goo.gl/QnGKMC | Com robôs substituindo humanos, profissões desaparecendo e tecnologias sendo desenvolvidas em série, uma das áreas mais impactadas pelas transformações no mercado de trabalho será a educação.
Da faculdade aos cursos de especialização, dos treinamentos corporativos aos MBAs, a forma como adquirimos conhecimento deve mudar radicalmente. Demorou. “Se uma pessoa do século 19 fosse descongelada agora, perceberia que tudo mudou, menos a sala de aula”, diz Luís Rasquilha, CEO da Inova Business School, escola de negócios voltada para o estudo da inovação e do futuro, com unidades em Campinas e São Paulo.
Uma das principais tendências que influenciarão mudanças na educação nas próximas décadas é a ultraespecialização. Cada aluno construirá sua trilha de aprendizado personalizada, combinando cursos formais com informais. “Estamos entrando numa era de hiperespecialização, que requer conhecimento técnico aprofundado em áreas muito específicas”, afirma Rafael Souto, CEO da Produtive, consultoria de planejamento de carreira de São Paulo.
Mas isso significará o fim da graduação tradicional?
Para Joseph E. Aoun, reitor da Universidade Northeastern, de Boston, nos Estados Unidos, e autor do livro Robot-Proof (“À prova de robô”, numa tradução livre, sem edição no Brasil), as transformações não levarão necessariamente ao fim do diploma, mas à reformulação do modelo de ensino. “As universidades terão de oferecer cursos customizados, flexíveis e responsivos às necessidades dos profissionais e dos empregadores”, diz.
Em Massachusetts, nos Estados Unidos, uma experiência já adianta como isso poderia funcionar. Um consórcio intitulado Five College estabelece uma parceria formal entre cinco instituições: as faculdades de Amherst, Hampshire, Mount Holyoke e Smith e a Universidade de Massachusetts. O modelo permite — e incentiva — a mobilidade interinstitucional.
É o aluno quem define o foco de sua graduação — não é obrigado a seguir uma grade preestabelecida e pode fazer aulas disponíveis em qualquer uma das cinco escolas.
Outra tendência que marcará esse mercado de conhecimentos mutantes é a de que tudo o que for aprendido na academia deverá ter uma aplicação prática, atendendo às necessidades correntes do negócio. Um exemplo desse tipo de experiência vem do curso de administração da Universidade de Tampere, na Finlândia, cujas atividades ocorrem no polo de inovação da faculdade, dentro de uma antiga fábrica de algodão.
Ali, os estudantes são estimulados a lidar com problemas reais ao longo de toda a cadeia produtiva — desde a burocracia necessária à abertura de uma empresa, passando pela gestão da planta e pelo marketing, até a distribuição dos produtos. “Os professores não dão aula, atuam mais como coaches, orientando conforme a demanda do aluno”, diz Rodrigo Copelato, diretor executivo do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo.
Como será necessário voltar à universidade várias vezes ao longo da vida para adquirir novos conhecimentos, os cursos ficarão mais curtos e rápidos. Os “nanodegrees” serão cada vez mais requisitados. Escolas internacionais que oferecem conteúdo nesse formato, como a Coursera e a Udacity, dão uma mostra do sucesso desse modelo.
Fundada em 2011 como um projeto experimental da Universidade de Stanford, na Califórnia, a Udacity tornou-se referência mundial em nanocursos na área de tecnologia. O primeiro deles, Introdução à Inteligência Artificial, alcançou na época 160 000 alunos em diversos países. Hoje, a Udacity é uma organização sem fins lucrativos que oferece crédito educativo de baixo custo e cursos livres gratuitos, muitos deles desenvolvidos em parceria com gigantes da iniciativa privada, como Google e Facebook. Atualmente, são 4 milhões de usuários em 168 países.
Já a escola online internacional Coursera destaca-se com “nanodegrees” dedicados a habilidades comportamentais, conhecidas no mundo dos negócios como soft skills. Na plataforma, há módulos como Aprendendo a Aprender (Universidade da Califórnia) e Introdução à Oratória (Universidade de Washington). São mais de 2 000 cursos e 24 milhões de usuários desde 2012.
