goo.gl/83vL2p | O professor graduado e mestre em Ciências Sociais (UFRN), doutor (Universidade de Paris René Descartes) e pós-doutor em sociologia (UFRJ) Alípio Sousa Filho (foto abaixo) proibiu uma aluna de assistir às suas aulas porque ela estava acompanhada da filha de cinco anos. A estudante Waleska Maria Lopes trabalha de manhã e de tarde e não tem com quem deixar a criança na hora que vai para a universidade, à noite. Alípio alega que a presença da menina traz prejuízos à aula.
O fato aconteceu nesta terça-feira (6) durante a aula de Introdução à Sociologia do curso de Ciências Sociais da UFRN. “Me senti muito mal. Minha filha perguntou se não podia mais assistir às minhas aulas. Se era por causa dela. É uma grande humilhação. A única família dela sou eu. Ela só tem a mim. Foi terrível”, relatou a aluna.
Segundo ela, Alípio Filho a informou que não poderia assistir às suas aulas com a criança e ordenou que Waleska se retirasse da sala. A estudante cria a filha sozinha. Nascida no Rio de Janeiro, onde ainda mora sua família, ela veio viver em Pau dos Ferros, região Oeste potiguar, em 2008. Em 2017, mudou-se para Natal com o objetivo de estudar. Conseguiu entrar na UFRN com a nota obtida no Enem. Na capital, divide um imóvel com outras pessoas, onde também vive sua filha. Durante o dia, trabalha como atendente de telemarketing para sustentar as duas, e nesse período a criança fica em uma escola.
Alípio Filho diz que não expulsou a aluna da aula. Contudo o professor admite que proibiu a estudante de voltar novamente a uma aula acompanhada da filha.
“Uma criança de cinco anos, todo mundo sabe, é uma criança que fica inquieta. E a aluna tem que se ocupar com a filha. Se ocupa, porque fica vendo a criança levantar, a criança sentar. E, portanto, a criança fica chamando a atenção da aluna, o que faz com que ela não esteja atenta à aula. Além disso, chama a atenção dos demais alunos”, argumenta.
Depois que a aluna deixou a sala de aula, Alípio Filho seguiu falando com os estudantes que permaneceram no local. O que o professor disse foi gravado e compartilhado em grupos de WhatsApp.
Além de abordar as questões mencionadas por ele na entrevista, referentes aos custos e o respeito à Universidade, o docente também direcionou seu discurso para Waleska. “Ela encontre uma rede de solidariedade para cuidar da criança. Não consegue essa rede de solidariedade? Repense sua vida. Não tem que estar fazendo Ciências Sociais, não tem que estar estudando na universidade. Você só faz isso se tiver condições. Agora não vai impôr à instituição coisas que não são assimiladas pela instituição (…) 'ah, eu sou pobre, não tenho'. Problema seu, a universidade não tem problema com isso, se vire”, disse.
O professor diz que há grupos de alunos que não respeitam as normas da UFRN e querem impôr suas vontades em detrimento do que determina a Universidade dentro dos limites do campus.
“Esse áudio é maravilhoso, eu agradeço a eles por estar divulgando. Porque é o áudio no qual eu mostro as razões da defesa da universidade pública no Brasil. Dizendo que a universidade é cara, nossos salários são caros, numa sociedade de baixos salários, e que por tão cara que é a universidade pública, ela deve ser zelada e respeitada em sua autoridade moral, o que certos alunos não sabem reconhecer. Eu agradeço, e pode colocar na sua matéria, que o professor agradece a divulgação do áudio”, disse Alípio Filho ao G1.
Questionado pela reportagem se tinha conhecimento que a estudante é natural do Rio de Janeiro e não tem familiares próximos no Rio Grande do Norte, o professor afirmou não saber do fato, porém disse que essa informação não interfere em sua análise da situação.
“Não tenho essa informação, mas essa informação não interfere na análise do problema, porque, veja bem, a sociedade tem diversos dramas e problemas. Mas a universidade não pode ser o lugar da resolução de todos esses problemas. A universidade já faz um esforço tremendo de oferecer programas, de oferecer alternativas de amparo à vida estudantil que devem ser reconhecidos Nós temos bolsas de iniciação científica, bolsa alimentação, residência, nós temos essa bolsa creche. A universidade está fazendo o que pode”, declarou.
Professor Alípio de Sousa Filho disse que criança atrapalhava a aula (Foto: Reprodução/Inter TV Cabugi)
A aula de Introdução à Sociologia, ministrada pelo professor Alípio de Sousa Filho nesta terça-feira (6), foi a terceira do semestre e a segunda em que o docente reclamou da presença da criança. “Na segunda aula, semana passada, ele disse que eu tinha que fazer minha filha ficar sentada. Ela é muito tranquila, não faz barulho, só desenha a aula inteira. Ele disse que se eu quisesse trazer minha filha para aula, trouxesse fita adesiva, cola, qualquer coisa para fazer ela ficar sentada”, conta a mãe.
