Aprovada pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2014, Santos vai ingressar no curso de Letras, com habilitação em Libras, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Aos 22 anos, ela iniciou os estudos em Matemática e, aos 43, em Artes, na mesma universidade.
Desta vez ela passou na 2ª chamada e garante que já aprendeu a driblar o nervosismo, tão comum aos mais jovens. “Na minha idade, não ficamos mais tão ansiosas. Quando fiz Matemática, escutei o resultado pelo rádio, na segunda vez também, mas em todas eu já sabia que iria passar, inclusive nessa. Não estou sendo prepotente, porque sempre tive consciência do que estava me propondo a fazer e foi assim agora também”, afirmou.
A juiz-forana tem duas filhas, de 21 e 29 anos, que puderam ver e participar da evolução da mãe dentro de casa. Como não podia deixar de ser, seguiram o mesmo caminho – o da educação. “A mais velha fez Turismo, depois um curso técnico em Segurança do Trabalho e vai se formar, ainda este ano, em Direito. A mais nova está no 6º período de Jornalismo, todos pela UFJF”, contou.
Atualmente, a professora tem dois empregos. Pela Prefeitura da cidade, dá aula de Artes para crianças do pré-escolar ao 4º ano. Já pela Secretaria de Estado de Educação (SEE) de Minas Gerais, é responsável por duas turmas de Ensino Médio pela Educação de Jovens e Adultos (EJA).
O convívio com tantas pessoas jovens faz com que ela encare a nova graduação da maneira mais natural possível, mesmo já estando na terceira idade. “Eu me sinto igual a eles. No curso de Artes, eu fiquei muito sem jeito, não sabia bem como seria, mas quando cheguei na sala de aula, foi normal, muito legal. O meu convívio com os universitários é ótimo”, disse.
Levando em consideração as trajetórias das três mulheres da família, fica claro que o prazer em estudar é uma característica comum a todas, assim como o apoio mútuo, que a mãe narrou com orgulho. “Nós não somos muito inteligentes, não tem nenhum gênio aqui. Somos esforçadas, estudiosas e corremos atrás. Nós lemos e estudamos muito, é um costume da família, temos uma minibiblioteca em casa. Também nos relacionamos com pessoas instruídas e isso facilita. O apoio é muito recíproco, elas me incentivaram, me ajudaram demais. Agora, em nossa casa, moram três universitárias”, explicou.
Sua tese é comprovada pelas colegas de trabalho que, inspiradas em sua última conquista, já estão se desbravando pelo caminho do conhecimento, sem se preocupar com a diferença de idade dentro da Universidade. “A diferença é grande mesmo e eu acho muito legal. Isso (a aprovação na UFJF) tem influenciado as meninas do trabalho. Elas pensam que, se eu consegui, por que elas não conseguiriam? Tem duas mulheres que trabalham comigo e vão fazer Enem neste final de semana, por exemplo”, citou.
A nova aluna de Letras vai estudar à noite, no mesmo horário em que dá aulas pelo Estado, mas já sabe o que pretende fazer para não abandonar nenhuma atividade. “Vou fazer um malabarismo, já estou pensando em tudo. No dia 26 mesmo eu já não vou poder ir, porque tenho aula marcada, mas eu vou me ajeitar e a Letícia (filha mais nova) vai me dar carona todos os dias. Na prática, vai dar tudo certo”, concluiu, animada.
Calendário atípico na UFJF
Na segunda, cerca de 1.800 calouros começam a estudar na UFJF. Junto aos mais de 16 mil, que compõe o corpo estudantil da instituição atualmente, eles vão encarar um semestre atípico, por causa da suspensão do calendário acadêmico, que só deve terminar em março de 2016. A universidade já anunciou as datas de recesso de final de ano, entre 21 de dezembro e 4 de janeiro.Para recepcionar e tirar dúvidas dos novos alunos, a UFJF preparou diversas sessões de bate-papos, que deverão acontecer entre os dias 27 e 29 de outubro.
O Enem acontece nos dias 24 e 25 de outubro, em todo o país. As notas do exame garantem a disputa dos candidatos em todas as chamadas para ingresso na UFJF. A Secretaria de Transporte e Trânsito (Settra) da cidade vai disponibilizar horários extras de ônibus para atender os estudantes que participam das provas.
Fonte: G1