De acordo com documento obtido pela Folha de S. Paulo, que consta no indiciamento de Da Cunha por suspeita de peculato, os integrantes do "gabinete" do delegado utilizavam unidades policiais como estúdio de edição. Alguns também dirigiam viaturas e ostentavam armas.
No último domingo (26), Da Cunha revelou que contratou um roteirista de cinema para gravar, editar e divulgar as imagens sobre as operações policiais que participava no canal do YouTube.
FUNCIONÁRIOS OUVIDOS
Gabriel Yoshi Siqueira Correira, o Gafanhoto, e Cristiano Pereira Novaes, o Cabelo, são dois dos funcionários do esquema que mais aparecem em filmagens no canal de Da Cunha.
Conforme a Folha, ambos já foram ouvidos pela Corregedoria, mas não são investigados formalmente no inquérito que apura o crime de peculato — quando um funcionário público desvia dinheiro ou bens em benefício próprio em razão do cargo.
Gafanhoto disse que foi contratado pelo delegado em 2019 para cuidar das redes sociais e acompanhar operações policiais, ganhando R$ 1 mil por mês. Ele ainda confirmou que usava delegacias como ilhas de edição.
Já Cabelo começou a trabalhar com Da Cunha em 2018, também editando vídeos, e admitiu aos investigadores que chegou a dirigir uma viatura uma vez. Conforme ele depôs, ainda segue trabalhando com o policial ganhando R$ 2 mil mensais.
DA CUNHA NEGA ACUSAÇÕES
Questionado pela Folha nesta terça-feira (28), o Delegado da Cunha negou as acusações de peculato e informou que a reportagem busca deturpar fatos e veicular mentiras para prejudicá-lo.
"Como de costume, a matéria que será veiculada se vale de depoimentos prestados em inquérito que corre em segredo de justiça, bem como novamente deturpa os fatos com o único intuito de continuar a prejudicar a minha imagem", disse, em nota ao jornal.
INVESTIGAÇÕES
O delegado foi afastado da Polícia Militar de São Paulo em julho e no mês seguinte virou alvo de investigações.
Em agosto, um inquérito policial foi instaurado para apurar se o delegado usou a estrutura da Polícia Civil, como armas, agentes, viaturas e aeronave, para gravar vídeos de operações exibidas em redes sociais. O canal que ele mantém no YouTube chegou a ter 3,6 milhões de inscritos.
Da Cunha também é alvo de uma investigação preliminar por suspeita de ter simulado — e registrado em vídeo — o resgate de um refém e a prisão de um sequestrador na zona leste de São Paulo, em julho de 2020. Ele chegou a admitir que simulou a prisão do suspeito para gravar vídeo para o YouTube.
Fonte: Diário do Nordeste