R$ 120 mil: professora diz ter vendido ágio de casa para comprar aprovação em concurso

goo.gl/qK54sG | Presa temporariamente desde quarta-feira, na terceira fase da Operação Panoptes, intitulada Magister, pela compra da aprovação no certame da Secretaria de Educação, realizado em 2017, uma professora de 38 anos confessou que vendeu o ágio de uma casa no Entorno do Distrito Federal para levantar o valor cobrado pela Máfia dos Concursos. Pelas aulas da rede pública de ensino desde fevereiro, ela ganha um salário bruto de R$ 5.237,13, conforme a remuneração do cargo prevista no edital do processo de seleção. A investigada apresentou um pedido de relaxamento de prisão na Vara Criminal e Tribunal do Júri de Águas Claras e aguarda a decisão judicial.

Na imagem, policiais civis cumprem mandados: foco nos candidatos que aderiram à fraude de concursos públicos

Em depoimento na Divisão de Repressão ao Crime Organizado (Draco), a mulher alegou que foi abordada no “aulão” de uma entidade por um homem que alegou ter um “esquema” de aprovação no concurso. Ela pegou o número do telefone dele e, depois de certo tempo, ligou para acertar detalhes do acordo. No encontro, soube que teria de desembolsar R$ 120 mil pela vaga — desse valor, R$ 60 mil seriam repassados antes da aprovação. A primeira parcela, de R$ 30 mil, teria sido paga a Bruno Ortiz no estacionamento de um supermercado.

Ela foi orientada a preencher cinco itens da prova objetiva e a escrever só cinco linhas na subjetiva. No dia da prova ela o fez. Tempos depois, recebeu uma ligação do filho de Helio Ortiz para encontrá-lo em frente ao mesmo mercado para o preenchimento da folha de redação, copiando um texto escrito por outra pessoa. Pagou mais R$ 30 mil. A organização criminosa, por sua vez, ficou responsável por completar o cartão de perguntas. O valor remanescente do acordo ficou em aberto por conta da prisão da máfia.

Cargos administrativos


Concursados de cargos administrativos da Secretaria de Educação também admitiram a fraude. Uma mulher de 48 anos admitiu ter acertado o esquema com Hélio Ortiz, que cobrou R$ 20 mil pela aprovação. Os dois se conheciam de vista havia alguns anos e, depois de alguns contatos, o líder da organização criminosa a ensinou, em sua casa, como burlar a banca examinadora.

Neste dia, outras pessoas estavam na casa, mas a moça não conseguiu identificá-las. A orientação era para que a concursanda preenchesse apenas três questões da prova objetiva. Para garantir a vaga, ela desembolsou R$ 5 mil antes do exame. Os R$ 15 mil restantes seriam repassados no dia da posse, por meio de um empréstimo consignado. O pagamento não ocorreu, porque Helio Ortiz acabou preso em agosto último.

Primeiros colocados


Segundo as investigações, os alvos da etapa mais recente da operação foram aprovados nas primeiras colocações. Após fraudar o certame, eles ingressaram na rede pública de ensino para dar aulas a estudantes de várias faixas etárias. Para garantir o sucesso do esquema, os suspeitos contaram com o apoio do ex-funcionário do Cebraspe Ricardo Silva do Nascimento. Preso desde outubro, quando foi alvo da segunda fase da Panoptes, ele retirava as provas da sala cofre e as oferecia para preenchimento correto depois da aplicação dos exames do concurso.

Esta é a primeira etapa da Operação com foco nos candidatos que aderiram à fraude de concursos públicos. Uma investigada, Paula Vitor Bueno, está foragida. Outro alvo afirmou, por meio do advogado, que se entregará à polícia. Os demais nove investigados estão atrás das grades.

Ao Correio, Rubens dos Santos Pires, advogado de Helio e Bruno Ortiz, afirmou que “não teve acesso ao conteúdo dos depoimentos, mas nega as alegações narradas”. “Hoje, a postura da Justiça é de quem já sentenciou os acusados, mesmo sem a conclusão do processo. Não há verdade nas alegações dos novos alvos. É muito fácil ser conduzido à delegacia e culpar quem está preso”, argumentou. A reportagem não conseguiu contato com as defesas de Antônio Alves e Ricardo Silva.

Por Ana Viriato
Fonte: www.correiobraziliense.com.br
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