A advogada que estava na defesa antes, Niedja Mônica da Silva, entrou com uma representação na entidade alegando que o cliente foi "coagido" a destituí-la do caso.
Marcelo da Silva estava preso desde 2017 por outros crimes e foi identificado como autor do homicídio de Beatriz depois que exames de DNA confirmaram que o perfil genético dele era o mesmo encontrado na faca deixada no local do crime, usada para matar a menina.
Na terça-feira (18), Nunes apresentou uma carta em que, segundo ele, o homem se diz inocente e afirmou ter sido pressionado para confessar o crime.
A versão de Rafael Nunes é diametralmente oposta à apresentada pela advogada Niedja Mônica da Silva, que assumiu o caso no dia em que Marcelo da Silva foi transferido do Presídio de Salgueiro, no Sertão, para o Presídio de Igarassu, no Grande Recife.
A advogada disse, inicialmente, que o suspeito era réu confesso, como havia dito a Polícia Civil, e que chorava ao falar do caso. Niedja afirmou também que, na segunda-feira (17), foi impedida por Rafael Nunes de ter acesso ao cliente.
Por causa disso, Niedja Mônica da Silva, no mesmo dia, protocolou um requerimento na subseção de Paulista, no Grande Recife, para que fosse investigada a conduta do colega (veja o vídeo aqui). O documento foi remetido ao Tribunal de Ética e Disciplina da OAB de Pernambuco, que afirmou que recebeu a representação.
Por meio de nota, a OAB Pernambuco afirmou que presidente da seccional, Fernando Ribeiro Lins, determinou "de imediato a designação de um conselheiro relator para que os fatos sejam apurados com a devida urgência".O objetivo da apuração é de evitar "qualquer tipo de embaraço na condução do inquérito policial que apura o caso". As investigações do Caso Beatriz ocorrem desde 2015, quando ocorreu o crime. O suspeito só foi identificado depois de seis anos, um mês e um dia do assassinato da menina.
O g1 entrou em contato com Rafael Nunes, que não respondeu até a última atualização desta reportagem.
Controvérsias
Os dois advogados dizem ter sido constituídos por Marcelo da Silva como defensores no caso. Rafael Nunes diz que Niedja Mônica foi destituída, mas ela afirma que a entrada do colega no caso está sendo analisada pela OAB em Pernambuco.
O g1 não pode confirmar se os dois estão habilitados, pois o inquérito corre em sigilo. Na representação contra Rafael Nunes, Niedja da Silva afirma que o defensor a abordou "grosseiramente" no Presídio de Igarassu e que teria sido constrangida pelo colega, que, segundo ela, "assediou" o cliente dias antes.
Questionado sobre quem o teria contratado para atuar no caso, o advogado Rafael Nunes afirmou que a informação era sigilosa. Ele disse, ainda, que a procuração que o nomeia defensor de Marcelo da Silva e destitui Niedja da Silva já consta nos autos do inquérito policial.
Diante da controvérsia sobre a legitimidade dos defensores de Marcelo da Silva, o g1 questionou a Secretaria Executiva de Ressocialização (Seres) sobre como o advogado teve acesso ao suspeito, considerando que ele já tinha uma advogada constituída.
Por meio de nota, a Seres informou que qualquer advogado pode ter acesso aos detentos do sistema prisional, "desde que o preso concorde em recebê-lo".
Entenda o caso
O anúncio da autoria do crime ocorreu seis anos, um mês e um dia depois do assassinato da menina Beatriz (veja o vídeo aqui). Também aconteceu 15 dias depois que os pais da garota percorreram mais de 700 quilômetros a pé, entre Petrolina e o Recife, para pedir justiça.
A peça-chave para o esclarecimento do caso foi a faca usada no crime. Os peritos coletaram o DNA no cabo da arma, deixada no local do homicídio. As amostras estavam misturadas ao sangue de Beatriz.
O DNA de Marcelo da Silva já estava no banco genético do estado desde 2019, quando foi feito um mapeamento de criminosos condenados.
A ex-gerente da Polícia Científica, Sandra Santos chefiou a corporação durante sete anos e saiu do cargo dias antes do anúncio da descoberta da autoria do crime (veja o vídeo aqui).
Ela disse que o DNA existente na faca só pode entrar no banco genético do estado após um aprimoramento tecnológico do material, já que, na época do crime, o estado não tinha a estrutura necessária.
Em 2021, foi obtido um "padrão ouro" do DNA encontrado na faca, esse material também foi incluído no banco genético do estado. Assim que a amostra do material contido na faca entrou no sistema, Marcelo da Silva foi apontado como compatível.
Por causa disso, ele foi submetido a outro recolhimento de material genético e, após diversos procedimentos, foi confirmado como o suspeito.
De acordo com a SDS, Marcelo da Silva contou, em depoimento, que entrou no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora para conseguir dinheiro. Ele, que era morador de rua, portava uma faca.
No depoimento para a polícia, o suspeito teria contado que, ao vê-lo, a menina Beatriz se desesperou e, para silenciá-la, ele teria a esfaqueado. Para os pais da menina Beatriz, a motivação apontada pela SDS "não convence" (veja o vídeo aqui).
A mãe da menina, Lucinha Mota, contou que o colégio era muito rígido, tinha protocolos de segurança e que, por isso, não acredita que a garota tenha sido morta de forma aleatória, simplesmente por ter encontrado o criminoso.
Fonte: G1 PE