goo.gl/XHvUoF | Para as centenas de estudantes da Universidade de Brasília (UnB) que passam diariamente por Luís Antônio Garcia, 60 anos, ele é apenas mais um dos vendedores de comida. O homem de aparência cansada realmente não chama muita atenção.
Mas há algo diferente na comida preparada pelo “seu Luís”, como é conhecido. O tempero não é sal ou açúcar. Tem um gosto doce e deixa a boca salivando. Mas só quem conhece a história do filho dele, Antônio Bichir Garcia, 30 anos, sabe qual é o ingrediente secreto do cozinheiro: o amor.
Recentemente, seu Luís emocionou diversos participantes do grupo de Facebook da UnB. Ali, ele relatou parte da história do filho. Em caixa alta, “porque a vontade era de gritar”, o vendedor agradeceu a todos que auxiliaram Luiz Bichir, que tem paralisia cerebral e dislexia, a se formar em história na UnB, uma das instituições mais concorridas do país.
Luiz Bichir se graduou no dia 22 de setembro depois de 10 semestres na universidade. Nesses cinco anos, seu Luiz, a mulher dele, Rosana Soares, 58, e Luiz Bichir tiveram que se virar para conseguir realizar o sonho do rapaz, que agora, tem o certificado de bacharel e de licenciatura, o que o qualifica para atuar no mercado, de forma geral, e em sala de aula, como professor.
Diagnosticado com paralisia cerebral quando nasceu, a família de Luiz foi informada de que o garoto precisava de tratamento especializado. Na época, os pais moravam em Bertioga, litoral de São Paulo, e não tinham condições de pagar pelas terapias.
O casal rumou para Brasília em 1993, em busca de melhorar a qualidade de vida do filho. Não tinham nenhum familiar aqui nem emprego garantido. Mas conseguiram os tratamentos de que o filho precisava na rede pública.
As dificuldades impostas pelo acaso não tiraram a força de vontade de Luiz que sonhava entrar na faculdade. O grande momento aconteceu no começo de 2012, quando passou no vestibular de história. “Eu pensava: ‘Se passar, passei, se não passar, tento de novo’”, narra.
No primeiro semestre do curso, as aulas aconteciam das 10h às 22h. Com pouca mobilidade física, ele precisava do auxílio do pai o tempo todo. Nessa mesma época, Rosana teve que voltar para São Paulo, porque sua mãe ficou muito doente. Deixou para trás o filho e o marido.
Para que Luiz Bichir pudesse estudar, seu Luiz parou de vender marmitas nas obras. A situação financeira, que não era boa, piorou e, sem dinheiro para pagar o condomínio, pai e filho se mudaram para São Sebastião. A distância ampliou o desafio. “Nos ônibus não tem como andar com cadeirante”, critica seu Luís, que passou a vender botijões de gás e panelas.
Para chegar ao segundo andar do Instituto Central de Ciências (ICC), Luiz Bichir também enfrentou dificuldade. De acordo com Seu Luís, desde que o filho entrou na universidade, o elevador do ICC Norte está em manutenção. “Só funciona o do ICC Sul e do ICC Centro, mas é muito longe”, conta.
Mas também foi na UnB que eles encontram apoio. No fim do primeiro semestre, a família conseguiu uma bolsa mensal da universidade no valor de R$ 465, e o Programa de Apoio às Pessoas com Necessidades Especiais (PPNE) começou a dar auxílio ao aluno. “Ele tinha dois tutores para ajudá-lo. Um dava apoio dentro de sala e o outro gravava os textos”, conta Seu Luís ao explicar que o filho é disléxico, condição médica que dificulta a leitura.
Com a ajuda do PPNE e da UnB, o pai de estudante voltou a trabalhar. Para permanecer perto do filho, decidiu vender marmitas na universidade. Na mesma época, a mãe de Luiz Bichir voltou de São Paulo e começou a ajudar o marido no negócio: ela fazia sucos e lavava panelas e ele cozinhava.
Dessa forma, a situação da família se estabilizou um pouco: as marmitas ajudavam financeiramente, e a bolsa do PPNE facilitou os estudos de Luiz.
Cinco anos depois de entrar na universidade pela primeira vez como estudante, Luiz se formou. No dia da colação de grau, a família estava em festa. “Colocar a beca dá um sentimento de conquista”, conta o, agora, historiador. A parte mais emocionante para seu Luís foi quando o filho subiu no palco para receber o diploma, e ele, emocionado, pediu para acompanhá-lo. “Estive com ele todos esses anos, queria estar nesse momento também”, observa.
As batalhas para a família Garcia, no entanto, continuam. Luiz precisa agora fazer uma cirurgia de transplante de córnea para não ficar cego de um olho. Por isso, os três estão de mudança para Bertioga. “Fiquei apreensivo no começo, mas conversei com um colega que fez a mesma operação e ele me tranquilizou”, atesta.
Mesmo assim a família não se abate. Luiz, na verdade, anseia pelo futuro. Em São Paulo, ele planeja entrar na Unicamp para fazer jornalismo. “Daqui a alguns anos, quero ser teu colega de profissão”, assegura.
