goo.gl/u1XeLv | É uma realidade para todos que seguem carreiras jurídicas as dificuldades que um profissional da advocacia enfrenta. Grande concorrência, pois mais de um milhão de advogados no país, honorários sucateados, servidores que não respeitam a lei e creem estar fazendo uma obrigação para o advogado, etc. São ilimitadas as dificuldades. Contudo, a par dessas, há uma outra questão não tão clara e que talvez seja a mais grave de todas: Trata-se dos padrões de crenças e comportamentos de boa parte da classe de advogados diante das adversidades que a profissão nos coloca. Qual seria a relação desses modelos de crenças com o fracasso na profissão?
O escritor Harv Eker, autor do livro Os segredos da mente milionária, diz ser possível prever com apenas cinco minutos de conversa, o modelo de fracasso ou sucesso de uma pessoa. Posturas de pessimismo e resignação do profissional diante das dificuldades que a advocacia atual apresenta podem determinar o futuro. Uma espécie de pessimismo resignado. Algo que coloca o sujeito não apenas em uma situação psicológica de alerta para os problemas, mas o insere em uma condição imaginária de impotência, incapacidade, comodidade e que impede uma reação. A consciência crítica da autorresponsabilidade fica embotada, tornamo-nos vítimas de um mundo cruel e competitivo no direito. Como se deveras fosse o fim da advocacia. Não houvesse mais jeito.
Para ilustrar a problemática, dia desses estava eu numa roda de colegas em que o assunto girava em torno das más condições de trabalho na advocacia. Todos reclamavam, parecia um problema insolúvel. Uma colega dizia que os clientes não apareciam. Outro dizia que não é possível cobrar os valores de honorários propostos pela OAB. Um terceiro cogitava partir para o mundo dos concursos, etc. Indaguei a um dos presentes o que ele fazia para reverter o quadro de crise. Ele respondeu: “ Não há muito o que fazer, apenas entregar cartões e esperar por clientes no escritório “. Bingo! Na hora tive um insight do perigo embutido no padrão de crenças limitantes que permeavam aquele meio. Isto é, a mentalidade de que não há muito o que fazer, de que o campo de ação do sujeito iniciante na advocacia é extremamente reduzido e, em razão disso, somos joguetes desse mercado jurídico. Na verdade, uma transferência da responsabilidade pessoal para as circunstâncias externas ao nosso controle.
Percebi ser necessário uma blindagem emocional diante do enorme pessimismo diante do grupo, enquanto ali estava, pois, do contrário, antes de entrar no jogo já iria me considerar um fracassado. Para além dos problemas conhecidos de todos na advocacia, como concorrência, baixa remuneração, más condições e outros. Existia exatamente um elemento de enfraquecimento moral que se manifestava nas crenças daquele grupo. Tal elemento uma vez absorvido pelo sujeito, já diminuiria o vigor para enfrentar as adversidades da função.
Essa tendência limitante e latente na profissão, todavia nem sempre é manifestada em outros grupos. Como pessoas que além do conhecimento técnico na sua área, são também empreendedores. Há um vigor ou vontade de enfrentamento naqueles indivíduos equipados para empreender. Parte do problema advém ou pelo menos é menosprezado pelas faculdades de direito do país, em que o currículo é voltado para a realização de certames e não para as questões práticas do ofício. Nem todo estudante quer ocupar as fileiras dos serviços públicos ou ter um chefe. Quando inserido no mercado de trabalho, o jurista questiona-se sobre a validade e eficácia do que lhe foi ensinado no curso.
Muitas vezes advogados iniciantes, otimistas, ingressam com boas intenções e vontade de crescer em um ambiente de pessimistas com a profissão, contudo vem o enfraquecimento e absorção da individualidade pelas crenças do grupo. Afastando-se do propósito inicial de prosperar.
