goo.gl/sn93Fe | Tanto o livro de Cormac McCarthy quanto o filme dirigido pelos irmãos Coen trazem a especial e fundamental participação de Anton Chigurh (interpretado pelo vencedor do Oscar de melhor ator coadjuvante em 2007, Javier Bardem) que simboliza o mal em um mundo de trágicas escolhas e grandes erros.
Em inglês o título soa perfeito: No Country for old men, que pretende dar o significado para a existência do velho xerife (Tommy Lee Jones), sempre se queixando das agruras do áspero lugar onde vive, bem como de sua avançada idade que, segundo o próprio, lhe trazia um cansaço indesejado numa terra onde não há lugar para homens velhos (old men).
De fato, isso o torna o principal personagem da narrativa, além de tratar das investigações acerca um massacre ocorrido no deserto, um assassino fugitivo e das diferentes figuras que transitam sua cidade, nos últimos tempos.
Em tempos de exasperada e crescente violência, de formas jamais vistas antes, não há lugar para o velho xerife, que percebe a devassidão e aviltamento tomando cada vez mais conta de sua sociedade.
Todavia, é Anton Chigurh o característico maníaco, psicopata, assassino que não se prende aos valores do dinheiro, mas sim, de uma conduta própria que segue a todo custo, o distintivo e essencial papel da trama.
Chigurh é prático e assustador. É um aniquilador nato. Exterminador.
Nada o detém, nem mesmo sua inabilidade de ultrapassar as barreiras do seu próprio ego, que resulta numa auto discussão, demonstrando a tentativa ineficaz de validar suas mortes, por meio da aceitação de que o mundo em que vive merece ser assim tratado.
Destarte, nota-se que o próprio assassino se insere no meio ambiente que tanto crítica, aceitando fazer parte de uma sociedade que deve ser extirpada, pouco a pouco.
É o arquétipo do mal inegável, aquele que não se pode deter, sistematizado pela cultura das religiões como o anticristo ou o próprio demônio que se faz em terra presente.
Chigurgh é a crítica aos novos tempos, uma vez que os valores que fundamentam os personagens que participam do contexto narrado trazem consigo, cada qual seus vícios e maneiras de enxergar um mundo onde podem traduzir seus anseios por ganhos fáceis e corruptíveis, exacerbando a natureza humana que clama cada vez mais por cobiça e menos simpatia ou empatia.
É a crítica do assassino que resolve ser a limpeza deste vasto terreno onde não têm vez as tradicionalidades e as maneiras de viver a vida de forma usual: estar vivo!
A acumulação de riquezas, como a vista na obra, de uma forma corrupta, demonstra ser a aversão do homem à sua corriqueira vida, simples e mundanal.
Este agora quer participar de algo maior, de um sentido metafísico que somente possuem os deuses, quer banquetear sem fome, quer voar sem asas, pretende ser mais do que a realidade lhe proporciona.
Nem que para isto tome consciência de que a vastidão do “paraíso” (do que deseja) só pode lhe ser entregue após a devastação de sua corruptível alma.
Dessabores aos passos do maníaco que ronda a cidade, fazendo joguetes com a sorte usando cara ou coroa de sua moeda, retirando de sua culpa a morte daqueles que possuem a infelicidade de não tirar a sorte grande num jogo de azar mortal.
Confrontando a tudo e a todos, o assassino aqui não é apenas o matador, mas também, a crítica a uma sociedade lasciva que começa a transparecer por inúmeros fatos, entre esses, a fuga de pessoas que antes faziam a diferença, aceitando que agora o mundo é vasto demais para elas.
Mudança. É disso que trata a obra.
Anton Chigurh é o mal. Mas não se vê o mal confrontando o bem, ou o bandido trocando farpas com o mocinho.
Isso pelo fato de não haver bem, não existe o bom. O único arquétipo de herói (o velho xerife) abandona suas forças diante a crescente forma de se realizar a violência, nunca antes por ele vista naquelas bandas: guerra de quadrilhas, mortes no deserto, roubos impensados.
O bem desistiu.
Agora a maldade é esse ser irrefreável, prática e aniquiladora. A violência se multiplica a cada dia, fazendo com que haja cada vez mais nostalgia de tempos em que ainda se encontrava na humanidade traços de alteridade, aceitação e tradicionalidades, como a interação humana.
O assassino é um fiel retrato da pífia máscara que usa hoje toda a sociedade. Ele é o mal. O perdurável demônio num mundo de sombras onde os antigos não têm lugar, onde não há quem se importe com os fracos, e onde a dignidade e a honradez não têm vez.
A crítica da obra, tanto em película quanto em livro, deve ser entendida nos diálogos e nos detalhes. Nos dias atuais inexiste a segurança quando não se sabe mais qual o próximo mal a chegar perto das pessoas, ou no interior delas.
Assim, entender que maldade e as psicoses do dia a dia são atos normais do nosso tempo é considerar uma perversidade insone, irrefreável e sempre presente; assim como Anton Chigurh.