Por Victor Barbosa
Supervisão de Adriana Bernardes
Fonte: www.correiobraziliense.com.br
Mas há algo diferente na comida preparada pelo “seu Luís”, como é conhecido. O tempero não é sal ou açúcar. Tem um gosto doce e deixa a boca salivando. Mas só quem conhece a história do filho dele, Antônio Bichir Garcia, 30 anos, sabe qual é o ingrediente secreto do cozinheiro: o amor.
Recentemente, seu Luís emocionou diversos participantes do grupo de Facebook da UnB. Ali, ele relatou parte da história do filho. Em caixa alta, “porque a vontade era de gritar”, o vendedor agradeceu a todos que auxiliaram Luiz Bichir, que tem paralisia cerebral e dislexia, a se formar em história na UnB, uma das instituições mais concorridas do país.
Luiz Bichir se graduou no dia 22 de setembro depois de 10 semestres na universidade. Nesses cinco anos, seu Luiz, a mulher dele, Rosana Soares, 58, e Luiz Bichir tiveram que se virar para conseguir realizar o sonho do rapaz, que agora, tem o certificado de bacharel e de licenciatura, o que o qualifica para atuar no mercado, de forma geral, e em sala de aula, como professor.
Diagnosticado com paralisia cerebral quando nasceu, a família de Luiz foi informada de que o garoto precisava de tratamento especializado. Na época, os pais moravam em Bertioga, litoral de São Paulo, e não tinham condições de pagar pelas terapias.
O casal rumou para Brasília em 1993, em busca de melhorar a qualidade de vida do filho. Não tinham nenhum familiar aqui nem emprego garantido. Mas conseguiram os tratamentos de que o filho precisava na rede pública.
As dificuldades impostas pelo acaso não tiraram a força de vontade de Luiz que sonhava entrar na faculdade. O grande momento aconteceu no começo de 2012, quando passou no vestibular de história. “Eu pensava: ‘Se passar, passei, se não passar, tento de novo’”, narra.
No primeiro semestre do curso, as aulas aconteciam das 10h às 22h. Com pouca mobilidade física, ele precisava do auxílio do pai o tempo todo. Nessa mesma época, Rosana teve que voltar para São Paulo, porque sua mãe ficou muito doente. Deixou para trás o filho e o marido.
Para que Luiz Bichir pudesse estudar, seu Luiz parou de vender marmitas nas obras. A situação financeira, que não era boa, piorou e, sem dinheiro para pagar o condomínio, pai e filho se mudaram para São Sebastião. A distância ampliou o desafio. “Nos ônibus não tem como andar com cadeirante”, critica seu Luís, que passou a vender botijões de gás e panelas.
Para chegar ao segundo andar do Instituto Central de Ciências (ICC), Luiz Bichir também enfrentou dificuldade. De acordo com Seu Luís, desde que o filho entrou na universidade, o elevador do ICC Norte está em manutenção. “Só funciona o do ICC Sul e do ICC Centro, mas é muito longe”, conta.
Mas também foi na UnB que eles encontram apoio. No fim do primeiro semestre, a família conseguiu uma bolsa mensal da universidade no valor de R$ 465, e o Programa de Apoio às Pessoas com Necessidades Especiais (PPNE) começou a dar auxílio ao aluno. “Ele tinha dois tutores para ajudá-lo. Um dava apoio dentro de sala e o outro gravava os textos”, conta Seu Luís ao explicar que o filho é disléxico, condição médica que dificulta a leitura.
Com a ajuda do PPNE e da UnB, o pai de estudante voltou a trabalhar. Para permanecer perto do filho, decidiu vender marmitas na universidade. Na mesma época, a mãe de Luiz Bichir voltou de São Paulo e começou a ajudar o marido no negócio: ela fazia sucos e lavava panelas e ele cozinhava.
Dessa forma, a situação da família se estabilizou um pouco: as marmitas ajudavam financeiramente, e a bolsa do PPNE facilitou os estudos de Luiz.
Cinco anos depois de entrar na universidade pela primeira vez como estudante, Luiz se formou. No dia da colação de grau, a família estava em festa. “Colocar a beca dá um sentimento de conquista”, conta o, agora, historiador. A parte mais emocionante para seu Luís foi quando o filho subiu no palco para receber o diploma, e ele, emocionado, pediu para acompanhá-lo. “Estive com ele todos esses anos, queria estar nesse momento também”, observa.
As batalhas para a família Garcia, no entanto, continuam. Luiz precisa agora fazer uma cirurgia de transplante de córnea para não ficar cego de um olho. Por isso, os três estão de mudança para Bertioga. “Fiquei apreensivo no começo, mas conversei com um colega que fez a mesma operação e ele me tranquilizou”, atesta.
Mesmo assim a família não se abate. Luiz, na verdade, anseia pelo futuro. Em São Paulo, ele planeja entrar na Unicamp para fazer jornalismo. “Daqui a alguns anos, quero ser teu colega de profissão”, assegura.
Licitação
Sobre o elevador do ICC, a UnB afirmou que o concerto é “uma das prioridades da Secretaria da Gestão Patrimonial”, mas ainda não há prazo para que o equipamento volte a funcionar, uma vez que a fase de licitação da obra ainda não foi finalizado.Por Victor Barbosa
Supervisão de Adriana Bernardes
Fonte: www.correiobraziliense.com.br