No livro “ Recordações do escrivão Isaías Caminha ”, de Lima Barreto, por exemplo, o jovem Isaías sai de sua pequena cidade/vilarejo em direção ao Rio de Janeiro, com fim de conseguir um diploma. Era até então um jovem com certas virtudes, contudo, ao se deparar com circunstâncias muito diferentes do imaginado, às vezes opostas e até corruptivas, Isaías sucumbe às pressões do meio - O ambiente jornalístico no qual trabalhava - Um local de bajulações, afetações de falsa superioridade intelectual, fofocas, etc. Chega ao ponto de se afastar da doente e velha mãe que o ajudava, por se achar um ser superior a ela. Ao fim ele se arrepende profundamente e abandona aquele meio, retornando a uma vida pacata semelhante à de sua juventude.
Afinal, qual seria a similitude da experiência de Isaías com a situação do jovem advogado que se vê em meio às dificuldades da profissão e colegas negativos?
Aplicando ao presente, uma brilhante constatação feita por Olavo de Carvalho – filósofo brasileiro - o jovem Isaías encontrava-se em um lugar repleto de adversidades e pressões. Tinha seus desejos, objetivos pessoais de prosperar, contudo, enormes tendências do mundo externo eram muitas vezes contrarias a esses objetivos, como a falta de dinheiro e influência que lhe possibilitasse fazer algum curso, adquirir um diploma e ter uma boa profissão. As tensões do mundo externo com os objetivos de Isaías chegaram por absorver ou talvez anular seu mundo interno de desejos e pretensões pessoais; de modo que ao fim ele se moldou e acomodou a todo aquele ambiente viciado, corrompido, etc.
Quantos jovens advogados estão sendo anulados, absorvidos pelas intempéries da advocacia? Ou ainda desencorajados por um meio de crenças limitantes, enfraquecedoras e que por muitas vezes são a causa mais direta do fracasso? É possível reagir a isso? Blindar-se a esses estímulos e corrigir fraquezas e valores internos? É possível evitar o destino de Isaías na advocacia?
Sim, trazendo a responsabilidade para si mesmo. Também a busca de obras e pessoas ligadas a outras áreas é uma boa forma de adquirir modelos de comparação e evitar as armadilhas da profissão. Como o meio relativo ao empreendedorismo. Além de conhecer uma nova área essencial ao avanço do seu escritório, o advogado adquire nova visão de enfrentamento do mundo.
Portanto, o exercício da autorresponsabilidade, bem como a influência de livros e pessoas nesta direção, podem determinar o êxito ou não de seus objetivos.
Hélio Resende-Advogado e escritor.
E-mail: helioresende99@yahoo.com.br
REFERÊNCIAS
EKER, T. Harv. Os segredos da mente milionária. 2. ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2006.
BARRETO, Lima. Recordações do escrivão Isaías Caminha. 2. ed. São Paulo: Escala LTDA.
CARVALHO, Olavo de. Aulas 01, 02 e 03 do curso online de filosofia. Notas de Aula.
_______________________
Hélio Resende
Advogado civilista e escritor.
Fonte: Jus Brasil
Para ilustrar a problemática, dia desses estava eu numa roda de colegas em que o assunto girava em torno das más condições de trabalho na advocacia. Todos reclamavam, parecia um problema insolúvel. Uma colega dizia que os clientes não apareciam. Outro dizia que não é possível cobrar os valores de honorários propostos pela OAB. Um terceiro cogitava partir para o mundo dos concursos, etc. Indaguei a um dos presentes o que ele fazia para reverter o quadro de crise. Ele respondeu: “ Não há muito o que fazer, apenas entregar cartões e esperar por clientes no escritório “. Bingo! Na hora tive um insight do perigo embutido no padrão de crenças limitantes que permeavam aquele meio. Isto é, a mentalidade de que não há muito o que fazer, de que o campo de ação do sujeito iniciante na advocacia é extremamente reduzido e, em razão disso, somos joguetes desse mercado jurídico. Na verdade, uma transferência da responsabilidade pessoal para as circunstâncias externas ao nosso controle.
Percebi ser necessário uma blindagem emocional diante do enorme pessimismo diante do grupo, enquanto ali estava, pois, do contrário, antes de entrar no jogo já iria me considerar um fracassado. Para além dos problemas conhecidos de todos na advocacia, como concorrência, baixa remuneração, más condições e outros. Existia exatamente um elemento de enfraquecimento moral que se manifestava nas crenças daquele grupo. Tal elemento uma vez absorvido pelo sujeito, já diminuiria o vigor para enfrentar as adversidades da função.
