A votação ocorreu nesta sexta-feira (5). Foram 23 votos favoráveis, sete contrários e uma abstenção. Veja lista mais abaixo.
Freitas é acusado de invadir Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, em fevereiro, durante manifestação antirracista.
Freitas teve o mandato cassado pela primeira vez em 22 de junho. Porém, a Justiça avaliou que a convocação das primeiras sessões não respeitou os prazos legais, o que levou à anulação da votação dos vereadores.
Na época, a Câmara discordou da decisão e avaliou ter cumprido "todos os requisitos regimentais pertinentes ao caso".
A vaga de Freitas chegou a ser assumida pela suplente, Ana Júlia (PT), mas após a anulação das sessões ela voltou à suplência e ele reassumiu o cargo. Entenda abaixo.
De acordo com a CMC, o projeto de resolução será promulgado pela Mesa Diretora e publicado no Diário Oficial do município, passando a valer.
Cumprida essa etapa, a Câmara, em novo ato formal, irá declarar vago o posto então ocupado por Freitas, abrindo o prazo de cinco dias úteis para a convocação de suplente do PT e, em ato contínuo, cinco dias para a posse.
Renato Freitas e os advogados participaram das sessões de julgamento.
A sessão desta sexta foi acompanhada também pelo presidente do Conselho Nacional de Direitos Humanos, Darci Frigo; por Gustavo Coutinho, vice-presidente da ABLGT; por Juarez Cirino dos Santos, criminalista; por Angelo Vanhoni; por Dr. Rosinha; e pelo padre Luiz Haas, da Igreja do Rosário.
'Espetáculo persecutório'
Em plenário, Renato Freitas qualificou o processo contra ele de "espetáculo persecutório".
"[Um processo] que não se fundamenta na legalidade e no interesse público, que encontra razões tão somente no preconceito, de origem social, por sermos pobres e representantes das ruazinhas de terra e das donas Marias, desesperadas e desempregadas, dos filhos sem pai, das comunidades sem esperança à mercê da violência. (...) Aqui, incomodamos aqueles que há séculos estão acomodados no poder", disse.
Em plenário, Renato Freitas qualificou o processo contra ele de "espetáculo persecutório" — Foto: Rodrigo Fonseca/CMCFreitas também disse que por ser cristão entrou na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos naquela situação e do contrário não entraria.
"Ali é também minha casa, por isso me senti à vontade e acolhido. Nós, o povo, temos o dever ético de retirar o chicote da mão do inimigo, pois quem chicoteia a vida do próximo, embora não perceba, está desvalorizando a própria vida. A luta pacífica pela vida não pode ser considerada um crime, mas deveria ser um compromisso de todos nós", afirmou.
Como os vereadores votaram
A favor da cassação:
• Alexandre Leprevost (Solidariedade)
• Amália Tortato (Novo)
• Beto Moraes (PSD)
• Denian Couto (Pode)
• Ezequias Barros (PMB)
• Flávia Francischini (União)
• Hernani (PSB)
• João da 5 Irmãos (União)
• Jornalista Márcio Barros (PSD)
• Leonidas Dias (Solidariedade)
• Marcelo Fachinello (PSC)
• Mauro Bobato (Pode)
• Mauro Ignácio (União)
• Noemia Rocha (MDB)
• Nori Seto (PP)
• Oscalino do Povo (PP)
• Sargento Tânia Guerreiro (União)
• Serginho do Posto (União)
• Sidnei Toaldo (Patriota)
• Tico Kuzma (Pros)
• Tito Zeglin (PDT)
• Toninho da Farmácia (União)
• Zezinho Sabará (União).
Contra cassação:
• Carol Dartora (PT)
• Dalton Borba (PDT)
• Herivelto Oliveira (Cidadania)
• Marcos Vieira (PDT)
• Maria Letícia (PV)
• Professora Josete (PT)
• Professor Euler (MDB).
Outras situações:
• Salles do Fazendinha (DC) se absteve.
• Osias Moraes (Republicanos), Pastor Marciano Alves (Solidariedade), Pier Petruzziello (PP) e Éder Borges (PP), por serem autores de representações, e o próprio Freitas, foram declarados impedidos de votar.
Segundo a Câmara, diferentemente do que comumente ocorre, o vereador que preside a Sessão Especial vota, por se tratar de uma das exceções previstas no artigo 144 do Regimento Interno da CMC.
O outro lado
A defesa de Renato Freitas se diz indignada com "a cassação insustentável e ilegal do parlamentar" e afirmou que vai recorrer à Justiça contra "esse triste ato cometido por 23 vereadores".
"Como está claro, o procedimento está contaminado por inúmeras nulidades, sendo a última delas entender que prazo decadencial se conta em dias úteis, sem falar nas diversas outras violências contra o devido processo legal e a ampla defesa. Além disso, o próprio relatório que recomendou a cassação claramente afasta a íntegra das supostas infrações do vereador Renato Freitas, constatando absurdamente a quebra de decoro pelo fato do vereador, após o encerramento da missa, ter apenas se pronunciado em defesa de vidas negras dentro da igreja".
