http://goo.gl/lJpVKr | Quinta-feira (22) foi um dia cinzento em São Paulo (SP) e na vida de Alline Gomes, 25 anos. Ela e a filha, Valentina, de 2 anos e 4 meses, moram sozinhas na cidade, sem parentes por perto, e aquele dia seria como todos os outros: Alline levaria a menina na escola e seguiria para a faculdade Uninove Santo Amaro, onde cursa Direito.
Mas um imprevisto aconteceu: a escola de Valentina, no bairro do Brooklin, estava enfrentando falta de água desde domingo (18) e pediu que os alunos ficassem em casa. Sem ter com quem deixar a filha, Alline decidiu ir com a menina à faculdade, porque teria uma aula importante e precisava entregar um trabalho acadêmico.
Mas, ao chegar à Uninove, Alline conta que foi perseguida por seguranças, rodeada por alunos, impedida por uma professora de entrar na sala de aula e ainda acabou levando uma suspensão. Tudo porque foi ao local com a filha.
A seguir, confira depoimento na íntegra, que Alline concedeu à CRESCER por telefone:
“Eu tenho 25 anos, sou empresária, formada em ciências econômicas e estudante do primeiro ano de Direito na Uninove unidade Santo Amaro. Sou mãe de Valentina, de 2 anos e 4 meses. Eu e minha filha vivemos em São Paulo (SP) sozinhas, sem familiares por perto. Desde o útimo domingo (18) a escola da minha filha, que fica no bairro do Brooklin, está enfrentando falta de água. Na segunda-feira, eles até receberam as crianças, mas na terça, na quarta e na quinta não foi possível, porque sem água não tinha condições. Mandaram as crianças ficarem em casa.
Na terça, consegui deixar minha filha com uma amiga minha, para que eu pudesse estudar de manhã e trabalhar à tarde. Na quarta-feira, eu faltei à aula para ficar com a Valentina. Mas ontem, quinta-feira (22), eu não tinha com quem deixá-la e não podia faltar na faculdade, porque precisava entregar um trabalho e assistir a uma aula importante.
Então, decidi levá-la comigo à aula. Claro que eu teria o bom senso de sair da sala caso a minha filha atrapalhasse a aula. Se isso acontecesse, eu iria me retirar.
Eu estava com a minha carteirinha de estudante em mãos para passar pela catraca [da faculdade] quando dois seguranças se colocaram na minha frente, me impedindo de entrar: “Você não pode entrar aqui, não”. Eu disse que ia entrar, sim, e me dirigi a um balcão lateral, onde falei com uma atendente. A moça disse: “Você não vai entrar e acabou”.
Eu respondi que ia entrar porque precisava pelo menos entregar o trabalho e trocar a fralda da minha filha. Nisso, eles ficaram sem saber o que fazer.
A minha sala de aula fica no terceiro andar. Eu subi as escadas rolantes com os seguranças em volta de mim e entrei no banheiro para trocar minha filha. Ela estava meio assustada. Ficou no meu colo o tempo todo. Quando saímos do banheiro, dei de cara com os seguranças na porta e mais um monte de alunos em volta deles. Eu comecei a ficar mais nervosa.
Uma monitora da faculdade se aproximou de mim, perguntou o meu nome e disse que a faculdade não estava preparada para receber crianças. Mesmo assim, eu tentei ir para a sala de aula. A professora para quem eu ia entregar o meu trabalho já tinha saído da aula e outra havia entrado. Eu bati na porta e a professora, de direito penal, disse: “Você não pode entrar na sala com sua filha e, como estudante de Direito, você deveria saber disso”. Aí ela fechou a porta e não me deixou entrar.
Decidi então falar com a coordenadora do curso de Direito. Ali eu chorei. Chorei muito. Os seguranças ficaram para fora. Eu expliquei a situação, e ela começou a conversar comigo. Ela me disse que era proibido levar criança para a faculdade.
Então falei: “Mas eu tenho amigos que estudam na USP e levam as crianças quando precisam”. E ela respondeu: “Mas aqui é particular. Não pode. Você assinou um contrato que diz isso. Você sabe que não pode entrar com criança”.
Ela me mostrou onde estava escrito aquilo e me disse que, de acordo com as regras, eu teria que receber três dias de suspensão. Mas a coordenadora foi maleável, e decidiu que só me daria um. Eu não concordei, mas entendo que ela não tem autonomia e apenas cumpre regras.
No final, ganhei uma suspensão de um dia e saí da faculdade escoltada pelos seguranças. Um absurdo. Eu não queria que minha filha tivesse passado por isso. Foi muito constrangedor. Nunca passei por nada igual.
Quando saí da faculdade, eu sentei na escada e chorei mais. Minha filha olhou pra mim e disse: “Não precisa chorar, mamãe”.
Agora estou mais calma. Eu entendo que existem regras. Mas foi uma exceção. E as exceções também existem. A gente vê professores de faculdades de outros países acolhendo os filhos das alunas na sala de aula... E, aqui, não queriam sequer me deixar entrar. Na outra faculdade que cursei, já presenciei cenas de crianças na sala, numa boa.
Nós, mães, muitas vezes perdemos vagas em empresas pelo simples fato de sermos mães. E agora isso na faculdade? Cadê a consideração? Que valores são esses?
Ser mãe solteira é difícil. As pessoas julgam muito. Eu só queria terminar o meu curso, dar um futuro melhor para a minha filha. Já passei por muita coisa, mas nunca me senti tão constrangida em toda a minha vida."
