'Não temos prazer nenhum nisso', diz delegado sobre operação policial que matou 10 em SP

goo.gl/K8cEiq | O delegado responsável pela operação que terminou com a morte de dez suspeitos no Morumbi, Zona Sul de São Paulo, disse nesta segunda-feira (4) que não tem prazer nenhum em ações que terminam em mortes.

Na tarde de domingo (3), equipes do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), com apoio do Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos (Garra), entraram em confronto com os integrantes de uma quadrilha especializada em furtos e roubos a residências, no Jardim Guedala. Nenhum dos treze policiais ficaram feridos, e os dez criminosos foram mortos.

"Pedimos socorro ao Samu e aos bombeiros para levar os baleados para o hospital. Não temos prazer nenhum nisso. Estou aqui há 30 anos e o revide deles está muito violento. Somos seres humanos como outros quaisquer. Gostaria que fosse diferente", disse o delegado Ítalo Zaccaro Neto, titular da 2ª Delegacia da Divisão de Investigações sobre Crimes contra o Patrimonio, do Deic.

Segundo a polícia, os assaltantes estavam armados com quatro fuzis, três revólveres e duas pistolas quando invadiram, uma casa na Rua Puréus, onde estavam quatro moradores, sendo três adultos e uma adolescente.

Os criminosos tentavam abrir um cofre quando foram avisados por comparsas que estavam do lado de fora sobre uma movimentação suspeita perto do imóvel. Eles abortaram o roubo e saíram sem levar nada. O tiroteio começou em seguida.

Questionado se a ação da equipe pode ser considerada intempestiva, ele respondeu: "A situação é muito agradável quando você emite uma opinião sentado atrás de uma mesa, com ar condicionado, vendo fotos. O Deic está à disposição para quem quiser acompanhar a situação. A dinâmica disso é diferente", disse. "Os caras estão com quatro fuzis, pistolas, coletes à prova de bala, e, quando nós chegamos, acha que eles dizem: 'Vamos nos entregar?'", questionou.

"O local foi preservado, houve a perícia, fomos todos ouvidos no Departamento Estadual de Homicídios e e Proteção à Pessoa (DHPP), as armas foram todas apreendidas, e eles vão continuar a apuração a esse respeito", continuou o delegado Ítalo Zaccaro Neto.

Diversas frentes

De acordo com o Deic, os criminosos atuavam em diversas frentes, como caixas eletrônicos, carros-fortes e residências em diversas cidades, além de São Paulo, como Aguaí, São Roque, Indaiatuba e Guarulhos, sempre fortemente armados.

O grupo era monitorado há cerca de um ano e meio, e há cerca de sete meses vinha apresentando uma tendência a migrar para o roubo a residências também, realizando cerca de 20 ações no Morumbi neste período.

Sassá, considerado o líder do grupo, era especialista em roubo a residência, de acordo com o Deic, Pacheco tinha informações sobre as casas da região, enquanto os demais eram responsáveis pela chamada “contenção”, pois andavam fortemente armados e já tinham experiência com os caixas eletrônicos e carros-fortes.

Nesta manhã foi realizada uma diligência na casa de um dos criminosos que participaram da ação, conhecido como Miojo, onde foram encontradas sete bananas de dinamites para explodir caixas eletrônicos.

Cinco, dos dez criminosos, eram procurados pela polícia, mas todos têm envolvimento antigo com a criminalidade. Eles moravam nas regiões do Campo Limpo, Capão Redondo, Grajaú e Taboão da Serra, segundo o Deic, que considera esta uma das principais quadrilhas que atuavam no Morumbi e tem a expectativa de que a quantidade de crimes caia consideravelmente na região após a ação deste domingo.

O Deic já tinha o registro dos veículos que eram usados pelos grupo, sabia que ele atuava frequentemente aos domingos, já havia feito um mapeamento das regiões mais visitadas e tentou o surpreender por diversas vezes.

Através de um trabalho de inteligência, estatístico, o Deic sabia que neste domingo havia grande probabilidade de ocorrer um novo crime na região, que passou a ser monitorada ainda à tarde, até que os investigadores reconheceram os veículos.



Sassá, o líder do grupo, especialista em roubo a residência, em ação no dia 20 de agosto (Foto: Divulgação/Deic)

Fortemente armados

Das dez pessoas que participaram do assalto no Morumbi neste domingo, quatro adentraram a residência e os outros seis pretendiam fazer a contenção da polícia, caso fosse necessário, armados com 4 fuzis AR-15 (sendo dois com rajada), 2 pistolas (uma 9 mm e outra .40), 3 revólveres calibre 38, grande quantidade de munição, coletes à prova de balas, balaclavas, carros blindados, para confrontar com a polícia.

Questionado se a grande quantidade de armas dos criminosos eram destinadas, então, à polícia e não às vítimas, o delegado Ítalo Zaccaro Neto confirmou positivamente. "Nesta ação, o grupo estava com quatro fuzis, e nenhum deles entrou na casa. Eram para contenção. Há duas semanas, eles realizaram um furto a uma residência próxima a essa. Furto. Não tinha ninguém em casa. E entraram com fuzil", explicou.



Fuzis usados por bandidos em roubo (Foto: Polícia Civil)

Informantes

Os investigadores do Deic estão certos de que outros criminosos estão envolvidos com a quadrilha que atuam como "olheiros".

"Pode ter certeza de que esses roubos do Morumbi têm uma facilidade, que estamos investigando. Existe uma informação privilegiada, com horários certos para os roubos e residências vazias. Os criminosos saíram atirando assim que entramos na rua", afirma o delegado Ítalo Zaccaro Neto, do Deic.

Foram quase 20 minutos de intenso tiroteio. Um morador gravou o som de tiros entre policiais civis e criminosos. O vídeo feito por celular não mostra o confronto, mas captou o som dos disparos. Foram ouvidos tiros, disparos e rajadas de armas como fuzis, revólveres e pistolas.

Números da violência

A região do Morumbi, na Zona Sul da capital paulista registrou cerca de 2 mil roubos e aumento no número de homicídios em 2017. De janeiro a julho deste ano, foram 6 homicídios registrados pelo 89º Distrito Policial, o dobro se comparado ao mesmo período do ano passado. Essa delegacia também registrou um latrocínio, 817 roubos, 795 furtos e 248 furtos e roubos de veículos.

No 34º Distrito Policial, na Vila Sônia, foram 5 homicídios dolosos, três a mais do que no ano passado. Nos primeiros sete meses do ano, não houve registro de latrocínios nesta delegacia, mas houve 1.123 casos de roubos, dois roubos a bancos, 14 roubos de carga, 1.166 furtos e 385 furtos ou roubos de veículos.

Por Vivian Reis, G1 SP, São Paulo
Fonte: g1 globo
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