Preso em operação, delegado alugou carro nos EUA por R$ 18 mil e em SP por R$ 34 mil

Via @portalg1 | O conteúdo dos celulares do delegado Maurício Demétrio analisado pelo Ministério Público revelou mais detalhes da vida do policial que para os investigadores são incompatíveis com os seus ganhos lícitos. Além do aluguel de uma mansão em Mangaratiba, os promotores acreditam que propinas cobradas por Demétrio também financiaram o uso de carros de luxo, como um Bentley que alugou nos Estados Unidos por R$ 3,3 mil dólares (mais de R$ 18.700).

Conversas nos aparelhos também mostram uma negociação para a contratação de um veículo blindado com seguranças para viagem a São Paulo no valor de R$ 34.330.

Na época de sua prisão, em junho, a polícia encontrou no apartamento do delegado R$ 225 mil em dinheiro vivo, e três carros de luxo blindados, além de 12 celulares. As prisões e apreensões foram determinadas por decisão da 1ª Vara Criminal Especializada em Organizações Criminosas do Tribunal de Justiça do Rio. Detalhes da investigação foram revelados pelo Fantástico.

Segundo as investigações, era com dinheiro vivo que Demétrio pagava gastos com carros de luxo e viagens internacionais. Para o funcionário de uma agência de turismo, ele afirmou: "Amanhã papai leva 75" - numa referência, para o MP, a R$ 75 mil em espécie.


Demétrio foi preso na primeira etapa da operação, acusado de chefiar uma quadrilha que ameaçava e cobrava propina de comerciantes da Rua Teresa – tradicional ponto de comércio popular de roupas, em Petrópolis, na Região Metropolitana do Rio.

As investigações posteriores dos celulares deram origem a mais uma fase da operação. Elas indicam que uma das fontes de recursos para a vida de luxo do delegado foi a negociação de propina para mudar o resultado de investigações. Segundo os promotores, ele também usou a estrutura da polícia para tentar armar falsas operações, e , fazia uso abusivo dos sistemas de consulta da Polícia Civil.

O conteúdo de apenas 3 dos 12 celulares foi analisado até o momento. Segundo o portal da transparência, antes de ser preso, Maurício Demétrio recebia R$ 28 mil brutos por mês. Mas, para os investigadores, as mensagens encontradas no celular dele mostram que ele gastava bem mais do que isso.

Operações falsas

Além de criar dossiês com dados sigilosos, os promotores acusam Maurício Demétrio de ter tentado armar duas operações falsas.

Em uma delas, plantaria drogas em um carro usado por policiais da Corregedoria que tinham aberto uma investigação contra ele. Em outra, a ideia era influenciar o resultado das últimas eleições.

Poucos dias antes do segundo turno das eleições municipais, Maurício Demétrio levou a um delegado da Polícia Federal a informação de que, no dia seguinte, um portador não identificado entregaria grande quantidade em dinheiro ao então candidato a prefeito Eduardo Paes.

Nas mensagens, Demétrio mandou uma foto do suposto envelope que seria entregue, cheio de notas de R$ 50 e de R$ 100.

Os promotores descobriram que foi o próprio Maurício Demétrio quem tirou a foto com um dos seus 12 telefones celulares, e que ele estava tentando armar uma operação falsa.

Em depoimento, o delegado da Polícia Federal diz que desistiu da operação ao saber quem era a fonte.

Paes, do PSD, foi eleito e está em seu terceiro mandato como prefeito do Rio. O Fantástico procurou Eduardo Paes, mas ele preferiu não comentar a operação falsa dos criminosos contra ele.

Após a publicação da reportagem, o prefeito fez uma série de postagens em redes sociais.

"Mais um vagabundo travestido de 'Estado' e defensor da lei (...) Tenho certeza que nossa secretaria de Governo e Integridade pública através do secretário @caleromarcelo vai reaver esse dinheiro para os cofres públicos. Eles são fracos e corruptos. Usam o Estado e o cargo que tem para fraudar o processo político e difamar seus adversários. Mas eles não passarão. Vagabundos! Delinquentes!", escreveu.

Maurício Demétrio responde pelos crimes de organização criminosa, obstrução de Justiça, concussão - que é a cobrança de propina - , lavagem de dinheiro e violação do sigilo funcional.

Em nota ao Fantástico, o advogado de Maurício Demétrio disse que o delegado nunca foi chamado pelo Ministério Público para esclarecer quaisquer fatos.

A Secretaria Estadual de Polícia Civil disse que os fatos investigados ocorreram antes da atual gestão e que a corregedoria acompanha o processo criminal do investigado.

Além de cobrar propina para prejudicar a polícia, delegado é acusado de tentar armar falsas operações no RJ

Fonte: g1.globo.com
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