http://goo.gl/gqRPNI | Os trotes ocorridos em universidades são violações difíceis de punir e de encontrar culpados. Para o professor Antonio Ribeiro de Almeida Junior, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), esses eventos são, em geral, violentos e, muitas vezes, processos enraizados e históricos em algumas instituições. Ele foi ouvido esta semana em audiência pública na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).
“São grupos de poder que usam o trote como processo de seleção para entrar no grupo. O trote é um mecanismo de exclusão e divide os alunos, às vezes para o resto da vida. A cultura do trote é bárbara e uma porta escancarada para o processo de corrupção que temos na sociedade”, disse o professor.
Segundo ele, que estuda os trotes em universidades desde 2001, esses eventos são mais comuns em cursos que conferem mais status social. “Quais faculdades são as mais problemáticas? As que dão muito status social, como as faculdades de medicina, de engenharia e de direito, que dão poder social àqueles que entram nesses grupos.”
Para Heloisa Buarque de Almeida, antropóloga da USP, é difícil achar culpados. “Diferentemente dos casos de estupro, é muito mais difícil achar quem são os culpados [nos trotes] porque são rituais em que o próprio aluno que agride o calouro já foi, no passaod, o calouro que sofreu violência. São rituais muito estabelecidos e naturalizados nessas universidades”, avalia a antropóloga.
Muitos dos casos de violência denunciados dentro da Faculdade de Medicina da USP ocorreram em festas organizadas por movimentos ou centros estudantis. Para a integrante do coletivo feminista Geni, criado no ano passado na Faculdade de Medicina para apoiar mulheres vítimas de violência, as denúncias recebidas pelo grupo “perpassam todas as instituições [associações de alunos e centros acadêmicos] ao longo de diversos anos”. “É um problema estrutural e não pontual da faculdade. São materializações da cultura machista e violenta”, enfatiza.
O atual presidente do Centro Acadêmico Oswaldo Cruz (Caoc), representação estudantil dos alunos de medicina da USP, Murilo Germano Sales da Silva, nega ter presenciado eventos de violência dentro da faculdade. “Nunca percebi nenhum tipo de violência ou agressão dentro da faculdade. Nunca pratiquei e nunca vi ninguém sendo agredido. Mas, em todo caso, esses relatos causam perplexidade. Não ignoro que as denúncias podem ser verdadeiras, mas isso não é uma prática institucional”, defende.
“O Show Medicina [espetáculo teatral humorístico na faculdade] não foi feito para causar trotes, nem a Atlética [clube fundado por alunos da Faculdade de Medicina que costuma organizar festas]. Mas se algum indivíduo fez isso, o papel das instituições é proibir que isso ocorra”, disse ele durante a audiência pública esta semana.
Diante das denúncias de estupro e outras violações, a Faculdade de Medicina da USP decidiu proibir festas e a venda de bebidas alcoólicas no campus por tempo indeterminado.
Para Heloísa, no entanto, a solução dada pela faculdade não é eficiente, já que as bebidas não são culpadas pela violência. “O uso excessivo de bebidas ou de drogas podem ser um problema, mas não são os responsáveis pela violência. É importante que se tenham festas para que as pessoas possam confraternizar. Isso não é ruim. Mas se a festa se torna um lugar de violência, temos que pensar no que fazer com relação a isso”, diz.
Fonte: veja.abril.com.br
“São grupos de poder que usam o trote como processo de seleção para entrar no grupo. O trote é um mecanismo de exclusão e divide os alunos, às vezes para o resto da vida. A cultura do trote é bárbara e uma porta escancarada para o processo de corrupção que temos na sociedade”, disse o professor.
Segundo ele, que estuda os trotes em universidades desde 2001, esses eventos são mais comuns em cursos que conferem mais status social. “Quais faculdades são as mais problemáticas? As que dão muito status social, como as faculdades de medicina, de engenharia e de direito, que dão poder social àqueles que entram nesses grupos.”
Para Heloisa Buarque de Almeida, antropóloga da USP, é difícil achar culpados. “Diferentemente dos casos de estupro, é muito mais difícil achar quem são os culpados [nos trotes] porque são rituais em que o próprio aluno que agride o calouro já foi, no passaod, o calouro que sofreu violência. São rituais muito estabelecidos e naturalizados nessas universidades”, avalia a antropóloga.
Muitos dos casos de violência denunciados dentro da Faculdade de Medicina da USP ocorreram em festas organizadas por movimentos ou centros estudantis. Para a integrante do coletivo feminista Geni, criado no ano passado na Faculdade de Medicina para apoiar mulheres vítimas de violência, as denúncias recebidas pelo grupo “perpassam todas as instituições [associações de alunos e centros acadêmicos] ao longo de diversos anos”. “É um problema estrutural e não pontual da faculdade. São materializações da cultura machista e violenta”, enfatiza.
O atual presidente do Centro Acadêmico Oswaldo Cruz (Caoc), representação estudantil dos alunos de medicina da USP, Murilo Germano Sales da Silva, nega ter presenciado eventos de violência dentro da faculdade. “Nunca percebi nenhum tipo de violência ou agressão dentro da faculdade. Nunca pratiquei e nunca vi ninguém sendo agredido. Mas, em todo caso, esses relatos causam perplexidade. Não ignoro que as denúncias podem ser verdadeiras, mas isso não é uma prática institucional”, defende.
“O Show Medicina [espetáculo teatral humorístico na faculdade] não foi feito para causar trotes, nem a Atlética [clube fundado por alunos da Faculdade de Medicina que costuma organizar festas]. Mas se algum indivíduo fez isso, o papel das instituições é proibir que isso ocorra”, disse ele durante a audiência pública esta semana.
Diante das denúncias de estupro e outras violações, a Faculdade de Medicina da USP decidiu proibir festas e a venda de bebidas alcoólicas no campus por tempo indeterminado.
Para Heloísa, no entanto, a solução dada pela faculdade não é eficiente, já que as bebidas não são culpadas pela violência. “O uso excessivo de bebidas ou de drogas podem ser um problema, mas não são os responsáveis pela violência. É importante que se tenham festas para que as pessoas possam confraternizar. Isso não é ruim. Mas se a festa se torna um lugar de violência, temos que pensar no que fazer com relação a isso”, diz.
Fonte: veja.abril.com.br