Comunidade grita revoltada na chegada de trio de canibais ao júri

http://goo.gl/Ai3acs | Começou nesta quinta-feira (13), pouco antes das 10h, o júri popular - no Fórum de Olinda - de três acusados de canibalismo em Pernambuco. Jorge Beltrão Negromonte da Silveira, Isabel Cristina Torreão Pires e Bruna Cristina Oliveira da Silva serão julgados por homicídio quadruplamente qualificado, vilipêndio (violação) e ocultação do cadáver de Jéssica Camila da Silva Pereira, 17 anos, em maio de 2008. Eles também são acusados de duas outras mortes em Garanhuns, no Agreste do estado.

A promotora Elaine Gaia diz que a culpa deles é igual. “Vou pedir condenação máxima dos três. Nós temos provas suficientes para derrubar as teses de defesa. Ninguém estava obrigado a fazer nada, todos estavam livres. Se Isabel estava sendo forçada, ela tinha liberdade suficiente para procurar as autoridades oficiais, mas ela não fez isso em momento nenhum. Eles foram submetidos a testes psiquiátricos que provam que são normais”, afirmou.

A defesa de Jorge Beltrão será feita por Tereza Joacy, da Defensoria Pública, que chegou ao local pouco depois das 8h. A primeira testemunha a ser ouvida, às 10h, foi Lamartine Holanda, médico psiquiatra que analisou os três réus. A primeira testemunha a ser ouvida foi o médico psiquiatra Lamartine Hollanda Júnior, que avaliou os acusados na época em que foram presos. Ao ser questionado sobre a possível esquizofrenia de Jorge Beltrão, ele alegou que não o considerava esquizofrênico e não acredita que a doença existe. “Não cabe esse rótulo no caso dele. A observação mostrava que ele sabia o que fazia, sabia as consequências, planejava”, diz.

Em relação a Isabel Cristina e Bruna Cristina, o médico também alegou que elas não sofrem de distúrbios. “Ela [Isabel] é uma pessoa comum, sabe o que diz e o que faz. Ela sabia o que estava fazendo e busca, de algum modo, desculpas para se safar”, afirma. A próxima testemunha a depor é o delegado Paulo Berenguer.

A previsão da juíza Maria Segunda Gomes de Lima - como titular da 1ª Vara do Tribunal do Júri de Olinda, ela preside a sessão - é de que o julgamento acabe ainda nesta quinta. "É complexo porque envolve vários advogados e réus, mas é um julgamento normal, como qualquer outro. O que vai acontecer é que as provas do processo vão ser analisadas pelas partes, tanto pela defesa quanto pelo Ministério Público", explicou.

Paulo Sales, advogado de Isabel Cristina, alega que ela foi obrigada a participar do crime. “A participação era forçada e isso exclui o caráter ilícito. Ela tem que ter conhecimento da ilicitude. Foi uma obrigação de terceiro, esse terceiro teria forçado. Ela tem distúrbios mentais, mas não a ponto de ser insana”, disse. Ele vai pedir inocência por coação moral irresistível e resistível. A irresistível exclui a culpa e a resistível reduz a pena", afirma.

Revolta

Na chegada de Jorge, populares gritavam revoltados. "Vim de Abreu e Lima, deixei de trabalhar pra acompanhar. Eles merecem pena máxima, sou pai de duas crianças e isso que ela fizeram não existe", diz o auxiliar de eletricista Rafael Josafá.

No início da manhã, um homem chegou ao local acusando Jorge de ter matado o irmão dele. “Faz mais de 20 anos que se tenta condenar esse homem. Ele deu um tiro no meu irmão Luciano Severino da Silva, tirou o corpo do local, tirou a carteira dele, fugiu para Boa Viagem, foi para Natal e sumiu. Foi julgado há cinco anos, absolvido e está mais uma vez no banco dos réus. Se ele tivesse sido condenado essas inocentes não teriam sido esquartejadas e mortas. Meu irmão tava vendendo sorvete em Olinda, teve um arrastão, Jorge pegou a arma e atirou. Meu irmão estudava e trabalhava. Me sinto envergonhado”, conta.

Acusações

De acordo com a denúncia do Ministério Público de Pernambuco, a vítima, que tinha 17 anos na época do crime, foi assassinada pelos acusados em maio de 2008, no Loteamento Boa Fé 1, bairro de Rio Doce. Os réus, que atualmente estão presos, são acusados de ter esquartejado o corpo e guardado pedaços da carne para consumo humano, além de ter ocultado os restos mortais.

Após o crime, Bruna Cristina, uma das acusadas, assumiu a identidade de Jéssica Camila e o trio passou a criar a filha da vítima. Os três estão sendo acusados por homicídio quadruplamente qualificado (por motivo fútil, com emprego de meio cruel, sem dar chance de defesa à vítima e para assegurar impunidade, ocultação e outros crimes).

Um laudo técnico emitido em novembro passado atestou que os três não têm problemas mentais e, com isso, poderiam responder aos atos que cometeram. O homem e as duas mulheres foram avaliados pelo Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico (HCTP), em Itamaracá, na Região Metropolitana do Recife. Os acusados também respondem por duas mortes em Garanhuns, no Agreste do estado.

De acordo com o Tribunal de Justiça de Pernambuco, a sessão começa com sorteio dos jurados que vão compor o Conselho de Sentença. Em seguida, haverá a leitura da denúncia. Logo depois, as duas testemunhas serão ouvidas. O próximo passo será a ouvida dos réus. Terminada a fase de ouvidas, têm início os debates, que podem durar até nove horas.

Ao fim dessa etapa, os jurados recolhem-se, em sala reservada, para responder aos questionamentos que definirão se os réus serão condenados ou absolvidos. Por último, a magistrada retorna ao salão do júri para prolatar a sentença.

Entenda o caso

O inquérito relata que Jéssica Pereira era moradora de rua, tinha 17 anos, uma filha de um ano e aceitou viver com os acusados. Eles planejaram ficar com a criança depois de matar a mãe. Em Garanhuns, as vítimas foram Giselly Helena da Silva, 31 anos, e Alexandra Falcão da Silva, 20 anos, mortas, respectivamente, em fevereiro e março de 2012.

De acordo com a polícia, a carne dos corpos das vítimas era fatiada, guardada na geladeira e consumida pelo trio. A criança, inclusive, também teria comido da carne da mãe. Eles teriam até utilizado parte da carne das vítimas para rechear coxinhas e salgadinhos que vendiam em Garanhuns.

Os acusados afirmam fazer parte da seita Cartel, que visa a purificação do mundo e o controle populacional. A ingestão da carne faria parte do processo de purificação. O caso veio a público depois que parentes de Giselly Helena da Silva denunciaram o seu desaparecimento. Os acusado usaram o cartão de crédito da vítima em lojas de Garanhuns e foram rastreados pela polícia. Uma publicação contendo os detalhes dos crimes - registrada em cartório - foi encontrada na casa dos réus. Para a Polícia Civil de Pernambuco, não há possibilidade de outras mortes terem sido praticadas pelo trio no estado.

Fonte: g1.globo.com

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