Estudante cearense cego supera dificuldades e é aprovado em Direito

Após concluir o ensino médio junto com o curso técnico em Agropecuária, em março de 2021, Davi Cavalheiro, de 19 anos, recebeu a notícia de sua aprovação em Direito na Universidade Federal do Ceará, um dos cursos mais concorridos do Estado, na última edição do Sistema de Seleção Unificada (Sisu). A conquista é resultado de esforços que ultrapassam as dificuldades da deficiência visual do estudante e representa o primeiro diploma de um membro de sua família.

Davi, que mora em Tauá, cursou o ensino médio no campus do Instituto Federal do Ceará (IFCE). Com a ajuda dos professores, ele conseguiu driblar os desafios para um estudante cego, especialmente em tempos de aulas remotas, para entender áreas que exigem a visão para serem compreendidas mais satisfatoriamente, como ciências exatas e da natureza. Ainda assim, a afinidade pela área das humanas falou mais alto.

“Eu me identifico totalmente com humanas. Eu até pensei em fazer História, fiz o vestibular, passei na Universidade Estadual do Ceará (UECE) para História, só que eu acabei escolhendo Direito porque eu acho que é uma área mais respeitada e também porque eu queria na UFC”, explica o aluno.

DESAFIOS DO ENSINO REMOTO

Para que o aprendizado fosse bem-sucedido e, consequentemente, Davi se saísse bem nos vestibulares, ele conta que recebeu também apoio dos professores para que pudesse enfrentar os desafios do ensino remoto.

“Para mim, foi difícil no começo porque, na sala de aula, caso eu tivesse alguma dúvida, eu poderia simplesmente virar para o lado e perguntar para algum dos meus amigos, e também na sala de aula os professores tinham como fazer analogias táteis. Com o ensino remoto não foi. Só que eles acabaram conseguindo, fazendo analogias do meu próprio dia-a-dia”.

O suporte é o mesmo que o estudante espera ter quando ingressar na universidade, principalmente em relação ao material de estudo, que não costuma oferecer versão em áudio. Até o momento, Davi não sabe quando as aulas começarão, mas a expectativa é que os primeiros semestres sejam online. Por isso, ainda há incertezas quanto à mudança para a Capital.

“Eu estou inseguro porque é um mundo completamente novo, apesar de já ter ido a Fortaleza várias vezes fazer tratamento lá, mas ainda assim é um mundo totalmente novo e é um mundo que eu não vejo. É um mundo estranho, que eu não vejo, com pessoas que eu não conheço”, desabafa.

Assim que se formar, Davi será o primeiro membro da família a ter um diploma, e os pais não poderiam estar mais orgulhosos. “Os meus pais me apoiam muito. Tem um pouco de responsabilidade porque se eu sou a primeira, eu tenho que de certa forma me dedicar mais para que outras pessoas também possam se inspirar e tentar também”, relata.

“As pessoas com deficiência, e as pessoas como um todo, devem confiar nas pessoas que as ajudam porque sempre aparece, e essas pessoas são como anjos que nos dão força, nos dão coragem”, completa. 

Fonte: Diário do Nordeste

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