Monique Malcher, de ascendência indígena, é natural de Santarém, no Pará. Ela venceu em 2021 o prêmio Jabuti na categoria contos com o livro 'Flor de Gume', que trata de temas como alienação parental, violência doméstica e abuso sexual.
Foi justamente esse livro que o detento leu, após o presídio receber uma doação de livros da ong SP Leituras. A carta foi escrita na véspera da prova do Enem para pessoas privadas de liberdade.
Detento envia carta para escritora e viraliza na web: ‘Sonho em também escrever’. — Foto: Reprodução/Redes SociaisNa carta, o detento contou que estava ansioso pelo vestibular e resolveu escrever a carta para se expressar. Ele diz que terminou de ler o livro de Monique e que nunca imaginou sentir algo tão intenso após uma leitura.
“Como é que se descreve uma sensação inédita, impactante e tão intensa assim? Jamais havia lido algo parecido. Até me envergonho de te parabenizar. Parabéns é infinitamente pouco do que você merece”, diz na carta.
Em outro trecho, o homem conta como teve acesso ao livro e diz que acredita que a escritora paraense poderia se surpreender até onde a obra dela chegou.
“Talvez você nunca imaginou onde sua obra chegaria, mas saiba que ela adentrou os portões da Penitenciária II de Tremembé através de uma generosa doação e eu tive a graça de poder ler seu trabalho. Não vou comentar, pois não tenho conhecimento nem repertório para isso, resumo que o livro é maravilhoso”, afirma.
Penitenciária P2 em Tremembé — Foto: Silas Basílio/ Rede VanguardaO detento conta para Monique que também quer seguir a mesma profissão que ela e se tornar um escritor.
“Sua forma de escrever chega a me fazer corar de vergonha, pois eu tenho esse sonho de também escrever e conseguir me exprimir através de textos, palavras”, disse na carta
Por fim, ele fala sobre um projeto de leitura que é desenvolvido na penitenciária e convida Monique a de alguma forma colaborar com o projeto, a partir da iniciativa que ela já tem para incentivar mulheres na literatura.
“Aqui no presídio temos um pequeno projeto cultural chamado Café Literário, onde procuramos aprender, discutir e disseminar literatura, e produzimos alguns contos e poesias também. Li na contracapa do teu livro, que você estuda ou incentiva mulheres na literatura e quadrinhos, daí tive o ímpeto e ousadia de escrever para parabenizar e de humildemente pedir apoio caso você possa e queira estender seu projeto até aqui, ainda que de forma remota”, explicou
Monique Malcher, de Santarém-PA, venceu o Prêmio Jabuti 2021 categoria Contos — Foto: Arquivo pessoalSurpresa e emoção
Nas redes sociais, a escritora Monique compartilhou a surpresa que foi receber a carta e a emoção que sentiu ao ler a história do detento.
“Li essa carta chorando muito, pois esse com certeza entrou para a lista de dias mais felizes de minha vida. Ronaldo ainda não sabe, mas vou responder a carta e enviar outras coisas para ele. Um escritor que no momento reside em Tremembé e tem muitos sonhos”, disse na publicação.
A escritora recebeu diversos comentários de seguidores que se emocionaram com o relato e se sentiram inspirados pela história. Ela agradeceu o apoio e disse que pretende entrar em contato com Ronaldo.
“Chorei do início ao fim, nunca senti uma emoção tão forte na vida, não sei explicar. Vou entrar em contato com Ronaldo e a assistente social que ele me passou e depois conto pra vocês”, disse na postagem.
Veja a íntegra da carta divulgada pela escritora:
Bom dia! Amanhã vou prestar a prova do Enem! Eu simplesmente não sabia como começar essa carta, então coloquei a primeira verdade, sonho e preocupação que me veio à mente na intenção de que você conseguisse me entender completamente apenas com essa frase.
Mas acho que consegue. Principalmente agora que terminei de ler seu livro Flor de Gume. Como é que se descreve uma sensação inédita, impactante e intensa assim? Jamais havia lido algo parecido. Me envergonho até te parabenizar. Parabéns é infinitamente pouco perto do que você merece!
Você talvez nunca imaginou onde sua obra chegaria, mas saiba que ela adentrou os portões da PII de Tremembé através de uma generosa doação de livros feita pela ONG SP Leituras, e eu tive a graça de poder ler seu trabalho.
Não vou comentar, pois ainda estou abismado e não tenho conhecimento nem repertório para isso, resumo que o livro é maravilhoso e a sua forma de escrever chega a me fazer corar de vergonha, pois eu tenho esse sonho de também escrever e conseguir me exprimir através de textos, palavras.
Aqui no presídio temos um pequeno projeto cultural chamado Café Literário, onde procuramos aprender, discutir e disseminar literatura, e produzimos alguns contos e poesias também.
Li na contracapa do teu livro, que você estuda ou incentiva mulheres na literatura e quadrinhos, daí tive o ímpeto e ousadia de escrever para parabenizar e de humildemente pedir apoio caso você possa e queira estender seu projeto até aqui, ainda que de forma remota.
Por g1 Vale do Paraíba e Região
Fonte: g1
Via @portalg1 | Um detento da Penitenciária II de Tremembé, no interior de São Paulo, enviou uma carta para uma escritora elogiando o livro dela e falando sobre o sonho que tem em também ser escritor. Emocionada, a escritora Monique Malcher compartilhou a carta nas redes sociais e a postagem viralizou, atingindo mais de 650 mil visualizações no Twitter.