CRESCER entrou em contato com a assessoria de imprensa da Uninove nesta sexta (23) pela manhã, mas até o fechamento desta reportagem a instituição não havia se pronunciado.
Fonte: revistacrescer.globo.com
Mas um imprevisto aconteceu: a escola de Valentina, no bairro do Brooklin, estava enfrentando falta de água desde domingo (18) e pediu que os alunos ficassem em casa. Sem ter com quem deixar a filha, Alline decidiu ir com a menina à faculdade, porque teria uma aula importante e precisava entregar um trabalho acadêmico.
Mas, ao chegar à Uninove, Alline conta que foi perseguida por seguranças, rodeada por alunos, impedida por uma professora de entrar na sala de aula e ainda acabou levando uma suspensão. Tudo porque foi ao local com a filha.
A seguir, confira depoimento na íntegra, que Alline concedeu à CRESCER por telefone:
“Eu tenho 25 anos, sou empresária, formada em ciências econômicas e estudante do primeiro ano de Direito na Uninove unidade Santo Amaro. Sou mãe de Valentina, de 2 anos e 4 meses. Eu e minha filha vivemos em São Paulo (SP) sozinhas, sem familiares por perto. Desde o útimo domingo (18) a escola da minha filha, que fica no bairro do Brooklin, está enfrentando falta de água. Na segunda-feira, eles até receberam as crianças, mas na terça, na quarta e na quinta não foi possível, porque sem água não tinha condições. Mandaram as crianças ficarem em casa.
Na terça, consegui deixar minha filha com uma amiga minha, para que eu pudesse estudar de manhã e trabalhar à tarde. Na quarta-feira, eu faltei à aula para ficar com a Valentina. Mas ontem, quinta-feira (22), eu não tinha com quem deixá-la e não podia faltar na faculdade, porque precisava entregar um trabalho e assistir a uma aula importante.
Então, decidi levá-la comigo à aula. Claro que eu teria o bom senso de sair da sala caso a minha filha atrapalhasse a aula. Se isso acontecesse, eu iria me retirar.
Eu estava com a minha carteirinha de estudante em mãos para passar pela catraca [da faculdade] quando dois seguranças se colocaram na minha frente, me impedindo de entrar: “Você não pode entrar aqui, não”. Eu disse que ia entrar, sim, e me dirigi a um balcão lateral, onde falei com uma atendente. A moça disse: “Você não vai entrar e acabou”.
Eu respondi que ia entrar porque precisava pelo menos entregar o trabalho e trocar a fralda da minha filha. Nisso, eles ficaram sem saber o que fazer.
A minha sala de aula fica no terceiro andar. Eu subi as escadas rolantes com os seguranças em volta de mim e entrei no banheiro para trocar minha filha. Ela estava meio assustada. Ficou no meu colo o tempo todo. Quando saímos do banheiro, dei de cara com os seguranças na porta e mais um monte de alunos em volta deles. Eu comecei a ficar mais nervosa.
Uma monitora da faculdade se aproximou de mim, perguntou o meu nome e disse que a faculdade não estava preparada para receber crianças. Mesmo assim, eu tentei ir para a sala de aula. A professora para quem eu ia entregar o meu trabalho já tinha saído da aula e outra havia entrado. Eu bati na porta e a professora, de direito penal, disse: “Você não pode entrar na sala com sua filha e, como estudante de Direito, você deveria saber disso”. Aí ela fechou a porta e não me deixou entrar.
Decidi então falar com a coordenadora do curso de Direito. Ali eu chorei. Chorei muito. Os seguranças ficaram para fora. Eu expliquei a situação, e ela começou a conversar comigo. Ela me disse que era proibido levar criança para a faculdade.
Então falei: “Mas eu tenho amigos que estudam na USP e levam as crianças quando precisam”. E ela respondeu: “Mas aqui é particular. Não pode. Você assinou um contrato que diz isso. Você sabe que não pode entrar com criança”.
Ela me mostrou onde estava escrito aquilo e me disse que, de acordo com as regras, eu teria que receber três dias de suspensão. Mas a coordenadora foi maleável, e decidiu que só me daria um. Eu não concordei, mas entendo que ela não tem autonomia e apenas cumpre regras.
No final, ganhei uma suspensão de um dia e saí da faculdade escoltada pelos seguranças. Um absurdo. Eu não queria que minha filha tivesse passado por isso. Foi muito constrangedor. Nunca passei por nada igual.
Quando saí da faculdade, eu sentei na escada e chorei mais. Minha filha olhou pra mim e disse: “Não precisa chorar, mamãe”.
Agora estou mais calma. Eu entendo que existem regras. Mas foi uma exceção. E as exceções também existem. A gente vê professores de faculdades de outros países acolhendo os filhos das alunas na sala de aula... E, aqui, não queriam sequer me deixar entrar. Na outra faculdade que cursei, já presenciei cenas de crianças na sala, numa boa.
Nós, mães, muitas vezes perdemos vagas em empresas pelo simples fato de sermos mães. E agora isso na faculdade? Cadê a consideração? Que valores são esses?
Ser mãe solteira é difícil. As pessoas julgam muito. Eu só queria terminar o meu curso, dar um futuro melhor para a minha filha. Já passei por muita coisa, mas nunca me senti tão constrangida em toda a minha vida."
CRESCER entrou em contato com a assessoria de imprensa da Uninove nesta sexta (23) pela manhã, mas até o fechamento desta reportagem a instituição não havia se pronunciado.
Fonte: revistacrescer.globo.com