Inadimplência no ensino superior deve fechar 2015 com alta de 22% na universidade privada

http://goo.gl/cEP4JO | A inadimplência no ensino superior deve fechar 2015 com alta de 22%, revertendo pela primeira vez o ciclo de baixa do indicador, que não crescia desde 2010. A alta do desemprego e da inflação tem pressionado os estudantes e os recursos para levar adiante o sonho do ensino superior e de um melhor lugar no mercado de trabalho. Levantamento do site Mercado Mineiro mostra que em Belo Horizonte o reajuste das mensalidades chega a até 13%, como é o caso do curso de medicina. Segundo o Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep-MG), o reajuste do ensino superior em 2016 deve ficar entre 8% e 14% no estado.

A expectativa do setor é que a inadimplência feche 2015 em 9,5%, contra 7,8% no ano passado. Ao longo desse semestre o patamar atingiu níveis bem mais altos, mas no fim do ano há um movimento dos estudantes para negociar as mensalidades em atraso, caso contrário podem não conseguir continuar os estudos no ano seguinte. Não fosse o mutirão para pagar as dívidas o índice seria ainda mais alto. “Ao longo desse semestre a inadimplência chegou a atingir o alarmante patamar de 40% em cursos noturnos e chegou a 20% nos diurnos. Geralmente, o aluno que estuda à noite, trabalha durante o dia para pagar a mensalidade e esse estudante foi o mais pressionado pelo desemprego”, justifica Emiro Barbini, presidente do Sinep-MG.

Como mostrou reportagem do Estado de Minas publicada em 25 de novembro, quase um quinto da população jovem brasileira de 18 a 24 anos – 19,7% – está desempregada. Para piorar a situação dos estudantes, fazer a matrícula no semestre que vem vai ficar ainda mais caro. Segundo levantamento do site Mercado Mineiro, as primeiras faculdades e universidades que já reajustaram as mensalidades aplicaram índices acima da média da inflação projetada para este ano. Exemplo: o curso de administração noturno na Faculdade Arnaldo subirá de R$ 1.146 para R$ 1.294, alta de 12,91%. Na Faculdade de Ciências Médicas, cursar medicina passará de R$ 4.994 para R$ 5.643, reajuste de 12,99%.

No orçamento Mesmo para quem está em dia com a mensalidade, arcar com o peso da escola, é um desafio para as famílias que não contam com financiamentos ou bolsas, como é o caso da servidora pública Hilda Mesquita Zschaber que paga o valor integral da mensalidade da Faculdade de Medicina onde sua filha Mariana Zschaber estuda desde janeiro de 2014, no interior do estado. “Se pensarmos muito em todos os gastos para formar um filho em medicina em uma faculdade particular, acabamos parando no meio do caminho. Planejo os gastos pensando em um semestre de cada vez. A prioridade é o ensino dos meus filhos, então cortamos outros gastos da família para honrar os compromissos dos estudos. “Vale o esforço”, diz.

Ainda de acordo com a servidora pública, além da mensalidade, ela gasta cerca de R$ 1500 por mês com alimentação, moradia, gastos com livros e xerox para a filha estudar em Barbacena. "Como meu filho estudou em uma universidade federal, já ameniza um pouco e conseguimos equilibrar as contas. A Faculdade de Barbacena oferece um financiamento para pagar o curso, mas acho que não vale a pena. Os juros são muito altos: o INPC mais 3%", salienta.

Sem crédito Com a redução do Fundo de Financiamento estudantil (Fies) a possibilidade de custeio do curso superior utilizando o crédito encolheu em 50%. Em 2014 foram 730 mil novos contratos, número que caiu para 300 mil esse ano. Rodrigo Capelato, diretor-executivo do Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior (Semesp), diz que as instituições estão buscando algumas alternativas. “O crédito privado ainda é muito caro para o estudante brasileiro, as taxas de juros alcançam quase 30% ao ano”, comenta.

Segundo Capelato muitas instituições no Brasil estão aderindo ao financiamento próprio dos estudantes, onde os alunos arcam com 50% do valor da mensalidade pagando o restante depois da formatura, o que dobra o tempo de pagamento mas reduz o valor das parcelas. “Outra alternativa é que as instituições possam captar recursos no mercado e financiar os estudantes com taxas mais baratas do que o juros cobrados pelas instituições financeiras.”

Equação de difícil solução

A combinação de crise econômica, desemprego e inflação deve trazer outro indicador ruim para a educação no país, o crescimento da evasão no ensino superior. “Temos estudos que mostram que a taxa de evasão entre os estudantes do Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) é quatro vezes menor”, diz o diretor-executivo do Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior (Semesp), Rodrigo Capelato. O estudo demonstra que o custeio é muito relevante para se chegar à formatura.

Emiro Barbini, presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep-MG), aponta que as instituições estão em uma encruzilhada, atravessando um de seus “piores momentos”. Segundo o executivo, o reajuste é um dilema: “Se as instituições têm medo e não corrigem as mensalidades podem não se sustentar diante da inflação de seus custos, se reajustam podem perder o aluno.” Segundo levantamento da Serasa Experian, entre as consequências diretas do aumento da inadimplência entre os alunos está a inadimplência das contas das escolas. Pelo estudo, o atraso nos pagamentos das faculdades entre janeiro e junho teve aumento de 25,3%.

A servidora pública Hilda Mesquita Zschaber, que arca com mensalidade da filha Mariana Zschaber na Faculdade de Medicina, conta que o reajuste da mensalidade para o próximo semestre na faculdade foi de pouco mais de 7%, negociado entre o presidente da faculdade e os alunos do Diretório Acadêmico (DA). Na negociação ficou definido que o reajuste seria menor, mas algumas facilidades que os alunos tinham seriam cortadas, como o subsídio no xerox, o segundo jaleco fornecido pela faculdade, entre outros.

NO VERMELHO Segundo números da Serasa Experian, no primeiro semestre de 2015, a inadimplência entre os estudantes do ensino superior teve alta de 22,4% no comparativo com igual período do ano passado – o indicador não considera a variação do número de alunos. Em igual período do ano passado, havia sido registrado recuo de 0,9%. O economista da Serasa Experian, Luiz Rabi, afirma que o crescimento da inadimplência nos seis primeiros meses do ano está associado ao crescimento da inflação no período. “A inflação de dois dígitos foi construída principalmente no primeiro semestre”, afirma. Com um cenário de aumento do desemprego no segundo semestre, segundo ele, a perspectiva é de piora do indicador referente ao período. “A inflação corrói a renda; o desemprego destrói a renda”, afirma.

Por não causar tanto impacto na rotina dos estudantes, o pagamento das mensalidades da instituição de ensino superior não é tida como prioritária a partir do momento em que o estudante precisa escolher quais contas vai pagar primeiro. “O ensino tem muitas salvaguardas. O aluno não pode ser impedido de assistir a aula. Só de fazer matrícula no semestre seguinte”, afirma o economista. Nesse sentido, as contas prioritárias são as de banco, água e energia elétrica, dado os transtornos resultantes do bloqueio de um dos serviços.

Por Marinella Castro
Fonte: em.com.br
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