nós ainda, inconscientemente, aceitamos essa cultura do me ajudar. Do tratar a coisa pública de uma forma não profissional. Do tratar a coisa como se fosse o quintal de casa. Esse é um problema que só se resolve com educação.

Por Luiz Fernando Cardoso

Fonte: ricmais.com.br
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