goo.gl/ENtgMR | O Tribunal do Júri de Franca se reuniu ontem para julgar um dos crimes de maior repercussão já cometidos na região. Jane Aparecida Jardim sentou-se no banco dos réus acusada de torturar e matar o próprio filho Adriano Henrique Jardim Ramos, 5. O então marido dela, Tiago Rodrigues, também foi julgado por duas acusações de tortura. Ambos foram condenados.
O júri atraiu a atenção de centenas de pessoas. Estudantes de Direito, estagiários, advogados, conselheiros tutelares, policiais e jornalistas acompanharam o julgamento. Muitos tiveram de ficar de pé.
Responsável pela acusação, o promotor de Justiça Odilon Nery Comodaro usou as duas horas e trinta minutos a que tinha direito para tentar convencer os jurados de que Jane não gostava de Adriano e que teve a intenção de matá-lo. Ele exibiu fotos do menino entubado e imagens dos laudos feitos pela polícia que constatavam as lesões sofridas por ele. “A Jane mordia, queimava e espancava o filho. Ela matou o Adriano com emprego de muita violência. A criança teve morte por politraumatismo. Estamos lidando com um monstro.”
O promotor também exibiu o depoimento que Cauã, filho de Jane, que tinha 11 anos na época dos fatos, prestou durante a fase de interrogatórios. O relato de 20 minutos provou comoção. “A Jane não é mais minha mãe”, sentenciou o garoto, que contou detalhes de castigos que recebiam.
O menino disse que a mãe chegou a amarrar Adriano com corda em um tronco e que o padrasto já havia feito o irmão comer as próprias fezes e o vômito. “Eles faziam isso só porque ele não queria comer. Um dia, o Tiago pegou um vidro de pimenta e fez o Adriano comer tudo. Ele ficou com a boca queimada.”
Usando um agasalho e o uniforme da Penitenciária de Tremembé, onde está desde a época do crime, Jane chorou várias vezes e negou que tenha espancado o filho. “Não bati com a vassoura nem queimei ele com cigarro. Jamais faria uma coisa dessas. Não queria matar o meu filho. De forma alguma.” Em nenhum momento, ela disse que se arrependeu ou se gostava do filho.
A defesa usou a estratégia de explorar a história de vida de Jane e fez perguntas que remeteram à sua infância e adolescência. Ela disse que foi obrigada a sair de casa aos 12 anos e que teria sido abusada pelo padrasto.
A advogada Aparecida Capela pediu que Jane não fosse condenada por homicídio e, sim, por lesão corporal seguida de morte. “Dizer que ela quis matar, torturar, é muito pesado. Foi uma atitude exacerbada de mãe que quis corrigir.”
A defesa de Tiago sustentou que não havia provas de que ele torturava os dois meninos.
Às 15h35, o juiz José Rodrigues Arimatéa leu a sentença. Jane foi condenada por homicídio triplamente qualificado e por tortura. A pena somada é de 17 anos, oito meses e 20 dias de reclusão em regime inicial fechado. Ela não poderá recorrer em liberdade. Tiago foi condenado pelos dois crimes de tortura. A pena dele foi fixada em 4 anos e oito meses de reclusão. O regime inicial é aberto e ele poderá recorrer em liberdade.
“Não consigo nem pensar direito. Estou chorando. Nossa, como ela pode pegar só 17 anos e oito meses e ele ficar em liberdade? O Adriano era só uma criança indefesa. Ela deveria pegar a pena máxima. Vou pedir ao promotor que recorra”, lamentou Andréa Marques, madrasta de Adriano.
'Ela quis apenas corrigir', diz advogada de Jane Jardim
A advogada Aparecida Capela e o filho dela, Fábio, foram os responsáveis pela defesa de Jane Jardim. Marlon Cléber e Braz Profiro defenderam Tiago Rodrigues.
A defesa de Jane sustentou que ela sofreu abusos na adolescência e que não teve a intenção de matar Adriano. Ela tentou convencer os jurados de que teria ocorrido o crime de lesão corporal seguido de morte, que tem pena mais branda, e não homicídio triplamente qualificado, como defendia o Ministério Público.
