A ideia partiu do diretor da cadeia, Lindemberg Gonçalves Lima, que nas horas vagas, também é astrônomo amador. Mas claro que, para a ideia se tornar uma realidade, ele precisava provar a viabilidade do projeto. E para isso, Lindemberg resolveu investir seus próprios recursos para comprar os espelhos e envolver alguns detentos na construção do tubo e da base do seu primeiro telescópio.
Quando concluíram esse primeiro telescópio, os detentos tiveram sua primeira experiência com a Astronomia. Observaram as crateras da Lua, as luas de Júpiter e os anéis de Saturno. E não dá para imaginar a emoção de ter esse primeiro contato com Astronomia através de um instrumento construído por eles mesmos. E isso serviu de motivação não só para os detentos, mas também para Lindemberg.
Lindemberg fez fotos do equipamento e também das imagens produzidas por ele. A partir daí levou a ideia do projeto de ressocialização dos detentos a partir da construção de telescópios, para Paula Frassinetti, juíza daquela comarca. Paula ficou encantada com as imagens e com a ideia e abraçou o projeto de corpo e alma.
[ Paula Frassinetti, Lindemberg Lima e o primeiro telescópio construído pelos detentos – Foto: Reprodução paraibadebate.com.brO nome da cidade, onde esse projeto vem sendo desenvolvido, não poderia ser mais apropriado: Esperança. Esperança é uma cidade no Agreste Paraibano distante 159 Km da capital João Pessoa. Esperança também é a palavra que resume nosso sentimento ao conhecer essa ideia tão inovadora e inspiradora. E com o apoio de Paula Frassinetti, a ideia de Lindemberg se transformou no projeto que também não poderia ter um nome mais adequado: Esperança no Espaço.
Paula rapidamente conseguiu alocar verbas de prestação pecuniária para bancar a compra de mais ferramentas, espelhos e material para construção de mais telescópios. Essas verbas são repassadas à entidade e podem ser aplicadas em projetos com finalidade social, como este idealizado por Lindemberg. Com o apoio da magistrada, o projeto ganhou escala. Os telescópios estão sendo produzidos, ainda de forma artesanal, mas em quantidade e qualidade maiores.
[ Telescópios construídos e em construção na Cadeia Pública de Esperança – Foto: Rammony Barbosa]A ideia é que os novos equipamentos construídos no projeto possam, não só atender aos detentos daquela cadeia, mas também serem doados às escolas públicas da região. Assim, eles poderão ajudar na divulgação da ciência, além de motivar os detentos envolvidos no projeto, contribuindo com sua autoestima e buscando resgatar a esperança de um futuro melhor pelo caminho do trabalho e do estudo.
E essa transformação, já fica evidente na empolgação com que os detentos falam do trabalho. O projeto vem dando tão certo que Lindemberg já planeja a construção de um novo espaço para expandir o projeto, envolvendo mais detentos e, quem sabe, também produzindo alí seus próprios espelhos.
O Projeto Esperança no Espaço é algo realmente inspirador. Inspirador não só para os detentos e para aqueles que trabalham em sua ressocialização, mas para todos que conhecem o poder transformador da Astronomia.
[ Presos constroem telescópio em presídio de Esperança na Paraíba – Foto: Rammony Barbosa ]E quem tem a satisfação de conhecer o projeto de perto e ver a empolgação e o orgulho com que cada um fala daquilo que construiu, tem a certeza de que essa experiência precisa ser difundida e espelhada em outros presídios pelo país. Porque o que os detentos da Cadeia Pública de Esperança estão construindo não são apenas telescópios, mas um futuro melhor para cada um.
Carl Sagan, que foi um dos maiores divulgadores da Ciência do Século XX, dizia que a Astronomia é uma experiência de humildade e formadora de caráter. E talvez o projeto Esperança no Espaço, seja uma boa prova de que Carl Sagan estava certo mais uma vez.
Fonte: olhardigital.com.br