Um especialista em armazenamento de dados em nuvem pode começar ganhando 40 000 dólares anuais sem ter pisado numa universidade. Hoje, de 10% a 15% dos programadores da IBM não têm diploma formal.
A PwC segue na mesma linha. Em seus processos seletivos, a multinacional só exige a graduação quando há obrigatoriedade legal, como no caso da contabilidade. “Não importa se o profissional tem faculdade A, B ou C.
Podemos correr atrás de conhecimento. O que buscamos é curiosidade, interesse e capacidade de aprender rapidamente”, diz Marcos Panassol, líder de capital humano e sócio da PwC no Brasil.
Nascida como startup em 2004 e hoje com 450 funcionários, a brasileira Essence IT, especializada em tecnologia da informação para negócios, é outra que vem priorizando o perfil à formação.
Lá, todo processo seletivo começa com uma missão, um projeto que o candidato precisa executar, acompanhado de um material básico de aprendizado. Parte da informação está ali, acessível a quem estiver disposto a ler e a pensar.
A outra parte está na internet. Para avançar, é preciso demonstrar iniciativa e aptidão para o autodidatismo. Às vezes, nenhum candidato passa pelo funil e é preciso reabrir a seleção. Não é raro encontrar na empresa colaboradores que atuam em áreas muito diferentes de sua formação de base, como um analista de RH com graduação em biologia marinha. “Procuramos, basicamente, funcionários capazes de resolver problemas”, diz Rodrigo Ricco, um dos sócios.
Para ele, diplomas de grife não garantem a competência de entregar soluções com a agilidade que o cliente de hoje exige. Num mercado volátil e incerto, a verdade é que só terá vez o profissional que estiver com a mente (sempre) aberta para aprender algo novo.
Por Leandro Quintanilha
Fonte: Exame Abril
Da faculdade aos cursos de especialização, dos treinamentos corporativos aos MBAs, a forma como adquirimos conhecimento deve mudar radicalmente. Demorou. “Se uma pessoa do século 19 fosse descongelada agora, perceberia que tudo mudou, menos a sala de aula”, diz Luís Rasquilha, CEO da Inova Business School, escola de negócios voltada para o estudo da inovação e do futuro, com unidades em Campinas e São Paulo.
Uma das principais tendências que influenciarão mudanças na educação nas próximas décadas é a ultraespecialização. Cada aluno construirá sua trilha de aprendizado personalizada, combinando cursos formais com informais. “Estamos entrando numa era de hiperespecialização, que requer conhecimento técnico aprofundado em áreas muito específicas”, afirma Rafael Souto, CEO da Produtive, consultoria de planejamento de carreira de São Paulo.
Mas isso significará o fim da graduação tradicional?
Para Joseph E. Aoun, reitor da Universidade Northeastern, de Boston, nos Estados Unidos, e autor do livro Robot-Proof (“À prova de robô”, numa tradução livre, sem edição no Brasil), as transformações não levarão necessariamente ao fim do diploma, mas à reformulação do modelo de ensino. “As universidades terão de oferecer cursos customizados, flexíveis e responsivos às necessidades dos profissionais e dos empregadores”, diz.
Em Massachusetts, nos Estados Unidos, uma experiência já adianta como isso poderia funcionar. Um consórcio intitulado Five College estabelece uma parceria formal entre cinco instituições: as faculdades de Amherst, Hampshire, Mount Holyoke e Smith e a Universidade de Massachusetts. O modelo permite — e incentiva — a mobilidade interinstitucional.
É o aluno quem define o foco de sua graduação — não é obrigado a seguir uma grade preestabelecida e pode fazer aulas disponíveis em qualquer uma das cinco escolas.