Onde os fracos não têm vez (No Country for Old Men) 2007, produzido e dirigido por Joel Coen e Ethan Coen.
Por Iverson Kech Ferreira
Fonte: Canal Ciências Criminais
Em inglês o título soa perfeito: No Country for old men, que pretende dar o significado para a existência do velho xerife (Tommy Lee Jones), sempre se queixando das agruras do áspero lugar onde vive, bem como de sua avançada idade que, segundo o próprio, lhe trazia um cansaço indesejado numa terra onde não há lugar para homens velhos (old men).
De fato, isso o torna o principal personagem da narrativa, além de tratar das investigações acerca um massacre ocorrido no deserto, um assassino fugitivo e das diferentes figuras que transitam sua cidade, nos últimos tempos.
Em tempos de exasperada e crescente violência, de formas jamais vistas antes, não há lugar para o velho xerife, que percebe a devassidão e aviltamento tomando cada vez mais conta de sua sociedade.
Todavia, é Anton Chigurh o característico maníaco, psicopata, assassino que não se prende aos valores do dinheiro, mas sim, de uma conduta própria que segue a todo custo, o distintivo e essencial papel da trama.
Chigurh é prático e assustador. É um aniquilador nato. Exterminador.
Nada o detém, nem mesmo sua inabilidade de ultrapassar as barreiras do seu próprio ego, que resulta numa auto discussão, demonstrando a tentativa ineficaz de validar suas mortes, por meio da aceitação de que o mundo em que vive merece ser assim tratado.
Destarte, nota-se que o próprio assassino se insere no meio ambiente que tanto crítica, aceitando fazer parte de uma sociedade que deve ser extirpada, pouco a pouco.
É o arquétipo do mal inegável, aquele que não se pode deter, sistematizado pela cultura das religiões como o anticristo ou o próprio demônio que se faz em terra presente.
Chigurgh é a crítica aos novos tempos, uma vez que os valores que fundamentam os personagens que participam do contexto narrado trazem consigo, cada qual seus vícios e maneiras de enxergar um mundo onde podem traduzir seus anseios por ganhos fáceis e corruptíveis, exacerbando a natureza humana que clama cada vez mais por cobiça e menos simpatia ou empatia.
É a crítica do assassino que resolve ser a limpeza deste vasto terreno onde não têm vez as tradicionalidades e as maneiras de viver a vida de forma usual: estar vivo!
A acumulação de riquezas, como a vista na obra, de uma forma corrupta, demonstra ser a aversão do homem à sua corriqueira vida, simples e mundanal.
Este agora quer participar de algo maior, de um sentido metafísico que somente possuem os deuses, quer banquetear sem fome, quer voar sem asas, pretende ser mais do que a realidade lhe proporciona.
Nem que para isto tome consciência de que a vastidão do “paraíso” (do que deseja) só pode lhe ser entregue após a devastação de sua corruptível alma.
Dessabores aos passos do maníaco que ronda a cidade, fazendo joguetes com a sorte usando cara ou coroa de sua moeda, retirando de sua culpa a morte daqueles que possuem a infelicidade de não tirar a sorte grande num jogo de azar mortal.
Confrontando a tudo e a todos, o assassino aqui não é apenas o matador, mas também, a crítica a uma sociedade lasciva que começa a transparecer por inúmeros fatos, entre esses, a fuga de pessoas que antes faziam a diferença, aceitando que agora o mundo é vasto demais para elas.
Mudança. É disso que trata a obra.
Anton Chigurh é o mal. Mas não se vê o mal confrontando o bem, ou o bandido trocando farpas com o mocinho.
Isso pelo fato de não haver bem, não existe o bom. O único arquétipo de herói (o velho xerife) abandona suas forças diante a crescente forma de se realizar a violência, nunca antes por ele vista naquelas bandas: guerra de quadrilhas, mortes no deserto, roubos impensados.
O bem desistiu.
Agora a maldade é esse ser irrefreável, prática e aniquiladora. A violência se multiplica a cada dia, fazendo com que haja cada vez mais nostalgia de tempos em que ainda se encontrava na humanidade traços de alteridade, aceitação e tradicionalidades, como a interação humana.
O assassino é um fiel retrato da pífia máscara que usa hoje toda a sociedade. Ele é o mal. O perdurável demônio num mundo de sombras onde os antigos não têm lugar, onde não há quem se importe com os fracos, e onde a dignidade e a honradez não têm vez.
A crítica da obra, tanto em película quanto em livro, deve ser entendida nos diálogos e nos detalhes. Nos dias atuais inexiste a segurança quando não se sabe mais qual o próximo mal a chegar perto das pessoas, ou no interior delas.
Assim, entender que maldade e as psicoses do dia a dia são atos normais do nosso tempo é considerar uma perversidade insone, irrefreável e sempre presente; assim como Anton Chigurh.
Onde os fracos não têm vez (No Country for Old Men) 2007, produzido e dirigido por Joel Coen e Ethan Coen.
Por Iverson Kech Ferreira
Fonte: Canal Ciências Criminais