http://goo.gl/RyRZi2 | Audiência pública convocada pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo também teve depoimentos de vítimas de homofobia, racismo e trotes violentos.
o mundo me dizia que eu tinha que esquecer tudo aquilo, que eu tinha culpa pelo que tinha acontecido, que tinha bebido muito, que precisava tocar minha vida”. O relato é de Maria*, 24 anos, estudante do 4º ano da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), que sofreu dois abusos sexuais em seu primeiro ano de curso, em 2011.
Ao caso de estupro denunciado por Maria somaram-se outros relatos de violência na FMUSP: racismo, homofobia, misoginia, tortura. Os depoimentos foram dados em audiência pública realizada nesta terça-feira pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), que recebeu denúncias de violações de direitos humanos no âmbito da faculdade.
O deputado Adriano Diogo (PT), que preside a Comissão, declarou ter sido “assediado” para que não levasse adiante a sessão sobre a FMUSP. “Nem presidindo a Comissão da Verdade eu fui tão pressionado a não realizar uma audiência. Impressionante como a gente é assediado quando tenta trazer uma sujeira que está debaixo do tapete”, afirmou. Após a audiência – que começou às 15h e terminou às 20h40 –, o deputado afirmou que o autor do assédio foi o próprio diretor da FMUSP, professor José Otávio Costa Auler Júnior.
O silêncio começa a ser rompido agora, mas os casos de estupro, trote violento e discriminação são velhos conhecidos da FMUSP. As denúncias recebidas pela Comissão datam, pelo menos, de 2002, mas um dos casos mais emblemáticos de violência na instituição é ainda mais antigo, de 1999, quando o calouro Edison Tsung Chi Hsueh, de 22 anos, foi encontrado morto em uma piscina após um trote.
A pressão para que as vítimas se calem é acompanhada de argumentos em nome da tradição da instituição – e sua imagem. Antes de participar da audiência na Alesp, Maria conta que participou de uma reunião com o diretor da FMUSP. “Ele me disse que a preocupação dele (com a exposição dos casos) era com a imagem da instituição”, disse a estudante sobre José Otávio Costa Auler Júnior.
Já a violência relatada por Maria ocorreu, primeiro, na festa de recepção dos calouros, quando foi abusada por um diretor da Associação Atlética Acadêmica Oswaldo Cruz (AAAOC); e depois na festa “Carecas no Bosque”, quando acordou em um hospital após ser estuprada por um funcionário terceirizado, desacordada - ela havia consumido uma bebida oferecida na festa. No geral, os relatos de violência envolvem, além da Atlética, o grupo Show Medicina.
Maria afirma que o inquérito policial contra o estuprador está na fase final, mas diz que apenas recentemente soube que diretores da Atlética conversaram com o agressor e com testemunhas do estupro logo após o crime – e que, inclusive, impediram a entrada da polícia na festa. “Quando eu acordei, no hospital, ninguém (da faculdade) me explicava o que tinha acontecido. Mas me aconselharam a tomar os medicamentos anti-retrovirais”, disse Maria, referindo-se ao coquetel contra HIV.
A fim de tentar dar fim à impunidade, Maria e Ana se juntaram a outras alunas da FMUSP – vítimas de abuso e solidárias à causa – e criaram, no final de 2013, o coletivo feminista Geni. De acordo com Ana Luiza Cunha, aluna do 3º ano da FMUSP e uma das fundadoras do Geni, as integrantes do grupo sofrem constante discriminação.
“Somos retratadas como loucas e histéricas, mas nós só estamos dando voz às pessoas que foram silenciadas durante muito tempo. São sempre as feministas que são ridicularizadas e atacadas nas redes sociais, nunca os agressores. Eu fico transtornada, estamos lidando com pessoas que supostamente integram a elite intelectual brasileira”, disse Ana Luiza. Segundo ela, o coletivo Geni já recebeu ao menos oito denúncias graves de estupro, que datam desde 2011.
O depoimento da estudante coincide com as conclusões sobre violência a que chegou Antônio Ribeiro de Almeida Júnior, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP, que desde 2001 estuda o fenômeno do trote. “São grupos de poder que usam o trote como processo de seleção para entrar em um grupo. É um mecanismo de exclusão, que não integra ninguém", afirmou Almeida Júnior.
Fonte: noticias.terra.com.br
o mundo me dizia que eu tinha que esquecer tudo aquilo, que eu tinha culpa pelo que tinha acontecido, que tinha bebido muito, que precisava tocar minha vida”. O relato é de Maria*, 24 anos, estudante do 4º ano da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), que sofreu dois abusos sexuais em seu primeiro ano de curso, em 2011.