“A Jane quis apenas corrigir. Não tem características que ela espancou com ódio. Não existe isso. Não torturou até a morte. Não podemos ser sensacionalistas. Não podemos condenar uma mãe que ficou com raiva e bateu no filho. A criança morreu porque caiu e bateu a cabecinha no chão.”
Aparecida Capela disse que Jane exagerou, pois estava nervosa. “A Jane já está sendo julgada e condenada por ter perdido o filho que amava. Já paga o preço da morte do filho. Não teve o direito de ver o enterro do filho, pois estava presa.”
Os advogados de Tiago sustentaram que ele não cometeu torturas e que apenas corrigiu os filhos. “Ele agiu com excesso, mas não quis torturar. Não há nenhuma prova. Ele não teve esta intenção”, disse Marlon Cléber.
Comodaro exibiu o vídeo do depoimento de Jane à polícia. Ela disse que não conseguia sentir nada por Adriano. Um policial perguntou se Jane tinha nojo do filho. “Acho que sim. Tentava abraçar e beijar ele, e não conseguia. Parece que tinha alguma coisa”, ela respondeu.
O promotor refutou a versão apresentada por Jane de que pretendia apenas corrigir o filho. “Acreditar na versão dela é acreditar em Papai Noel e no coelhinho da Páscoa. Fazer comer fezes, vômitos e morder não são corretivos. Ela não gostava da criança e quis matá-la. Estamos lidando com um monstro”.
Disse que Jane, ao pedir que socorressem o filho, não estava arrependida. “Ela agiu com remorso, com medo das consequências, medo de ser presa. Arrependimento, não.”
Para ele, a pena foi aplicada corretamente e não deverá recorrer. “Não gostaria que pena nenhuma tivesse sido aplicada, pois, na verdade, não gostaria que o crime tivesse acontecido. É tudo muito triste, é trágico.”
Reportagem de Edson Arantes
Fonte: gcn net
O júri atraiu a atenção de centenas de pessoas. Estudantes de Direito, estagiários, advogados, conselheiros tutelares, policiais e jornalistas acompanharam o julgamento. Muitos tiveram de ficar de pé.
Responsável pela acusação, o promotor de Justiça Odilon Nery Comodaro usou as duas horas e trinta minutos a que tinha direito para tentar convencer os jurados de que Jane não gostava de Adriano e que teve a intenção de matá-lo. Ele exibiu fotos do menino entubado e imagens dos laudos feitos pela polícia que constatavam as lesões sofridas por ele. “A Jane mordia, queimava e espancava o filho. Ela matou o Adriano com emprego de muita violência. A criança teve morte por politraumatismo. Estamos lidando com um monstro.”
O promotor também exibiu o depoimento que Cauã, filho de Jane, que tinha 11 anos na época dos fatos, prestou durante a fase de interrogatórios. O relato de 20 minutos provou comoção. “A Jane não é mais minha mãe”, sentenciou o garoto, que contou detalhes de castigos que recebiam.
O menino disse que a mãe chegou a amarrar Adriano com corda em um tronco e que o padrasto já havia feito o irmão comer as próprias fezes e o vômito. “Eles faziam isso só porque ele não queria comer. Um dia, o Tiago pegou um vidro de pimenta e fez o Adriano comer tudo. Ele ficou com a boca queimada.”
Usando um agasalho e o uniforme da Penitenciária de Tremembé, onde está desde a época do crime, Jane chorou várias vezes e negou que tenha espancado o filho. “Não bati com a vassoura nem queimei ele com cigarro. Jamais faria uma coisa dessas. Não queria matar o meu filho. De forma alguma.” Em nenhum momento, ela disse que se arrependeu ou se gostava do filho.
A defesa usou a estratégia de explorar a história de vida de Jane e fez perguntas que remeteram à sua infância e adolescência. Ela disse que foi obrigada a sair de casa aos 12 anos e que teria sido abusada pelo padrasto.