Monique Malcher, de ascendência indígena, é natural de Santarém, no Pará. Ela venceu em 2021 o prêmio Jabuti na categoria contos com o livro 'Flor de Gume', que trata de temas como alienação parental, violência doméstica e abuso sexual.
Foi justamente esse livro que o detento leu, após o presídio receber uma doação de livros da ong SP Leituras. A carta foi escrita na véspera da prova do Enem para pessoas privadas de liberdade.
Detento envia carta para escritora e viraliza na web: ‘Sonho em também escrever’. — Foto: Reprodução/Redes SociaisNa carta, o detento contou que estava ansioso pelo vestibular e resolveu escrever a carta para se expressar. Ele diz que terminou de ler o livro de Monique e que nunca imaginou sentir algo tão intenso após uma leitura.
“Como é que se descreve uma sensação inédita, impactante e tão intensa assim? Jamais havia lido algo parecido. Até me envergonho de te parabenizar. Parabéns é infinitamente pouco do que você merece”, diz na carta.
Em outro trecho, o homem conta como teve acesso ao livro e diz que acredita que a escritora paraense poderia se surpreender até onde a obra dela chegou.
“Talvez você nunca imaginou onde sua obra chegaria, mas saiba que ela adentrou os portões da Penitenciária II de Tremembé através de uma generosa doação e eu tive a graça de poder ler seu trabalho. Não vou comentar, pois não tenho conhecimento nem repertório para isso, resumo que o livro é maravilhoso”, afirma.
Penitenciária P2 em Tremembé — Foto: Silas Basílio/ Rede VanguardaO detento conta para Monique que também quer seguir a mesma profissão que ela e se tornar um escritor.
“Sua forma de escrever chega a me fazer corar de vergonha, pois eu tenho esse sonho de também escrever e conseguir me exprimir através de textos, palavras”, disse na carta
Por fim, ele fala sobre um projeto de leitura que é desenvolvido na penitenciária e convida Monique a de alguma forma colaborar com o projeto, a partir da iniciativa que ela já tem para incentivar mulheres na literatura.
“Aqui no presídio temos um pequeno projeto cultural chamado Café Literário, onde procuramos aprender, discutir e disseminar literatura, e produzimos alguns contos e poesias também. Li na contracapa do teu livro, que você estuda ou incentiva mulheres na literatura e quadrinhos, daí tive o ímpeto e ousadia de escrever para parabenizar e de humildemente pedir apoio caso você possa e queira estender seu projeto até aqui, ainda que de forma remota”, explicou
Monique Malcher, de Santarém-PA, venceu o Prêmio Jabuti 2021 categoria Contos — Foto: Arquivo pessoalSurpresa e emoção
Nas redes sociais, a escritora Monique compartilhou a surpresa que foi receber a carta e a emoção que sentiu ao ler a história do detento.
“Li essa carta chorando muito, pois esse com certeza entrou para a lista de dias mais felizes de minha vida. Ronaldo ainda não sabe, mas vou responder a carta e enviar outras coisas para ele. Um escritor que no momento reside em Tremembé e tem muitos sonhos”, disse na publicação.
Chegou uma carta. Me causou curiosidade porque ela veio da Penitenciária de Tremembé. Ronaldo começou a carta me contando sobre o Enem e acertou quando disse que me surpreenderia ao saber que Flor de Gume adentrou os portões da penitenciária e chegou até ele. pic.twitter.com/GITZGlFTzX
— Monique Malcher (@moniquemalcher) February 9, 2023
A escritora recebeu diversos comentários de seguidores que se emocionaram com o relato e se sentiram inspirados pela história. Ela agradeceu o apoio e disse que pretende entrar em contato com Ronaldo.
“Chorei do início ao fim, nunca senti uma emoção tão forte na vida, não sei explicar. Vou entrar em contato com Ronaldo e a assistente social que ele me passou e depois conto pra vocês”, disse na postagem.
Veja a íntegra da carta divulgada pela escritora:
Bom dia! Amanhã vou prestar a prova do Enem! Eu simplesmente não sabia como começar essa carta, então coloquei a primeira verdade, sonho e preocupação que me veio à mente na intenção de que você conseguisse me entender completamente apenas com essa frase.
Mas acho que consegue. Principalmente agora que terminei de ler seu livro Flor de Gume. Como é que se descreve uma sensação inédita, impactante e intensa assim? Jamais havia lido algo parecido. Me envergonho até te parabenizar. Parabéns é infinitamente pouco perto do que você merece!
Você talvez nunca imaginou onde sua obra chegaria, mas saiba que ela adentrou os portões da PII de Tremembé através de uma generosa doação de livros feita pela ONG SP Leituras, e eu tive a graça de poder ler seu trabalho.
Não vou comentar, pois ainda estou abismado e não tenho conhecimento nem repertório para isso, resumo que o livro é maravilhoso e a sua forma de escrever chega a me fazer corar de vergonha, pois eu tenho esse sonho de também escrever e conseguir me exprimir através de textos, palavras.
Aqui no presídio temos um pequeno projeto cultural chamado Café Literário, onde procuramos aprender, discutir e disseminar literatura, e produzimos alguns contos e poesias também.
Li na contracapa do teu livro, que você estuda ou incentiva mulheres na literatura e quadrinhos, daí tive o ímpeto e ousadia de escrever para parabenizar e de humildemente pedir apoio caso você possa e queira estender seu projeto até aqui, ainda que de forma remota.
Por g1 Vale do Paraíba e Região
Fonte: g1