bit.ly/2VrSGPg | Uma das coisas que sempre me perguntam é: dá para estudar para concurso e, enquanto isso, para sobreviver, advogar?
Pois bem. De início, deixo claro que este texto é apenas a minha opinião, não sendo, portanto, uma regra aplicável a todas as pessoas. Dessa forma, refiro-me as minhas experiências nos concursos públicos (aprovado no concurso para Defensor Público do Rio Grande do Sul com 23 anos, quando ainda estava na faculdade – clique aqui) e na Advocacia (inicialmente, atuando no dia a dia da Advocacia e, agora, por meio das consultorias e da elaboração de pareceres).
Sobre a pergunta do título, acredito que é possível passar em um concurso público, mesmo que divida o tempo entre os estudos e a Advocacia. Contudo, é muito difícil.
Atualmente, há milhares de pessoas que se dedicam apenas à aprovação em algum concurso público. Em cada certame, há dezenas de milhares de candidatos. Entretanto, muitos demoram vários anos até a aprovação, havendo muitos que desistem e outros que, apesar da insistência, jamais conseguiram passar. Portanto, é uma missão difícil até para aqueles que estão totalmente focados em concursos públicos.
Também encontramos milhares de pessoas (lembrando que temos mais de um milhão de Advogados no Brasil) que se dedicam unicamente ao crescimento na Advocacia, mas enfrentam dificuldades na prospecção, inadimplência de clientes e muitas outras dificuldades.
De fato, o que mais observamos são pessoas que possuem um plano A e, se não conseguem concretizá-lo, dedicam-se a um plano B. São exemplos aqueles que tentam passar em algum concurso público, mas, depois de um tempo, desistem e ingressam na Advocacia. Também há muitas pessoas que começam na Advocacia, mas, diante das inúmeras dificuldades, abandonam a iniciativa privada e iniciam os estudos para concursos públicos.
Aquele que Advoga para sobreviver e, ao mesmo tempo, estuda para concursos tem, momentaneamente, dois “planos A’s”. Os dois planos, de forma isolada, possuem dificuldades. Em conjunto, surgem algumas incompatibilidades que podem tornar extremamente difícil o sucesso, ainda que momentâneo, nas duas empreitadas (ganhar suficientemente na Advocacia até que consiga a aprovação no concurso).
Em primeiro lugar, o estudo é totalmente diferente.
Na Advocacia, para ter os primeiros clientes e conseguir honorários satisfatórios, é necessário aprender sobre prospecção e definição de valores dos honorários, entender as normas da OAB e, se possível, virar especialista, estudando muito sobre determinada área (Direito Penal e Processual Penal, por exemplo). Exige-se um estudo concentrado em poucas disciplinas, mas com enorme profundidade.
Por outro lado, os concursos públicos exigem conhecimentos mais objetivos (texto da lei, súmulas, informativos etc.) e sobre várias disciplinas. Não é raro que um concurso público cobre mais de 15 disciplinas. Assim, o concurseiro precisará estudar uma variedade de disciplinas, o que é exatamente o oposto da especialização cada vez maior na Advocacia.
Ademais, a rotina também é completamente diferente.
O Advogado precisa prospectar clientes, conversando com muitas pessoas diariamente. Tem uma rotina externa que inclui a ida a vários lugares (fóruns, presídios, delegacias e cartórios, dependendo da área de atuação). Também é possível que precise se deslocar a várias comarcas, o que exigirá um enorme gasto de tempo no trânsito.
Por sua vez, o concurseiro precisa ficar isolado estudando, tendo o mínimo possível de interrupções e incômodos. Quem já estudou para concurso sabe como é o desespero ao surgir a necessidade de fazer algo fora do ambiente de estudos quando ainda tem muito material para ler.
O material de estudos também é diferente, considerando que o concurseiro – dependendo do concurso – dedicará o seu tempo a livros mais enxutos, enquanto o Advogado buscará obras mais profundas, sobretudo com aspectos práticos.
