Com orgulho, comerciante retoma os estudos 40 anos depois e se forma em Direito

goo.gl/fLXrtQ | Aos 66 anos, José Carlos Porto exibe com orgulho o título de bacharel em direito, conquistado no mês de julho, após seis anos de aulas em uma faculdade da cidade de Belém do São Francisco, no Sertão de Pernambuco. Casado e pai três filhos, em 2011, ele decidiu voltar aos estudos, quase meio século depois de ter concluído o ensino médio.

“Sempre fui dado a leitura. Fiz um primário muito bem-feito, fundamental, ensino médio e isso me ajudou muito. Aí, parei de estudar. Depois de 40 anos, me veio na cabeça fazer vestibular. Fiz em Belém do São Francisco e passei de primeira”, conta com orgulho.

José Carlos justifica a escolha pelo curso de direito da seguinte forma. “Tenho um filho que é advogado, mas não me inspirei nele. Me inspirei na minha própria necessidade de adquirir conhecimento, cultura. Entender como é a cultura do direito”, afirma.

Piauiense, José Carlos vive em Petrolina, no Sertão pernambucano, desde criança. Na cidade, atua como comerciante. Quando ingressou na faculdade, teve que encarar vários desafios, entre eles, os quase 250 km que separam Petrolina de Belém do São Francisco. Nos primeiros semestres, as aulas aconteciam a noite, de terça a sábado. Manter os compromissos do trabalho com a rotina de estudo não foi nada fácil.
“A diretoria da faculdade observou que eu estava com essa dificuldade, mandaram me chamar e me propuseram que, se eu quisesse ficar na turma de portadores de diploma, eu ficaria e só teria aula de quinta a sábado, mas em tempo integral. Aceitei e comecei a ir na quinta e só voltava para casa no sábado. Foi a maneira que encontramos para conciliar os estudos com o trabalho”.

Durante os seis anos de curso, José Carlos contou com o companheirismo dos colegas de turma. A idade não criou barreira entre eles. “Me enturmei muito bem com o pessoal. Tive um ambiente muito amável, tranquilo, com muita comunicação. Aquilo me trouxe muita facilidade. Compartilhando com todos, com ajuda dos colegas de classe, que deram muita força, eu terminei o curso”.

Companheira de uma vida, a esposa de José Carlos, Alice Gomes de Oliveira, também foi essencial na caminhada acadêmica do marido.“A família me deu uma força muito grande, principalmente minha esposa. Ela é uma pessoa muito maravilhosa”, reconhece.



Após a faculdade, José Carlos pretende passar no exame da OAB (Foto: José Carlos Porto / Arquivo Pessoal)

Os desafios dos últimos seis anos foram recompensados no dia 14 de julho. A colação de grau coroou a persistência de um homem que sentiu a necessidade de aprender mais. “Vivi esse momento intensamente. Passei a me integrar, me dediquei, fiz uma renúncia quase que total para ter essa superação em minha vida. Ou fazia assim, ou não conseguiria. É muita coisa e eu, com essa idade um pouco avançada, tinha que ser muito esforçado. Tive que me dedicar. Muitas e muitas noites eu passei dormindo pouco e estudando mais. Não tinha outra opção.”

Formado, o bacharel em direito está se preparando para o exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). José Carlos já sabe como quer usar o conhecimento adquirido na faculdade. “As áreas trabalhistas e previdenciárias são as que eu estou com maior tendência para acolher, começar a praticar mesmo. Até porque, daqui a um tempo, eu vou postular também [a aposentadoria], estou me integrando”, garante.

Por Emerson Rocha, Petrolina
Fonte: g1 globo
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