bit.ly/2Wl9S8O | Na tarde desta quarta-feira, 5, Murilo Gonçalves entrou para a história do Ceará. Ao receber a carteira como novo inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil, ele se tornou o primeiro homens transexual no estado a ter o nome masculino oficializado no documento.
Não que Murilo tenha sido aprovado recentemente no exame da Ordem. Há seis anos, ele já advoga e integra os quadros da instituição. Mas quem estava sinalizado no documento profissional, assim como em todos os outros, era Camila, seu nome de registro na certidão de nascimento. Mais que isso, a identidade feminina que apresentava até o ano passado.
A transição de gênero entre Camila e Murilo começou há cerca de 13 meses, quando decidiu adotar o corte ‘Joãozinho’. “Este foi o primeiro passo e já é uma mudança significativa. Em novembro, comecei minha hormonioterapia”, conta o advogado, de 30 anos de idade, que também é professor universitário e de cursinhos preparatórios. “Há mais ou menos 20 dias, recebi minha certidão de nascimento como Murilo e dei entrada no pedido para mudar o documento da Ordem”.
O advogado Murilo Gonçalves, primeiro homem trans a receber o documento de advogado da OAB Ceará, ao lado do presidente da entidade, Erinaldo Dantas. — Foto: Divulgação/OAB Ceará
Para ele, a solenidade da entrega da nova carteira é um verdadeiro rito de passagem. A partir deste marco, desaparecem quaisquer vestígios de Camila. “Optei por fazer a grande virada de chave hoje. A Camila ainda existia em todos os meus perfis em redes sociais e campanhas de Marketing. Até porque essa alteração demanda uma mudança na minha estratégia de branding. Mas chegou a hora. Tudo muda a partir de agora”, celebra. “Aliás, não faço ideia de como ficarão as ações em que atuo (uma vez que a responsável era a Camila). Tenho até que ver isso”, ri-se.
Além de ser o primeiro homem trans a ter sua identidade de gênero oficialmente reconhecida pela OAB Ceará, Murilo é a primeira pessoa trans no Estado a fazer esta alteração na carteira da Ordem sem precisar judicializar o pedido. Em 2013, uma advogada trans teve que recorrer à Justiça para que a Ordem acatasse solicitação similar, o que acabou acontecendo.
A agilidade do processo de reconhecimento oficial da identidade de gênero de Murilo só foi possível depois que o Supremo Tribunal Federal decidiu, em agosto de 2018, permitir a alteração do registro de nascimento e nome social sem a necessidade de procedimentos cirúrgicos ou de laudos médicos atestando a transexualidade.
“Mesmo que não houvesse a determinação do STF, esta Casa concederia a nova carteira a Murilo. Esta é a Casa da Cidadania, como podemos negar cidadania a alguém?”, instiga o presidente da OAB-CE, Erinaldo Dantas. “A questão da identidade de gênero é vista com muita naturalidade por nós. Não é uma questão”.
O acolhimento demonstrado pelo presidente da OAB-CE não foi caso isolado. Murilo garante que sua transição de gênero foi muito bem recebida em todos os seus empregos. “Eu fiquei impressionado, admito. Em todos os lugares em que eu dou aula, a transição foi tratada muito respeitosamente. Sei que existe transfobia e que meu caso deve ser uma exceção. Mas como vivemos num mundo de intolerância, esperamos intolerância do mundo. E quando recebemos a tolerância, como foi no meu caso, somos surpreendidos”, declara. A compreensão encontrada no ambiente profissional está sendo construída em casa. Filho único, Murilo teve que lidar com o baque sofrido pela mãe quando do anúncio de sua transição de gênero. Mas após o susto do primeiro impacto, aos poucos ela está se acostumando com o novo filho que ganhou, assegura Murilo.
“Minha mãe tem dificuldades na aceitação? Tem. Mas também tem um esforço muito grande para aceitar. É uma questão geracional mesmo (ela tem 57 anos), é compreensível. Mas ela diz uma coisa que, acho, resume tudo: ‘Meu filho, eu gosto de você de qualquer jeito. Gosto de você amarelo, verde, azul, de que cor for!’”.
A confiança neste processo familiar é tanta que Murilo voltou recentemente a morar na casa da mãe, que lhe dará suporte no período pós-operatório. No próximo mês, ele se submeterá à primeira intervenção de adequação de seu corpo ao seu gênero.
Mas mesmo antes da cirurgia, Murilo já obteve o que considera a maior das conquistas: olhar para o espelho e se reconhecer. “É simplesmente incrível! É muito bom encontrar o seu lugar no mundo. Tenho passado por experiências muito significativas, como comprar o primeiro terno, aprender a usar gravata (risos), cuidar de minha barba, gostar de ouvir minha voz!”.
Descobertas incomuns para um homem de 30 anos. Mesmo que ele mal tenha acabado de chegar ao mundo. Um homem que não só se enxerga como finalmente pode atestar que o é. De fato e de direito.