O estudo para concursos também pode afetar a prospecção de clientes na Advocacia. Recentemente, ouvi de um colega que o cliente desistiu de contratá-lo quando soube que ele estava estudando para concursos (ele havia dito que não poderia encontrar o cliente numa segunda-feira de manhã, considerando que estaria chegando de uma prova de concurso em outro Estado), pois ficou com medo de que esse Advogado não desse atenção ao caso e, posteriormente, abandonasse o processo após a aprovação no concurso.
Em suma, fazer as duas coisas ao mesmo tempo poderá atrasar os resultados, ou seja, demorará um pouco mais para ter clientes na Advocacia e precisará de um pouco mais de tempo para conseguir a aprovação no concurso.
Novamente, deixo claro que não estou afirmando que é impossível estudar para concurso público enquanto se dedica à Advocacia. Apenas estou demonstrando os principais obstáculos para que o leitor possa buscar formas de superá-los.
Às vezes, pode ser melhor arriscar tudo, investindo todos os esforços para acelerar a aprovação no concurso público. Seja qual for a opção – Advocacia ou concurso -, é evidente que o foco vai acelerar os resultados, além de tornar um pouco menos complicada a jornada até a concretização do objetivo.
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Leia o artigo diretamente no meu site (leia aqui). Cursos, artigos, vídeos, bem como receber atualizações de conteúdo diretamente em seu WhatsApp (clique aqui).
Evinis Talon
Advogado Criminalista, Professor de cursos de pós-graduação e Mestre em Direito.
Advogado Criminalista, professor universitário, Mestre em Direito, Especialista em Direito Penal e Processual Penal, Constitucional, Filosofia e Sociologia. Pós-graduado em Processo Penal pela Universidade de Coimbra (Portugal). Pós-graduando em Direito Público pela PUC/MG. Ex-Defensor Público do Estado do Rio Grande do Sul (2012-2015). Membro da International Society of Public Law (ICONS), do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM), da Association Internationale de Droit Pénal (AIDP), do Grupo Brasileiro da Associação Internacional de Direito Penal e da International Bar Association (IBA), integrando o Criminal Law Committee e o Public Law Committee, da Academia Brasileira de Direito Constitucional (ABDC) e da International Law Association (ILA).
Fonte: evinistalon.jusbrasil.com.br
Pois bem. De início, deixo claro que este texto é apenas a minha opinião, não sendo, portanto, uma regra aplicável a todas as pessoas. Dessa forma, refiro-me as minhas experiências nos concursos públicos (aprovado no concurso para Defensor Público do Rio Grande do Sul com 23 anos, quando ainda estava na faculdade – clique aqui) e na Advocacia (inicialmente, atuando no dia a dia da Advocacia e, agora, por meio das consultorias e da elaboração de pareceres).
Sobre a pergunta do título, acredito que é possível passar em um concurso público, mesmo que divida o tempo entre os estudos e a Advocacia. Contudo, é muito difícil.
Atualmente, há milhares de pessoas que se dedicam apenas à aprovação em algum concurso público. Em cada certame, há dezenas de milhares de candidatos. Entretanto, muitos demoram vários anos até a aprovação, havendo muitos que desistem e outros que, apesar da insistência, jamais conseguiram passar. Portanto, é uma missão difícil até para aqueles que estão totalmente focados em concursos públicos.
Também encontramos milhares de pessoas (lembrando que temos mais de um milhão de Advogados no Brasil) que se dedicam unicamente ao crescimento na Advocacia, mas enfrentam dificuldades na prospecção, inadimplência de clientes e muitas outras dificuldades.
De fato, o que mais observamos são pessoas que possuem um plano A e, se não conseguem concretizá-lo, dedicam-se a um plano B. São exemplos aqueles que tentam passar em algum concurso público, mas, depois de um tempo, desistem e ingressam na Advocacia. Também há muitas pessoas que começam na Advocacia, mas, diante das inúmeras dificuldades, abandonam a iniciativa privada e iniciam os estudos para concursos públicos.