A estudante adiantou que irá registrar um boletim de ocorrência na Polícia Civil, por agressão moral e constrangimento, bem como entrar com um processo administrativo na instituição. Como ele é o único professor a ministrar a disciplina, Waleska disse que vai solicitar a aplicação de ensino individualizado e que não vai desistir do curso.
"Me admira ter sido justamente um professor que fala tanto de questões de gênero", considerou a aluna. "É meu sonho terminar o curso. Já cheguei a cursar engenharia, mas conheci a sociologia e me apaixonei. É o que quero seguir", concluiu.
Segundo o professor, ele falou para a aluna que a presença da menina atrapalharia a concentração dos estudantes, e também que os temas debatidos em sala de aula não deveriam ser ouvidos pela criança. “Por coincidência, eu estava nesse dia abordando temas da diversidade cultural, e falei de diversos rituais de morte praticados nas diversas culturas humanas. Dando os exemplos mais detalhados sobre o que é a variação cultural e o propósito de ritos fúnebres. Veja, você não acha que uma criança ouvir tudo isso não pode levá-la a ter ideias em sua cabeça, imagens na sua cabeça que não são próprias da idade?”, sugeriu.
O G1 também procurou a UFRN, para saber das providências da reitoria com relação ao caso. Através da assessoria de imprensa, a Universidade Federal do RN informou que tem conhecimento do ocorrido, mas que qualquer processo administrativo que, porventura, venha a ser instaurado parte inicialmente dos departamentos. No Departamento de Ciências Sociais, a chefia informou que ainda não foi acionada de nenhuma forma para apurar o que houve durante a aula.
Além disso, a UFRN disse que não há qualquer norma na instituição que proíba ou que permita a presença de crianças em aulas. “Contudo há legislação nacional que dão autonomia ao professor para decidir se um aluno pode estar na sala, ou não, devido ao comportamento dele, ou outra questão”, alegou a instituição.
Com relação à ajuda prestada às alunas que têm filhos, a Universidade alegou que dispõe do Auxílio Creche, que atende 120 pessoas atualmente. O edital para se candidatar ao benefício sai anualmente e a ajuda é de R$ 100 por mês.
Por Fernanda Zauli, Igor Jácome e Rafael Barbosa, G1 RN
Fonte: g1 globo
O fato aconteceu nesta terça-feira (6) durante a aula de Introdução à Sociologia do curso de Ciências Sociais da UFRN. “Me senti muito mal. Minha filha perguntou se não podia mais assistir às minhas aulas. Se era por causa dela. É uma grande humilhação. A única família dela sou eu. Ela só tem a mim. Foi terrível”, relatou a aluna.
Segundo ela, Alípio Filho a informou que não poderia assistir às suas aulas com a criança e ordenou que Waleska se retirasse da sala. A estudante cria a filha sozinha. Nascida no Rio de Janeiro, onde ainda mora sua família, ela veio viver em Pau dos Ferros, região Oeste potiguar, em 2008. Em 2017, mudou-se para Natal com o objetivo de estudar. Conseguiu entrar na UFRN com a nota obtida no Enem. Na capital, divide um imóvel com outras pessoas, onde também vive sua filha. Durante o dia, trabalha como atendente de telemarketing para sustentar as duas, e nesse período a criança fica em uma escola.
Alípio Filho diz que não expulsou a aluna da aula. Contudo o professor admite que proibiu a estudante de voltar novamente a uma aula acompanhada da filha.
“Uma criança de cinco anos, todo mundo sabe, é uma criança que fica inquieta. E a aluna tem que se ocupar com a filha. Se ocupa, porque fica vendo a criança levantar, a criança sentar. E, portanto, a criança fica chamando a atenção da aluna, o que faz com que ela não esteja atenta à aula. Além disso, chama a atenção dos demais alunos”, argumenta.
Áudio vazou
Depois que a aluna deixou a sala de aula, Alípio Filho seguiu falando com os estudantes que permaneceram no local. O que o professor disse foi gravado e compartilhado em grupos de WhatsApp.
Além de abordar as questões mencionadas por ele na entrevista, referentes aos custos e o respeito à Universidade, o docente também direcionou seu discurso para Waleska. “Ela encontre uma rede de solidariedade para cuidar da criança. Não consegue essa rede de solidariedade? Repense sua vida. Não tem que estar fazendo Ciências Sociais, não tem que estar estudando na universidade. Você só faz isso se tiver condições. Agora não vai impôr à instituição coisas que não são assimiladas pela instituição (…) 'ah, eu sou pobre, não tenho'. Problema seu, a universidade não tem problema com isso, se vire”, disse.