Fonte: www.opovo.com.br
Não que Murilo tenha sido aprovado recentemente no exame da Ordem. Há seis anos, ele já advoga e integra os quadros da instituição. Mas quem estava sinalizado no documento profissional, assim como em todos os outros, era Camila, seu nome de registro na certidão de nascimento. Mais que isso, a identidade feminina que apresentava até o ano passado.
A transição de gênero entre Camila e Murilo começou há cerca de 13 meses, quando decidiu adotar o corte ‘Joãozinho’. “Este foi o primeiro passo e já é uma mudança significativa. Em novembro, comecei minha hormonioterapia”, conta o advogado, de 30 anos de idade, que também é professor universitário e de cursinhos preparatórios. “Há mais ou menos 20 dias, recebi minha certidão de nascimento como Murilo e dei entrada no pedido para mudar o documento da Ordem”.
O advogado Murilo Gonçalves, primeiro homem trans a receber o documento de advogado da OAB Ceará, ao lado do presidente da entidade, Erinaldo Dantas. — Foto: Divulgação/OAB Ceará
Para ele, a solenidade da entrega da nova carteira é um verdadeiro rito de passagem. A partir deste marco, desaparecem quaisquer vestígios de Camila. “Optei por fazer a grande virada de chave hoje. A Camila ainda existia em todos os meus perfis em redes sociais e campanhas de Marketing. Até porque essa alteração demanda uma mudança na minha estratégia de branding. Mas chegou a hora. Tudo muda a partir de agora”, celebra. “Aliás, não faço ideia de como ficarão as ações em que atuo (uma vez que a responsável era a Camila). Tenho até que ver isso”, ri-se.
Além de ser o primeiro homem trans a ter sua identidade de gênero oficialmente reconhecida pela OAB Ceará, Murilo é a primeira pessoa trans no Estado a fazer esta alteração na carteira da Ordem sem precisar judicializar o pedido. Em 2013, uma advogada trans teve que recorrer à Justiça para que a Ordem acatasse solicitação similar, o que acabou acontecendo.
A agilidade do processo de reconhecimento oficial da identidade de gênero de Murilo só foi possível depois que o Supremo Tribunal Federal decidiu, em agosto de 2018, permitir a alteração do registro de nascimento e nome social sem a necessidade de procedimentos cirúrgicos ou de laudos médicos atestando a transexualidade.
“Mesmo que não houvesse a determinação do STF, esta Casa concederia a nova carteira a Murilo. Esta é a Casa da Cidadania, como podemos negar cidadania a alguém?”, instiga o presidente da OAB-CE, Erinaldo Dantas. “A questão da identidade de gênero é vista com muita naturalidade por nós. Não é uma questão”.
O acolhimento demonstrado pelo presidente da OAB-CE não foi caso isolado. Murilo garante que sua transição de gênero foi muito bem recebida em todos os seus empregos. “Eu fiquei impressionado, admito. Em todos os lugares em que eu dou aula, a transição foi tratada muito respeitosamente. Sei que existe transfobia e que meu caso deve ser uma exceção. Mas como vivemos num mundo de intolerância, esperamos intolerância do mundo. E quando recebemos a tolerância, como foi no meu caso, somos surpreendidos”, declara. A compreensão encontrada no ambiente profissional está sendo construída em casa. Filho único, Murilo teve que lidar com o baque sofrido pela mãe quando do anúncio de sua transição de gênero. Mas após o susto do primeiro impacto, aos poucos ela está se acostumando com o novo filho que ganhou, assegura Murilo.
“Minha mãe tem dificuldades na aceitação? Tem. Mas também tem um esforço muito grande para aceitar. É uma questão geracional mesmo (ela tem 57 anos), é compreensível. Mas ela diz uma coisa que, acho, resume tudo: ‘Meu filho, eu gosto de você de qualquer jeito. Gosto de você amarelo, verde, azul, de que cor for!’”.
A confiança neste processo familiar é tanta que Murilo voltou recentemente a morar na casa da mãe, que lhe dará suporte no período pós-operatório. No próximo mês, ele se submeterá à primeira intervenção de adequação de seu corpo ao seu gênero.
Mas mesmo antes da cirurgia, Murilo já obteve o que considera a maior das conquistas: olhar para o espelho e se reconhecer. “É simplesmente incrível! É muito bom encontrar o seu lugar no mundo. Tenho passado por experiências muito significativas, como comprar o primeiro terno, aprender a usar gravata (risos), cuidar de minha barba, gostar de ouvir minha voz!”.
Descobertas incomuns para um homem de 30 anos. Mesmo que ele mal tenha acabado de chegar ao mundo. Um homem que não só se enxerga como finalmente pode atestar que o é. De fato e de direito.
Fonte: www.opovo.com.br