Renato Freitas perdeu o mandato na Câmara de Curitiba por quebra de decoro — Foto: Reprodução/RPCAlém disso, a defesa diz que "a cassação é absurda" e não houve crime nem quebra de decoro.
"A Câmara de Vereadores de Curitiba ousou cassar um vereador por um ato político, dentro de uma igreja dos pretos, e o arcebispo se manifestou contra a cassação. O Papa Francisco vai receber o vereador Renato em setembro e ouvirá dele este relato que deixa claro o racismo que ocorreu. É o próprio legislativo criminalizando a política".
Por fim, a defesa comenta que tem confiança na Justiça e convicção de que "essa lamentável deliberação é um símbolo do racismo estrutural que ainda envergonha o Brasil" e será revertida pelo Judiciário Brasileiro.
Suspensão das primeiras sessões
A 4ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) suspendeu as sessões especiais da CMC em 5 de julho. A decisão foi da desembargadora Maria Aparecida Blanco de Lima.
Foram cancelados os efeitos das sessões de 21 e 22 de junho, e Renato pôde voltar ao cargo.
A decisão não impediu que novas sessões fossem convocadas, o que foi concretizado pela Câmara em 11 de julho.
A desembargadora entendeu que a CMC não cumpriu os prazos legais para marcar as sessões que cassaram o mandato de Freitas. A defesa alegou que não foi notificada com mínimo de 24 horas de antecedência, como prevê a lei.
Na decisão, a desembargadora afirmou que houve a intimação da defesa de Freitas, por e-mail encaminhado em 20 de junho às 15h27 - logo, 24 horas e três minutos antes da sessão agendada para o dia seguinte, às 15h30.
No entanto, segundo a decisão, não houve evidências de que o advogado tenha tido ciência do teor dentro dos três minutos que assegurariam o cumprimento do prazo, e "que tem-se por certo que a leitura foi feita partir das 17h31, o que já não atenderia ao prazo de 24 horas mínimas estipulado em lei".
Entenda o início da judicialização
• Justiça suspende sessão marcada para julgar pedido de cassação de Renato Freitas
• Câmara recorre de decisão que suspendeu sessão que poderia cassar Renato Freitas
• Justiça nega pedido da Câmara para retomar sessão que pode cassar Renato Freitas
• Câmara consegue marcar sessões que podem cassar vereador Renato Freitas
Recursos internos no caso
Freitas teve a cassação de mandato encaminhada ao plenário pela primeira vez pelo Conselho de Ética e Decoro Parlamentar em 10 de maio.
Em 17 de maio, a defesa do vereador Renato Freitas entrou com um recurso na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), da Câmara, pedindo a anulação do procedimento contra ele.
No dia 19 de maio, por 5 a 1 votos, a CCJ negou o pedido da defesa do vereador, antes mesmo de a Câmara ser notificada da suspensão da sessão que julgaria a cassação.
Parecer no Conselho de Ética
O parecer sobre o caso de Renato foi feito pelo relator vereador Sidnei Toaldo. O documento foi concluído e apresentado no Conselho de Ética da Casa em 6 de maio, quando recebeu pedido de vista da vereadora Maria Letícia (PV).
Na conclusão do parecer, Toaldo relatou que houve quebra de decoro por parte de Freitas.
Disse, também, que durante a invasão à igreja, o vereador disse "palavras de natureza político-ideológica" junto aos manifestantes.
Principais alegações do procedimento contra Renato:
• Perturbação da prática de culto religioso
• Entrada não autorizada dos manifestantes
• Realização de ato político no interior da Igreja do Rosário
À época, o advogado de Freitas afirmou que o processo tinha deixado de ser jurídico e se tornado perseguição política.
Nas oitivas no Conselho de Ética, iniciada em 21 de março, 12 testemunhas foram ouvidas. O procedimento foi instaurado na CMC a partir de cinco representações que alegam, principalmente, quebra de decoro.
Em março, antes das oitivas, a Arquidiocese de Curitiba apresentou um documento ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar pedindo que o mandato de Renato Freitas não fosse cassado.
O caso
A invasão da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos aconteceu em 5 de fevereiro, durante protestos de repúdio ao assassinato do congolês Moïse Kabagambe e de Durval Teófilo Filho. O vereador integrava a ação.
Na época, a Arquidiocese de Curitiba registrou Boletim de Ocorrência contra Renato Freitas e passou a investigar o caso.
O padre Luiz Hass disse que celebrava uma missa no local e que precisou interromper o culto diante da entrada dos manifestantes no templo. Freitas alega que o culto tinha acabado.
Em 9 de fevereiro, Renato Freitas falou sobre o assunto durante sessão ordinária na câmara e pediu desculpas pela atitude. Assista abaixo.
"Algumas pessoas se sentiram profundamente ofendidas, e para essas pessoas eu sinceramente e profundamente peço perdão. Desculpa. Não foi, de fato, a intenção de magoar ou de algum modo ofender o credo de ninguém. Até porque eu mesmo, como todos sabem, sou cristão", disse.
Fonte: g1