Startup acessa dados de tribunais para atualizar ações na Justiça em segundos

Via @canaltech | A digitalização do direito é um conceito já em franco andamento, com lawtechs, tribunais e escritórios desenvolvendo plataformas para acelerar o trabalho. A startup recifense Koy tem uma solução que interessa a muitos advogados e grandes empresas: uma inteligência artificial que busca nos dados públicos da Justiça Nacional valores a receber de processos já concluídos e com ganho de causa.

O principal produto da Koy é a IA Norma, baseada na plataforma Watson da IBM. Ela tem acesso a 159 sistemas abertos da justiça brasileira e consegue mapear as ações dos tribunais e classificá-las por macrocausa (cível, tributária e trabalhista etc.). A plataforma tem agendamento automático e inteligente de prazos de processos e também orienta o advogado por prioridades, para que ele não perca prazos ou possa acelerar tarefas do andamento dos processos para o seu encerramento.

A fundadora da Koy é Karla Capela, sócia da firma Raimundo & Capela e reconhecida pela IBM como uma das 35 líderes globais pioneiras em inteligência artificial para área jurídica. A lawtech já obteve mais de R$ 3 milhões em investimentos. Localizada em São Paulo, Recife e Milão, a atual equipe da startup trabalha em home office, e tem como principal cliente a Eletrobrás, onde a IA Norma encontrou mais de R$ 400 milhões de ações a serem descontingenciadas.

O que quer dizer isso? A maioria das clientes da plataforma são empresas que contingenciam verbas para o caso de perder processos jurídicos em andamento e precisar indenizar as partes vencedoras. Por isso, seus departamentos jurídicos varrem com frequência os bancos de dados para atualizar o status dessas ações — um processo demorado e que mantêm profissionais de advocacia presos em planilhas. Assim, deixam de dedicar sua força de trabalho ao que sabem fazer melhor, como analisar os processos e estudar jurisprudência, por exemplo.

Mas a Norma não apenas leva seis segundos para fazer esse trabalho — o que um advogado faria em duas horas — como também ajuda a informar o profissional de direito a entender todas as perspectivas e dados importantes sobre a situação do caso. Com isso, ajuda a empresa a evitar desperdícios de tempo e de dinheiro, além de perceber rapidamente onde há casos ganhos e recolher indenizações o quanto antes.

"As pessoas [dos escritórios de advocacia] trabalham ate 14 horas por dia na cegueira, mas nossa ferramenta diz que estão gastando tempo em vão em certos processos. Funcionamos na entrada como o Google, buscando cada processo e mostrando suas atualizações, e na saída como um Waze, mostrando as possibilidades futuras deste processo, como as rotas dos mapas", brinca Capela.

Metodologias ágeis, advogados conservadores

A ideia surgiu quando a advogada aprendeu a Scrum, usada em gestão como uma metodologia ágil, isto é, que permite acompanhar constantemente as atualizações dos planos de trabalho de uma equipe. Houve uma mudança de remuneração de uma das empresas clientes ao Raimundo & Capela, que pagaria só quando os processos fossem arquivados ou quando recebessem novos. Daí ela viu nessa demanda a necessidade de acelerar o acompanhamento processual. Para isso, idealizou ela mesma uma plataforma capaz de aplicar Scrum na advocacia.

"Eu tinha um sistema que era muito ruim para isso. Pensei: vou remapear os processos e fazer um sistema pro meu escritório. Aí outras pessoas de outros escritórios disseram: quero um igual a esse", relembra Karla Capela.

A Koy surgiu para criar a Norma, que por sua vez foi moldada sob três demandas: que todos os sistemas da justiça brasileira fossem unificados à mesma interface; padronizar os dados, que eram categorizados de jeitos distintos em cada plataforma nos tribunais; e esrtuturar tudo em frases que orientariam como o advogado devia proceder em cada caso.

Atualmente a plataforma lida com 30 mil processos de 20 clientes. E uma vantagem para os clientes menores é que o preço da ferramenta é de acordo com a demanda: o valor mínimo para acompanhar um processo é R$ 6,50, e o valor aumenta à medida que varrer mais ações.

Apesar dos aparentes ganhos com o uso da Norma, a chefe da Koy diz que muitos escritórios de advocacia ainda resistirem a usá-la por terem uma mentalidade mais conservadora, e por isso a plataforma faz mais sucesso com as empresas, que a utilizam para saber como estão as ações nas quais foram citadas como parte. "O mercado de advogados não está pronto. Não raro eles perguntam [sobre Norma e IAs jurídicas]: 'isso acontece mesmo?' O mercado corporativo está mais pronto para o tipo de tecnologia que oferecemos", argumenta.

Além disso, Capela vê no seu público-alvo uma grande dificuldade em unir a área jurídica à contábil das empresas. "Dissociar as áreas é perder a oportunidade de obter ganhos financeiros que já existam na carteira processual. E com nossa tecnologia isso é possível. O Koy faz parte de uma grande missão: a de causar grande impacto social com acesso à justiça, reduzindo o trabalho improdutivo e burocrático das empresas e focando no retorno financeiro”, completou.

Fonte: canaltech.com.br

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