Antônia nasceu na roça em Serra Azul de Minas, no estado de Minas Gerais. Desde cedo foi uma aluna nota 10, dedicada aos estudos e comprometida com tudo o que se propusesse a fazer. A dedicação foi qualidade ensinada pela mãe:
“Ela dizia que quem tem a cama feita pode ser mais ou menos, quem não tem precisa ser muito bom. Foi minha primeira lição sobre a desigualdade brasileira”, afirma.
Quando se formou no ensino médio, aos 17 anos, decidiu buscar um emprego e se candidatou a uma vaga em um banco privado. No processo de seleção a jovem Antônia precisou fazer uma prova e sentiu que tinha ido bem no teste.
Apesar de estar preparada para a oportunidade, depois de muito tempo ela descobriu que a prova nem sequer havia sido corrigida. O motivo? Disseram que ela tinha “cara de pobre”.
“De onde eu venho, levo uma lição de disciplina, coragem, determinação, de não desistir. É ilusão achar que todos estão no mesmo patamar de concorrência aos postos de poder. Meritocracia é uma ilusão em diferentes níveis do discurso.” declarou.
Esse triste acontecimento marcou a mulher para sempre mas não foi o suficiente para desanima-la.
Decidida a conquistar uma vida melhor, Antônia se mudou para Belo Horizonte. Lá trabalhou como doméstica por cinco anos e morou de favor na casa de parentes. Porém, o salário mal dava para pagar as contas e ao ser demitida, a mulher ficou sem ter onde morar:
“Num determinado dia, ao terminar meu serviço de faxina, fui convidada a me retirar da casa onde estava. Fiquei sem ter onde dormir e fui para um ponto de ônibus aguardar o horário de voltar para o trabalho e assim fui ficando”, relembra.
A Juíza também relembrou a falta de empatia das pessoas:
“Havia uma patroa que fazia questão de manter uma enorme distância de mim”, conta. “E isso, justamente, na época em que eu passava a noite na rua, no ponto de ônibus.”
Novos desafios
Aos 22 anos Antônia decidiu tentar outro caminho desafiador: os concursos públicos.
“Fui até um cursinho e lá descobri que custava muito além do que eu poderia pagar com meu salário de doméstica. Então, passei a recolher as cópias manchadas ou inutilizadas que outros alunos jogavam no lixo”, conta.
Foram anos de dedicação, muitos concursos públicos até a mulher conseguir alcançar a magistratura. Consciente de como uma história tão poderosa pode inspirar pessoas que, assim como ela, sofrem preconceito e provações a juíza decidiu escrever um livro de memórias em homenagem à neta Mel. “Retalhos: Colcha de histórias para Mel”.
Em entrevista concedida ao Uol, Antônia deixou uma mensagem para todos os brasileiros:
“Com as ferramentas que tiver em mãos, você conseguirá fazer a sua mudança. Não se compare com outros, comparação só existe quando duas pessoas saem do mesmo ponto de partida. Como isso não acontece, dentro das suas possibilidades, seja você a senhora do seu destino” finalizou.
Fonte: refletirpararefletir.com.br