O professor diz que há grupos de alunos que não respeitam as normas da UFRN e querem impôr suas vontades em detrimento do que determina a Universidade dentro dos limites do campus.
“Esse áudio é maravilhoso, eu agradeço a eles por estar divulgando. Porque é o áudio no qual eu mostro as razões da defesa da universidade pública no Brasil. Dizendo que a universidade é cara, nossos salários são caros, numa sociedade de baixos salários, e que por tão cara que é a universidade pública, ela deve ser zelada e respeitada em sua autoridade moral, o que certos alunos não sabem reconhecer. Eu agradeço, e pode colocar na sua matéria, que o professor agradece a divulgação do áudio”, disse Alípio Filho ao G1.
Questionado pela reportagem se tinha conhecimento que a estudante é natural do Rio de Janeiro e não tem familiares próximos no Rio Grande do Norte, o professor afirmou não saber do fato, porém disse que essa informação não interfere em sua análise da situação.
“Não tenho essa informação, mas essa informação não interfere na análise do problema, porque, veja bem, a sociedade tem diversos dramas e problemas. Mas a universidade não pode ser o lugar da resolução de todos esses problemas. A universidade já faz um esforço tremendo de oferecer programas, de oferecer alternativas de amparo à vida estudantil que devem ser reconhecidos Nós temos bolsas de iniciação científica, bolsa alimentação, residência, nós temos essa bolsa creche. A universidade está fazendo o que pode”, declarou.
Professor Alípio de Sousa Filho disse que criança atrapalhava a aula (Foto: Reprodução/Inter TV Cabugi)
Discussão na sala de aula
A aula de Introdução à Sociologia, ministrada pelo professor Alípio de Sousa Filho nesta terça-feira (6), foi a terceira do semestre e a segunda em que o docente reclamou da presença da criança. “Na segunda aula, semana passada, ele disse que eu tinha que fazer minha filha ficar sentada. Ela é muito tranquila, não faz barulho, só desenha a aula inteira. Ele disse que se eu quisesse trazer minha filha para aula, trouxesse fita adesiva, cola, qualquer coisa para fazer ela ficar sentada”, conta a mãe.
A estudante adiantou que irá registrar um boletim de ocorrência na Polícia Civil, por agressão moral e constrangimento, bem como entrar com um processo administrativo na instituição. Como ele é o único professor a ministrar a disciplina, Waleska disse que vai solicitar a aplicação de ensino individualizado e que não vai desistir do curso.
"Me admira ter sido justamente um professor que fala tanto de questões de gênero", considerou a aluna. "É meu sonho terminar o curso. Já cheguei a cursar engenharia, mas conheci a sociologia e me apaixonei. É o que quero seguir", concluiu.
Segundo o professor, ele falou para a aluna que a presença da menina atrapalharia a concentração dos estudantes, e também que os temas debatidos em sala de aula não deveriam ser ouvidos pela criança. “Por coincidência, eu estava nesse dia abordando temas da diversidade cultural, e falei de diversos rituais de morte praticados nas diversas culturas humanas. Dando os exemplos mais detalhados sobre o que é a variação cultural e o propósito de ritos fúnebres. Veja, você não acha que uma criança ouvir tudo isso não pode levá-la a ter ideias em sua cabeça, imagens na sua cabeça que não são próprias da idade?”, sugeriu.
Providências
O G1 também procurou a UFRN, para saber das providências da reitoria com relação ao caso. Através da assessoria de imprensa, a Universidade Federal do RN informou que tem conhecimento do ocorrido, mas que qualquer processo administrativo que, porventura, venha a ser instaurado parte inicialmente dos departamentos. No Departamento de Ciências Sociais, a chefia informou que ainda não foi acionada de nenhuma forma para apurar o que houve durante a aula.
Além disso, a UFRN disse que não há qualquer norma na instituição que proíba ou que permita a presença de crianças em aulas. “Contudo há legislação nacional que dão autonomia ao professor para decidir se um aluno pode estar na sala, ou não, devido ao comportamento dele, ou outra questão”, alegou a instituição.
Com relação à ajuda prestada às alunas que têm filhos, a Universidade alegou que dispõe do Auxílio Creche, que atende 120 pessoas atualmente. O edital para se candidatar ao benefício sai anualmente e a ajuda é de R$ 100 por mês.
Por Fernanda Zauli, Igor Jácome e Rafael Barbosa, G1 RN
Fonte: g1 globo