Essa tendência limitante e latente na profissão, todavia nem sempre é manifestada em outros grupos. Como pessoas que além do conhecimento técnico na sua área, são também empreendedores. Há um vigor ou vontade de enfrentamento naqueles indivíduos equipados para empreender. Parte do problema advém ou pelo menos é menosprezado pelas faculdades de direito do país, em que o currículo é voltado para a realização de certames e não para as questões práticas do ofício. Nem todo estudante quer ocupar as fileiras dos serviços públicos ou ter um chefe. Quando inserido no mercado de trabalho, o jurista questiona-se sobre a validade e eficácia do que lhe foi ensinado no curso.
Muitas vezes advogados iniciantes, otimistas, ingressam com boas intenções e vontade de crescer em um ambiente de pessimistas com a profissão, contudo vem o enfraquecimento e absorção da individualidade pelas crenças do grupo. Afastando-se do propósito inicial de prosperar.
No livro “ Recordações do escrivão Isaías Caminha ”, de Lima Barreto, por exemplo, o jovem Isaías sai de sua pequena cidade/vilarejo em direção ao Rio de Janeiro, com fim de conseguir um diploma. Era até então um jovem com certas virtudes, contudo, ao se deparar com circunstâncias muito diferentes do imaginado, às vezes opostas e até corruptivas, Isaías sucumbe às pressões do meio - O ambiente jornalístico no qual trabalhava - Um local de bajulações, afetações de falsa superioridade intelectual, fofocas, etc. Chega ao ponto de se afastar da doente e velha mãe que o ajudava, por se achar um ser superior a ela. Ao fim ele se arrepende profundamente e abandona aquele meio, retornando a uma vida pacata semelhante à de sua juventude.
Afinal, qual seria a similitude da experiência de Isaías com a situação do jovem advogado que se vê em meio às dificuldades da profissão e colegas negativos?
Aplicando ao presente, uma brilhante constatação feita por Olavo de Carvalho – filósofo brasileiro - o jovem Isaías encontrava-se em um lugar repleto de adversidades e pressões. Tinha seus desejos, objetivos pessoais de prosperar, contudo, enormes tendências do mundo externo eram muitas vezes contrarias a esses objetivos, como a falta de dinheiro e influência que lhe possibilitasse fazer algum curso, adquirir um diploma e ter uma boa profissão. As tensões do mundo externo com os objetivos de Isaías chegaram por absorver ou talvez anular seu mundo interno de desejos e pretensões pessoais; de modo que ao fim ele se moldou e acomodou a todo aquele ambiente viciado, corrompido, etc.
Quantos jovens advogados estão sendo anulados, absorvidos pelas intempéries da advocacia? Ou ainda desencorajados por um meio de crenças limitantes, enfraquecedoras e que por muitas vezes são a causa mais direta do fracasso? É possível reagir a isso? Blindar-se a esses estímulos e corrigir fraquezas e valores internos? É possível evitar o destino de Isaías na advocacia?
Sim, trazendo a responsabilidade para si mesmo. Também a busca de obras e pessoas ligadas a outras áreas é uma boa forma de adquirir modelos de comparação e evitar as armadilhas da profissão. Como o meio relativo ao empreendedorismo. Além de conhecer uma nova área essencial ao avanço do seu escritório, o advogado adquire nova visão de enfrentamento do mundo.
Portanto, o exercício da autorresponsabilidade, bem como a influência de livros e pessoas nesta direção, podem determinar o êxito ou não de seus objetivos.
Hélio Resende-Advogado e escritor.
E-mail: helioresende99@yahoo.com.br
REFERÊNCIAS
EKER, T. Harv. Os segredos da mente milionária. 2. ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2006.
BARRETO, Lima. Recordações do escrivão Isaías Caminha. 2. ed. São Paulo: Escala LTDA.
CARVALHO, Olavo de. Aulas 01, 02 e 03 do curso online de filosofia. Notas de Aula.
_______________________
Hélio Resende
Advogado civilista e escritor.
Fonte: Jus Brasil