A advogada Aparecida Capela pediu que Jane não fosse condenada por homicídio e, sim, por lesão corporal seguida de morte. “Dizer que ela quis matar, torturar, é muito pesado. Foi uma atitude exacerbada de mãe que quis corrigir.”
A defesa de Tiago sustentou que não havia provas de que ele torturava os dois meninos.
Às 15h35, o juiz José Rodrigues Arimatéa leu a sentença. Jane foi condenada por homicídio triplamente qualificado e por tortura. A pena somada é de 17 anos, oito meses e 20 dias de reclusão em regime inicial fechado. Ela não poderá recorrer em liberdade. Tiago foi condenado pelos dois crimes de tortura. A pena dele foi fixada em 4 anos e oito meses de reclusão. O regime inicial é aberto e ele poderá recorrer em liberdade.
“Não consigo nem pensar direito. Estou chorando. Nossa, como ela pode pegar só 17 anos e oito meses e ele ficar em liberdade? O Adriano era só uma criança indefesa. Ela deveria pegar a pena máxima. Vou pedir ao promotor que recorra”, lamentou Andréa Marques, madrasta de Adriano.
'Ela quis apenas corrigir', diz advogada de Jane Jardim
A advogada Aparecida Capela e o filho dela, Fábio, foram os responsáveis pela defesa de Jane Jardim. Marlon Cléber e Braz Profiro defenderam Tiago Rodrigues.
A defesa de Jane sustentou que ela sofreu abusos na adolescência e que não teve a intenção de matar Adriano. Ela tentou convencer os jurados de que teria ocorrido o crime de lesão corporal seguido de morte, que tem pena mais branda, e não homicídio triplamente qualificado, como defendia o Ministério Público.
“A Jane quis apenas corrigir. Não tem características que ela espancou com ódio. Não existe isso. Não torturou até a morte. Não podemos ser sensacionalistas. Não podemos condenar uma mãe que ficou com raiva e bateu no filho. A criança morreu porque caiu e bateu a cabecinha no chão.”
Aparecida Capela disse que Jane exagerou, pois estava nervosa. “A Jane já está sendo julgada e condenada por ter perdido o filho que amava. Já paga o preço da morte do filho. Não teve o direito de ver o enterro do filho, pois estava presa.”
Os advogados de Tiago sustentaram que ele não cometeu torturas e que apenas corrigiu os filhos. “Ele agiu com excesso, mas não quis torturar. Não há nenhuma prova. Ele não teve esta intenção”, disse Marlon Cléber.
‘Fazer comer fezes, vômitos e morder não são corretivos’
O promotor Odilon Comodaro, responsável pela acusação, disse que o crime foi um dos mais chocantes em que atuou durante a carreira. “Não é necessário nem analisar os laudos ou ler os testemunhos. Basta apenas ver as fotos da criança após as agressões. As imagens são chocantes. Houve uma brutalidade fora do comum.”Comodaro exibiu o vídeo do depoimento de Jane à polícia. Ela disse que não conseguia sentir nada por Adriano. Um policial perguntou se Jane tinha nojo do filho. “Acho que sim. Tentava abraçar e beijar ele, e não conseguia. Parece que tinha alguma coisa”, ela respondeu.
O promotor refutou a versão apresentada por Jane de que pretendia apenas corrigir o filho. “Acreditar na versão dela é acreditar em Papai Noel e no coelhinho da Páscoa. Fazer comer fezes, vômitos e morder não são corretivos. Ela não gostava da criança e quis matá-la. Estamos lidando com um monstro”.
Disse que Jane, ao pedir que socorressem o filho, não estava arrependida. “Ela agiu com remorso, com medo das consequências, medo de ser presa. Arrependimento, não.”
Para ele, a pena foi aplicada corretamente e não deverá recorrer. “Não gostaria que pena nenhuma tivesse sido aplicada, pois, na verdade, não gostaria que o crime tivesse acontecido. É tudo muito triste, é trágico.”
Reportagem de Edson Arantes
Fonte: gcn net