O “Mais Saúde” conta com investimentos de R$ 52 milhões e deve ajudar a zerar a fila por cirurgias eletivas, atualmente com cerca de 15 mil pessoas. Conforme o assessor de comunicação da Secretaria de Governo, Alexsandro Nogueira, crianças e adolescentes que já tiveram problemas de bullying identificados pela Secretaria de Justiça e Segurança Pública foram encaminhadas à coordenadoria de suporte psicossocial e, na maioria dos casos, para a rede pública de saúde. “Esse é o público que já está na fila dos procedimentos: crianças com orelha de abano, nariz adunco, crescimento excessivo das mamas e problemas oftalmológicos, como estrabismo e alto grau de miopia”, disse.
Segundo ele, não serão incluídas inicialmente cirurgias para obesidade, já que não há consenso sobre a aplicação nesses casos. Ainda segundo o gestor, é preciso que as crianças e os pais concordem com o tratamento. “Isso já aconteceu em alguns casos que estão na fila dos procedimentos, mas estamos levantando outras crianças que podem passar por essas correções. Como são cirurgias reparadoras, não apenas estéticas, serão usados recursos do SUS (Sistema Único de Saúde)”, disse.
No caso da otoplastia, cirurgia para corrigir as chamadas orelhas de abano, o SUS cobre o procedimento quando houver comprovação médica de que essa condição afeta a saúde da pessoa ou interfere, de forma grave, em seu bem-estar. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), cerca de 5% da população mundial são afetados pelo problema que, além do desconforto estético, impacta diretamente na autoestima das pessoas. É muito comum que essas pessoas sofram situações de bullying, baixa estima, sensação de insegurança e até mesmo distúrbios psicológicos.
Para a cirurgiã plástica Luciana Pepino, membro especialista da SBPC, os procedimentos de fato resolvem o problema estético, mas são necessários outros cuidados. “As consequências emocionais e psicológicas podem ser permanentes, mesmo depois de cirurgias reparadoras, como a rinoplastia (correção do nariz) e otoplastia, as mais procuradas nesses casos. Isso ocorre porque os danos causados pela prática de bullying podem ficar tão fortemente enraizados no psique que só a cirurgia plástica não dá conta. Ela repara o lado estético do adolescente, mas o emocional precisa de acompanhamento especializado”, disse.
O presidente da SBPC no Mato Grosso do Sul, cirurgião plástico Cesar Benavides, considerou “muito boa” a iniciativa do governo estadual e tem esperança de que seja adotada em outros Estados. “A aparência tem um peso muito grande sobretudo na adolescência e acaba sendo um problema, principalmente em escolas públicas, onde muitas vezes o aluno que sofre bullying não tem coragem de tomar uma atitude.” Ele ressalta a necessidade de fazer a abordagem no momento certo e de forma individualizada.
“O procedimento para orelha de abano pode ser programado para após os cinco anos; já o do nariz deve se esperar mais. Para a menina, até os 16 anos e para o garoto, até os 17. Antes, não recomendamos.” Ele falou da importância das autoridades estarem atentas para essa questão pelo impacto que ela representa para a auto-estima da criança. “Já recebi um um menino que colou a orelha à cabeça com cola de secagem rápida, com risco de produzir uma infecção.”
O crescimento das mamas em meninos na adolescência, período de formação dos grupos sociais, gera constrangimento e dificuldade nas relações de amizade e namoro. “Eles, assim como as meninas com hipertrofia da mama (seios excessivamente grandes), acabam sofrendo bullying e se excluem.” O especialista alerta que o apoio psicológico é fundamental antes mesmo da cirurgia. “O adolescente precisa ser lembrado de que algumas dessas cirurgias deixam cicatrizes e terão de conviver com elas.”
Ele reforça que, muitas vezes, o problema da criança ou do adolescente não se restringe à questão estética. “É preciso saber se o que incomoda é só o bullying na escola ou tem algo mais. Às vezes, a cobrança está dentro da família. Tratar só o externo sem investigar o que acontece internamente não resolve. Às vezes a postura precisa mudar dentro de casa. Quantos pais sentem dificuldade em elogiar o filho, elevar sua auto-estima. É preciso uma abordagem multiprofissional”, disse.
Cirurgias que serão oferecidas a alunos da rede pública do MS:
• Rinoplastia (melhora a aparência e a proporção do nariz e também pode corrigir dificuldade respiratória)
• Otoplastia (correção para as chamadas orelhas de abano)
• Ginecomastia (mamas com aspecto feminino em homens)
• Mamoplastia redutora (remove o excesso de gordura da mama para atingir um tamanho proporcional com o corpo e aliviar o desconforto associado com seios muito grandes)
• Cirurgia de estrabismo (corrige o desalinhamento dos olhos, reposicionando o globo ocular)
• Correção de cicatrizes
Por José Maria Tomazela
Fonte: estadao.com.br