O juiz vive de uma amostragem viciada, ou seja, em tese, somente se depara com o que já não deu certo. Está adstrito à prova dos autos, o que não quer dizer, porém, que não visualiza além do processo.
O juiz, pasmem, vai a supermercado, tem empregada, tem parentes que são empregados, frequenta lojas, contrata serviços. Enfim, ainda que alguns juízes pensem que são deuses (e alguns têm certeza), na verdade é diante de algumas ações que realmente surge a dúvida se foi esquecido o fato de que o juiz é uma pessoa absolutamente normal. Para mentir, portanto, é recomendável tentar se manter pelo menos dentro dos limites da química, física e matemática, o que nem sempre acontece.
Ao longo dos anos, pode-se perceber uma nítida alteração do perfil das ações. Lembro do meu avô, que contava com orgulho ter ganhado a vida tropeando gado, sem nunca ter pedido ou dado um recibo que não fosse verbal. Mas não sou juíza há tanto tempo assim. Aliás, nem “sou” há tanto tempo assim.
Minhas referências coletam dados de pouco mais de oito velozes anos de magistratura, que já trazem marcas da “evolução”. Evidentemente que mentira sempre existiu e sempre existirá.
Não sei, porém, se é a velhice que está me fazendo rabugenta ou se o perfil das demandas é que está se agravando. Possivelmente, um pouco de cada.
Acredito que estejamos vivendo o reflexo do desespero. A dificuldade financeira e a parca perspectiva de sair dela, associada à perda do orgulho pelo valor da palavra, alimentam um crescente mercado de pedidos ou defesas infundadas.
Dentro de limites da boa-fé, até a isso o juiz tem que ser sensível e encontrar serenidade para ouvir com paciência e cautela o que a um primeiro momento pode parecer um absurdo. Infelizmente, um expressivo volume de demandas revela um enorme desperdício de tempo e dinheiro público para dizer que nada é devido ou para mandar pagar o básico do básico.
Isso é do jogo. Lamento, porém, pelo congestionamento de processos que acaba por trancar o trâmite de quem está sofrendo pelo que realmente é devido e, se demorar, talvez não adiante mais.
Por Aline Doral Stefani Fagundes
Fonte: motivaressencialidades.blogspot.com.br
O juiz, pasmem, vai a supermercado, tem empregada, tem parentes que são empregados, frequenta lojas, contrata serviços. Enfim, ainda que alguns juízes pensem que são deuses (e alguns têm certeza), na verdade é diante de algumas ações que realmente surge a dúvida se foi esquecido o fato de que o juiz é uma pessoa absolutamente normal. Para mentir, portanto, é recomendável tentar se manter pelo menos dentro dos limites da química, física e matemática, o que nem sempre acontece.
Ao longo dos anos, pode-se perceber uma nítida alteração do perfil das ações. Lembro do meu avô, que contava com orgulho ter ganhado a vida tropeando gado, sem nunca ter pedido ou dado um recibo que não fosse verbal. Mas não sou juíza há tanto tempo assim. Aliás, nem “sou” há tanto tempo assim.
Minhas referências coletam dados de pouco mais de oito velozes anos de magistratura, que já trazem marcas da “evolução”. Evidentemente que mentira sempre existiu e sempre existirá.
Não sei, porém, se é a velhice que está me fazendo rabugenta ou se o perfil das demandas é que está se agravando. Possivelmente, um pouco de cada.
Acredito que estejamos vivendo o reflexo do desespero. A dificuldade financeira e a parca perspectiva de sair dela, associada à perda do orgulho pelo valor da palavra, alimentam um crescente mercado de pedidos ou defesas infundadas.
Dentro de limites da boa-fé, até a isso o juiz tem que ser sensível e encontrar serenidade para ouvir com paciência e cautela o que a um primeiro momento pode parecer um absurdo. Infelizmente, um expressivo volume de demandas revela um enorme desperdício de tempo e dinheiro público para dizer que nada é devido ou para mandar pagar o básico do básico.
Isso é do jogo. Lamento, porém, pelo congestionamento de processos que acaba por trancar o trâmite de quem está sofrendo pelo que realmente é devido e, se demorar, talvez não adiante mais.
Por Aline Doral Stefani Fagundes
Fonte: motivaressencialidades.blogspot.com.br