Ao caso de estupro denunciado por Maria somaram-se outros relatos de violência na FMUSP: racismo, homofobia, misoginia, tortura. Os depoimentos foram dados em audiência pública realizada nesta terça-feira pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), que recebeu denúncias de violações de direitos humanos no âmbito da faculdade.
O deputado Adriano Diogo (PT), que preside a Comissão, declarou ter sido “assediado” para que não levasse adiante a sessão sobre a FMUSP. “Nem presidindo a Comissão da Verdade eu fui tão pressionado a não realizar uma audiência. Impressionante como a gente é assediado quando tenta trazer uma sujeira que está debaixo do tapete”, afirmou. Após a audiência – que começou às 15h e terminou às 20h40 –, o deputado afirmou que o autor do assédio foi o próprio diretor da FMUSP, professor José Otávio Costa Auler Júnior.
O silêncio começa a ser rompido agora, mas os casos de estupro, trote violento e discriminação são velhos conhecidos da FMUSP. As denúncias recebidas pela Comissão datam, pelo menos, de 2002, mas um dos casos mais emblemáticos de violência na instituição é ainda mais antigo, de 1999, quando o calouro Edison Tsung Chi Hsueh, de 22 anos, foi encontrado morto em uma piscina após um trote.
A pressão para que as vítimas se calem é acompanhada de argumentos em nome da tradição da instituição – e sua imagem. Antes de participar da audiência na Alesp, Maria conta que participou de uma reunião com o diretor da FMUSP. “Ele me disse que a preocupação dele (com a exposição dos casos) era com a imagem da instituição”, disse a estudante sobre José Otávio Costa Auler Júnior.
Abusos
Em depoimento na Alesp, Ana*, 22 anos, estudante do 4º ano de Medicina, contou que foi abusada por dois garotos na festa “Cervejada”, no ano passado. Ela disse que foi pressionada a não denunciar o abuso, visto que isso "poderia prejudicar a carreira dos caras", mas não cedeu. Depois, no entanto, viu sua vida transformada num inferno. "Foi feita a apuração do caso, e o resultado é que o abuso tinha sido consensual, que o único problema era o álcool. Me senti humilhada. Após mais de um ano os caras continuam impunes e eu cruzo com eles quase todos os dias", afirmou. “Sou tida como uma vagabunda na faculdade.”Já a violência relatada por Maria ocorreu, primeiro, na festa de recepção dos calouros, quando foi abusada por um diretor da Associação Atlética Acadêmica Oswaldo Cruz (AAAOC); e depois na festa “Carecas no Bosque”, quando acordou em um hospital após ser estuprada por um funcionário terceirizado, desacordada - ela havia consumido uma bebida oferecida na festa. No geral, os relatos de violência envolvem, além da Atlética, o grupo Show Medicina.
Maria afirma que o inquérito policial contra o estuprador está na fase final, mas diz que apenas recentemente soube que diretores da Atlética conversaram com o agressor e com testemunhas do estupro logo após o crime – e que, inclusive, impediram a entrada da polícia na festa. “Quando eu acordei, no hospital, ninguém (da faculdade) me explicava o que tinha acontecido. Mas me aconselharam a tomar os medicamentos anti-retrovirais”, disse Maria, referindo-se ao coquetel contra HIV.
A fim de tentar dar fim à impunidade, Maria e Ana se juntaram a outras alunas da FMUSP – vítimas de abuso e solidárias à causa – e criaram, no final de 2013, o coletivo feminista Geni. De acordo com Ana Luiza Cunha, aluna do 3º ano da FMUSP e uma das fundadoras do Geni, as integrantes do grupo sofrem constante discriminação.
“Somos retratadas como loucas e histéricas, mas nós só estamos dando voz às pessoas que foram silenciadas durante muito tempo. São sempre as feministas que são ridicularizadas e atacadas nas redes sociais, nunca os agressores. Eu fico transtornada, estamos lidando com pessoas que supostamente integram a elite intelectual brasileira”, disse Ana Luiza. Segundo ela, o coletivo Geni já recebeu ao menos oito denúncias graves de estupro, que datam desde 2011.
Hierarquia e dominação
“O sexo é tratado como uma forma de dominação. O estupro não é pelo prazer, é pela violência. Então não fica difícil entender porque a gente tem essa cultura de estupro”, continuou Ana Luiza.O depoimento da estudante coincide com as conclusões sobre violência a que chegou Antônio Ribeiro de Almeida Júnior, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP, que desde 2001 estuda o fenômeno do trote. “São grupos de poder que usam o trote como processo de seleção para entrar em um grupo. É um mecanismo de exclusão, que não integra ninguém", afirmou Almeida Júnior.
Fonte: noticias.terra.com.br