Afinal de contas: nossos concursos medem a aptidão para o cargo? - Por Wagner Francesco

goo.gl/QgNa6X | No domingo passado (02/04) eu passei por uma experiência ruim: perdi na prova da OAB. Depois de muito tempo estudando e perdendo noite, na hora do "vamos ver", em menos de duas horas de prova eu já estava nervoso e desconcentrado - ao final, questões que eu tinha marcado certo no caderno eu passei errado para o gabarito. Minhas suspeitas estavam corretas: a prova mede mais a resistência psicológica que o conhecimento. Mas sem ficar na minha lamúria, porque lugar de chorar é com a cara nos livros, sigamos para a grande questão dessa nossa reflexão hoje.

Afinal de contas, nossos concursos medem a aptidão do sujeito para o cargo?

Muita gente se dedicou para estudar pra o concurso do Ministério Público de Minas Gerais, que também aconteceu ontem (02/04) e, depois de gastar muitas horas, muito dinheiro, estudando pra o concurso se depara com uma questão sobre "A teoria da Graxa". Eu fui pesquisar e pasmem: a teoria contrária a Teoria da Graxa se chama "Teoria da Bola de Neve".

Duas teorias para explicar a corrupção:

A teoria da Graxa diz que existem corrupções boas, que são aquelas que ajudam o sistema a se movimentar - pense, por exemplo, em obras públicas que são feitas por mero interesse político. Assim, todo aquele político que "rouba, mas faz", é adepto da Teoria da Graxa.

A Teoria da Bola de Neve, por seu turno, propõe que qualquer ato de corrupção, em qualquer grau e por qualquer motivo, atrai mais corrupção. Corrupção é corrupção e acabou a conversa.

A questão é: vamos falar sério? Uma questão dessa avalia a aptidão de alguém para o cargo? A gente tá querendo membros do MP que saibam essas viagens teóricas aí? Aí pessoa senta numa cadeira, por 5 horas, vendo só papel branco e letra preta, com questões enormes, cheias de pegadinhas e, não bastasse isso, ainda se depara com uma questão dessa...

Lênio Streck é um contumaz crítico do modelo que temos de concurso. Segundo ele, temos um

[...] círculo vicioso e não virtuoso. Os concursos repetem o que se diz nos cursinhos, um conjunto de professores produz obras que são indicadas/utilizadas nos cursos de preparação, que por sua vez servem de guia para elaborar as questões que são feitas por aqueles que são responsáveis pela elaboração das provas (terceirizados — indústria que movimenta bilhões e os próprios órgãos da administração pública).

E afirma mais

por ter se tornado um “fim em si mesmo”, o atual modelo de prova acabou por criar concursos que selecionam “pessoas que têm mais aptidão para fazer prova de concurso” em detrimento de pessoas com aptidões reais para o desempenho da função.

E pois é! E não estou propondo o fim das provas objetivas. De modo algum. A proposta é que seja mais inteligente, e não, como denuncia ainda o Lênio Streck, "um quiz show, um conjunto de pegadinhas para responder coisas que só assumem relevância porque são ditas pelos professores de cursos de preparação para ingresso nas diferentes carreiras do serviço público".

Precisamos repensar como as provas estão sendo aplicadas, quem está lucrando com essa indústria de (reprovação em) Concursos Públicos e o quanto tudo isso é ruim para o país e para o Serviço Público.

E quanto a mim, resta estudar mais um pouco e aprender a se concentrar, porque conhecimento na prova da OAB é 40%, o resto é preparo psicológico. Quem for um bom respondedor de provas passa de olho fechado - o problema é que olhos fechados não fazem bons advogados.

Mas como dizia Machado de Assis: aos vencedores, as batatas. Parabéns a todos os aprovados na primeira fase da OAB e no Concurso do MP.

Por Wagner Francesco
Fonte: Jus Brasil
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