Mulher realiza sonho de se tornar advogada após ass4ssin4t0 não esclarecido de noivo

Via @portalg1 | Eliane Tavares dos Anjos Faustino, de 41 anos, moradora de Itanhaém, no litoral de São Paulo, se formou Bacharel em Direito em 2004, após o assassinato não esclarecido do noivo, há 23 anos, na capital paulista. Em agosto deste ano, depois de 18 anos, ela prestou e passou no Exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP).

Agora advogada, Eliane conta que foi após o crime, em 1999, que resolveu cursar Direito. Ela buscava respostas para a morte do companheiro, já que nunca soube o que houve e quem o matou, além de não ter tido suporte na época.

Dias depois do assassinato, ela descobriu que estava grávida de dois meses do primeiro filho e, ao g1, contou que foi desaconselhada pelo advogado a dar continuidade no caso.

"Me senti injustiçada e deixei para lá naquele momento, mas quando iniciei o curso foi com esse objetivo [buscar esclarecimentos]. A minha vida, porém, tomou outro caminho e vi que o curso de Direito é extremamente complexo e exigia muito mais do que só aquele desejo de Justiça".

Durante os estudos, Eliane engravidou do segundo filho. Ela contou que foi um período bastante conturbado pois as crianças tinham muitos problemas de saúde. Mesmo assim, ela conseguiu concluir a faculdade por meio de um programa de financiamento estudantil em 2004.

“O sonho de ser advogada ficou guardado por todos esses anos. Tive muitos contratempos, mas nunca me deixei abater. Sempre tive que levantar, sacudir a poeira e enfrentar os obstáculos. Perdi meu primeiro amor nova e tive que ser forte porque tinha meu filho para cuidar”, disse.

Exame da Ordem

Mesmo formada ela não conseguiu atuar na área pois havia reprovado algumas vezes no Exame da OAB. "Direito é uma área que exige muito do profissional. Então, para passar no exame de Ordem precisa ter um saber jurídico mais elevado, estratégia de estudos e você precisa de livros".

"Me deparei com uma realidade totalmente diferente da qual eu achava que era, então vieram as decepções, pois era formada, mas não conseguia exercer [a profissão]. Eu não tinha prática, não tinha conhecimento, eu não vinha de família de advogados. Pelo contrário, venho de família de nordestinos, pessoas simples, com pouco estudo, foi muito difícil. Vi aquele sonho que projetei ir por água abaixo".

Mesmo com a formação em direito desde 2004, Eliane não conseguiu atuar na área pois enfrentou dificuldades para aprovação no Exame da OAB — Foto: Arquivo Pessoal

Da limpeza à ouvidora-geral

Em 2010, Eliane teve um problema familiar com o irmão e mudou-se para Itanhaém, junto com a mãe e três filhos pequenos, onde passou por dificuldades financeiras, principalmente, por não conseguir colocação no mercado de trabalho. "Encontrei muitas portas fechadas, então trabalhei por algum tempo como manicure".

Seis anos depois, ela participou de uma seletiva na prefeitura para o cargo temporário de serviços gerais para reforçar a varrição das ruas durante a temporada. Na tentativa de um emprego fixo, no ano seguinte, Eliane prestou concurso público para assistente jurídico e ajudante geral - foi aprovada no segundo e nomeada em novembro de 2018.

"Quando assumi o concurso, trabalhei uns meses ainda na rua, mas, por causa de problema de saúde, precisava trabalhar internamente". Ainda em 2018, Eliane foi diagnosticada com a Doença de Crohn - síndrome, que afeta o sistema digestivo. “É uma doença autoimune que tem altos e baixos. Atualmente, estou tratando com uso de imunossupressor biológico”.

De acordo com Eliane, os gestores souberam que ela tinha formação superior e a chamaram para trabalhar na parte administrativa da Secretaria de Urbanização. No começo deste ano, ela foi convidada para ser ouvidora-geral. "E lógico que aceitei o desafio. Iniciamos a transição em julho e fui oficialmente nomeada em 16 de agosto".

Novo diploma e mais planos

Com previsão de terminar a segunda faculdade neste ano, a advogada, que está cursando Letras, planeja fazer uma pós-graduação.

“A vida é para quem não tem medo de viver. Dificuldade a gente passa, mas sempre tive anjos sem asas que Deus colocou na minha vida. Tenham fé, se programem, criem estratégias e nunca desistam porque o gosto da vitória não tem preço”.

Antes de chegar ao cargo de ouvidora-geral, Eliane trabalhou na limpeza das ruas em Itanhaém (SP) — Foto: Arquivo Pessoal

Fonte: g1

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