"Democracias contemporâneas são feitas de voto, do respeito aos direitos fundamentais e de debate público de qualidade. A ameaça à realização de eleições é uma conduta antidemocrática. Suprimir direitos fundamentais, incluindo os de natureza ambiental, é conduta antidemocrática. Conspurcar o debate público com desinformação, mentiras, ódio e teorias conspiratórias é conduta antidemocrática. Há coisas erradas acontecendo no país e todos precisamos estar atentos", disse Barroso.
O discurso faz refere-se aos reiterados ataques do presidente Jair Bolsonaro ao próprio Barroso e também ao sistema eleitoral. O presidente tem dito que a urna eletrônica não é confiável e defende a adoção do voto impresso, em discussão no Congresso. Para isso, tem feito alegações sem comprovação, sempre desmentidas pelo TSE.
Ao discursar, Barroso fez referência à derrocada democrática em países como Hungria, Polônia, Turquia, Rússia, Ucrânia, Georgia, Filipinas, Venezuela, Nicarágua e El Salvador, onde líderes populares eleitos pelo voto desconstruíram o cenário de democracia para concentrar poderes por meio do extremismo, populismo e autoritarismo. Para ele, nenhum país do mundo está imune.
"Precisamos das instituições e precisamos da sociedade civil, ambas bem alertas. Já superamos os ciclos do atraso institucional, mas há retardatários que gostariam de voltar ao passado. Parte das estratégias incluem ataque às instituições. Uma das manifestações do autoritarismo no mundo contemporâneo é precisamente o ataque às instituições, inclusive eleitorais, que garantem legítimo de condução aos mais elevados cargos da república", destacou.
Barroso citou também a manifestação feita nesta segunda-feira por todos os ex-presidentes do TSE vivos, em defesa da legitimidade do sistema eleitoral brasileiro para mandar um recado direto a Bolsonaro: "A obsessão por mim não faz qualquer sentido e não é correspondida".
"Tivemos que continuar desmentindo sucessivas fake news sobre o sistema eleitoral. Tudo requentado, amadorístico, sem novidades. Isso começa a ficar cansativo, mas não podemos esmorecer", apontou o presidente, ao concluir: "O voto impresso pode fazer mal a democracia brasileira. É um risco, um retrocesso e não é a vontade de quem verdadeiramente queira o bem do Brasil."
Fonte: ConJur