A economista comportamental trabalhava na organização da Copa do Mundo de 2022, por meio da Supreme Committee for Delivery and Legacy, responsável por obras nos estádios do campeonato. No dia 6 de junho do ano passado, enquanto dormia, a mulher teve seu quarto invadido por um homem, que a estuprou.
A princípio, a economista preferiu não tornar público o caso. O crime aconteceu na capital do Catar, Doha.
Um tempo depois, Paola decidiu tornar pública a violência sofrida e fez uma denúncia formal junto à justiça do Catar. Mesmo com exames, marcas e hematomas pelo corpo, que atestavam o estupro, os holofotes se voltaram contra ela.
A partir daí, o cônsul do México no Catar, Luis Ancona, encorajou Scheitekat a recorrer e ir até a última instância. Foi o que ela fez. O criminoso precisou apenas alegar que a jovem teria “consentido” para ser liberado. Ele, inclusive, foi colocado de frente à Paola durante as investigações pelas autoridades policiais.
Apesar de haver um sistema judiciário no Catar, as tradições islâmicas ou sharia também são determinantes nas condenações civis. Quase 80% da população dos Emirados Árabes segue as leis islâmicas, inclusive, também podem ser aplicadas a quem não segue.
Enfrentando o processo
Depois de tudo, a economista conseguiu sair do Catar e voltou para a casa da família, na cidade do México. Mesmo assim, o processo segue tramitando na Justiça daquele país. Ela foi informada que, por não haver câmeras ou imagens que tivessem flagrado o crime, o homem foi absolvido.
No último dia 14 de fevereiro, quando estava de volta ao México, houve uma segunda audiência sobre o caso de “relação extraconjulgal”. Nem ela nem a defesa compareceu. A próxima data marcada para a próxima audiência será no próximo dia 6 de março, no tribunal de Doha.
Ao site El País México, a economista deu detalhes de como foi enfrentar o caso junto às autoridades árabes sem o auxílio diplomático correto. Isto porque desde o momento em que decidiu levar o processo a frente, Paola relatou que não teve mínima ajuda das autoridades mexicanas no Catar.
O próprio chanceler, que em um primeiro momento a encorajou a levar o caso adiante, chegou a dizer que ela deveria ter “trancado melhor” o quarto, sugerindo que isso teria evitado que o criminoso a estuprasse.
“Senti um certo abandono depois de me sentir muito protegida e muito acompanhada. Não considero que tenha vindo de um ponto de maldade, mas que havia muito desconhecimento tanto da linguagem quanto das leis. Essas negligências e não assumir a responsabilidade pelas palavras podem ferir muito as pessoas”, disse a jovem.
“Eu acho que há um despreparo muito grande com a perspectiva de gênero. Um diplomata pode ser excepcionalmente culto, pode ser extremamente capaz e ao mesmo tempo extremamente excludente ou misógino ou misógino, e essas são as coisas que precisam ser abordadas”, completou.
Islamismo
Convertida ao islamismo desde a infância, Paola também chamou atenção para quem a defende utilizando a islamofobia.
“Algo que surgiu do meu caso é um discurso de ódio que não resolve nada. Não faz nada além de criar tensão. No México existe uma comunidade muçulmana, e a última coisa que eu gostaria é que eles, que também manifestaram seu apoio a mim nesta situação, sofressem assédio ou dificuldades no ambiente acadêmico e de trabalho”, explicou a economista.
Mesmo com o trâmite que envolve sua saúde e segurança, a mexicana não descarta voltar ao Catar, porque, segundo ela, é “injusto descartar o país inteiro” pelo seu sistema judicial.
“Se falamos do sistema judicial mexicano, também ficamos horrorizados. Jamais gostaria de estar em um processo que me faça enfrentar a Justiça Mexicana. Mas não é por isso que vou dizer que não vou voltar ao México. Tenho um carinho especial pelo Catar, tenho meu trabalho lá. Então, não é tão fácil dizer ‘não vou voltar'”, explicou.
Fonte: metropoles.com