Aquele que Advoga para sobreviver e, ao mesmo tempo, estuda para concursos tem, momentaneamente, dois “planos A’s”. Os dois planos, de forma isolada, possuem dificuldades. Em conjunto, surgem algumas incompatibilidades que podem tornar extremamente difícil o sucesso, ainda que momentâneo, nas duas empreitadas (ganhar suficientemente na Advocacia até que consiga a aprovação no concurso).
Em primeiro lugar, o estudo é totalmente diferente.
Na Advocacia, para ter os primeiros clientes e conseguir honorários satisfatórios, é necessário aprender sobre prospecção e definição de valores dos honorários, entender as normas da OAB e, se possível, virar especialista, estudando muito sobre determinada área (Direito Penal e Processual Penal, por exemplo). Exige-se um estudo concentrado em poucas disciplinas, mas com enorme profundidade.
Por outro lado, os concursos públicos exigem conhecimentos mais objetivos (texto da lei, súmulas, informativos etc.) e sobre várias disciplinas. Não é raro que um concurso público cobre mais de 15 disciplinas. Assim, o concurseiro precisará estudar uma variedade de disciplinas, o que é exatamente o oposto da especialização cada vez maior na Advocacia.
Ademais, a rotina também é completamente diferente.
O Advogado precisa prospectar clientes, conversando com muitas pessoas diariamente. Tem uma rotina externa que inclui a ida a vários lugares (fóruns, presídios, delegacias e cartórios, dependendo da área de atuação). Também é possível que precise se deslocar a várias comarcas, o que exigirá um enorme gasto de tempo no trânsito.
Por sua vez, o concurseiro precisa ficar isolado estudando, tendo o mínimo possível de interrupções e incômodos. Quem já estudou para concurso sabe como é o desespero ao surgir a necessidade de fazer algo fora do ambiente de estudos quando ainda tem muito material para ler.
O material de estudos também é diferente, considerando que o concurseiro – dependendo do concurso – dedicará o seu tempo a livros mais enxutos, enquanto o Advogado buscará obras mais profundas, sobretudo com aspectos práticos.
O estudo para concursos também pode afetar a prospecção de clientes na Advocacia. Recentemente, ouvi de um colega que o cliente desistiu de contratá-lo quando soube que ele estava estudando para concursos (ele havia dito que não poderia encontrar o cliente numa segunda-feira de manhã, considerando que estaria chegando de uma prova de concurso em outro Estado), pois ficou com medo de que esse Advogado não desse atenção ao caso e, posteriormente, abandonasse o processo após a aprovação no concurso.
Em suma, fazer as duas coisas ao mesmo tempo poderá atrasar os resultados, ou seja, demorará um pouco mais para ter clientes na Advocacia e precisará de um pouco mais de tempo para conseguir a aprovação no concurso.
Novamente, deixo claro que não estou afirmando que é impossível estudar para concurso público enquanto se dedica à Advocacia. Apenas estou demonstrando os principais obstáculos para que o leitor possa buscar formas de superá-los.
Às vezes, pode ser melhor arriscar tudo, investindo todos os esforços para acelerar a aprovação no concurso público. Seja qual for a opção – Advocacia ou concurso -, é evidente que o foco vai acelerar os resultados, além de tornar um pouco menos complicada a jornada até a concretização do objetivo.
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Evinis Talon
Advogado Criminalista, Professor de cursos de pós-graduação e Mestre em Direito.
Advogado Criminalista, professor universitário, Mestre em Direito, Especialista em Direito Penal e Processual Penal, Constitucional, Filosofia e Sociologia. Pós-graduado em Processo Penal pela Universidade de Coimbra (Portugal). Pós-graduando em Direito Público pela PUC/MG. Ex-Defensor Público do Estado do Rio Grande do Sul (2012-2015). Membro da International Society of Public Law (ICONS), do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM), da Association Internationale de Droit Pénal (AIDP), do Grupo Brasileiro da Associação Internacional de Direito Penal e da International Bar Association (IBA), integrando o Criminal Law Committee e o Public Law Committee, da Academia Brasileira de Direito Constitucional (ABDC) e da International Law Association (ILA).
Fonte: evinistalon.jusbrasil.com.br