Outra tendência que marcará esse mercado de conhecimentos mutantes é a de que tudo o que for aprendido na academia deverá ter uma aplicação prática, atendendo às necessidades correntes do negócio. Um exemplo desse tipo de experiência vem do curso de administração da Universidade de Tampere, na Finlândia, cujas atividades ocorrem no polo de inovação da faculdade, dentro de uma antiga fábrica de algodão.
Ali, os estudantes são estimulados a lidar com problemas reais ao longo de toda a cadeia produtiva — desde a burocracia necessária à abertura de uma empresa, passando pela gestão da planta e pelo marketing, até a distribuição dos produtos. “Os professores não dão aula, atuam mais como coaches, orientando conforme a demanda do aluno”, diz Rodrigo Copelato, diretor executivo do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo.
Como será necessário voltar à universidade várias vezes ao longo da vida para adquirir novos conhecimentos, os cursos ficarão mais curtos e rápidos. Os “nanodegrees” serão cada vez mais requisitados. Escolas internacionais que oferecem conteúdo nesse formato, como a Coursera e a Udacity, dão uma mostra do sucesso desse modelo.
Fundada em 2011 como um projeto experimental da Universidade de Stanford, na Califórnia, a Udacity tornou-se referência mundial em nanocursos na área de tecnologia. O primeiro deles, Introdução à Inteligência Artificial, alcançou na época 160 000 alunos em diversos países. Hoje, a Udacity é uma organização sem fins lucrativos que oferece crédito educativo de baixo custo e cursos livres gratuitos, muitos deles desenvolvidos em parceria com gigantes da iniciativa privada, como Google e Facebook. Atualmente, são 4 milhões de usuários em 168 países.
Já a escola online internacional Coursera destaca-se com “nanodegrees” dedicados a habilidades comportamentais, conhecidas no mundo dos negócios como soft skills. Na plataforma, há módulos como Aprendendo a Aprender (Universidade da Califórnia) e Introdução à Oratória (Universidade de Washington). São mais de 2 000 cursos e 24 milhões de usuários desde 2012.
Faculdade em xeque
Enquanto especialistas discordam entre si se diplomas serão ou não extintos, algumas empresas começam a relativizar o peso da graduação no currículo de seus candidatos. Gigantes como a IBM já priorizam certificações em programas específicos e estão abertas à contratação de profissionais qualificados informalmente para alguns cargos.Um especialista em armazenamento de dados em nuvem pode começar ganhando 40 000 dólares anuais sem ter pisado numa universidade. Hoje, de 10% a 15% dos programadores da IBM não têm diploma formal.
A PwC segue na mesma linha. Em seus processos seletivos, a multinacional só exige a graduação quando há obrigatoriedade legal, como no caso da contabilidade. “Não importa se o profissional tem faculdade A, B ou C.
Podemos correr atrás de conhecimento. O que buscamos é curiosidade, interesse e capacidade de aprender rapidamente”, diz Marcos Panassol, líder de capital humano e sócio da PwC no Brasil.
Nascida como startup em 2004 e hoje com 450 funcionários, a brasileira Essence IT, especializada em tecnologia da informação para negócios, é outra que vem priorizando o perfil à formação.
Lá, todo processo seletivo começa com uma missão, um projeto que o candidato precisa executar, acompanhado de um material básico de aprendizado. Parte da informação está ali, acessível a quem estiver disposto a ler e a pensar.
A outra parte está na internet. Para avançar, é preciso demonstrar iniciativa e aptidão para o autodidatismo. Às vezes, nenhum candidato passa pelo funil e é preciso reabrir a seleção. Não é raro encontrar na empresa colaboradores que atuam em áreas muito diferentes de sua formação de base, como um analista de RH com graduação em biologia marinha. “Procuramos, basicamente, funcionários capazes de resolver problemas”, diz Rodrigo Ricco, um dos sócios.
Para ele, diplomas de grife não garantem a competência de entregar soluções com a agilidade que o cliente de hoje exige. Num mercado volátil e incerto, a verdade é que só terá vez o profissional que estiver com a mente (sempre) aberta para aprender algo novo.
Por Leandro Quintanilha
Fonte: Exame Abril