"Escrivão ligando para mim, falando que delegado estava tentando falar comigo. Não era momento para aquilo. Depois, esperando chegar no IML, foi pressão de vários detetives, policiais. Será que isso é normal?", questionou o pai de Rafaela.
Rafaela Drumond foi encontrada morta na casa da família, em Antônio Carlos, no Campo das Vertentes, em 9 de junho. O caso foi registrado como suicídio. Ela atuava na delegacia de Carandaí, na mesma região, e relatou assédio moral e sexual no trabalho.
"Um delegado fez pressão para ver se eu sabia de alguma coisa, dos fatos que ela estava convivendo. [...] Se ele fez essa pressão sobre mim, com minha filha chegando do IML, imagina o que ela não viveu nos últimos meses de vida?", contou Aldair.
Testemunhas já ouvidas
Letícia Gamboge, chefe da Polícia Civil de MG, Reinaldo Felício Lima, corregedor-geral da Polícia Civil, e Luísa Barreto, secretária de Planejamento e Gestão, participaram da reunião.
A delegada Letícia Gamboge destacou que as investigações sobre a morte de Rafaela, conduzidas pela Corregedoria-Geral da Polícia Civil, são acompanhadas pelo Ministério Público de Minas Gerais. Segundo ela, a maior parte das testemunhas já foi ouvida.
"Tivemos já quase a totalidade das diligências realizadas, e há o aguardo da elaboração de um laudo pericial de extração de dados do telefone celular da Rafaela – extração autorizada pela família – cuja senha é desconhecida. Há licenças de um software israelense que fazem a quebra desse sigilo visando a apuração do conteúdo. Então, a gente necessita desse retorno por parte da provedora do software", afirmou.
O corregedor-geral da Polícia Civil, Reinaldo Felício Lima, disse que o procedimento está sendo feito de maneira "isenta".
"Se no curso das investigações restar vislumbrada qualquer conduta transgressora, os servidores serão investigados, com direito a contraditório e ampla defesa. E, ao término, será proposta determinada sanção a essas pessoas".
Deputados, representantes do governo, entidades sindicais e a família da vítima também participam da audiência.
Possíveis assediadores
O pai da vítima disse que o delegado Itamar Cláudio Netto e o investigador Celso Trindade de Andrade são os responsáveis pelo assédio praticado contra Rafaela. A escrivã, no entanto, não havia contado à família o que sofria dentro da delegacia. O pai reforçou que as informações sobre os assediadores estão nos áudios e vídeos deixados por Rafaela.
Os dois policiais foram transferidos de Carandaí para Conselheiro Lafaiete em 23 de junho, dias após o corpo de Rafaela ter sido encontrado.
Um dos requerimentos da audiência determina que seja encaminhado à Polícia Civil pedido para que os dois servidores suspeitos de assédio contra Rafaela sejam afastados preliminarmente de suas atividades até o fim das investigações.
Sugestão de exoneração
A família ainda denuncia omissão por parte do delegado. Em um dos áudios em que o g1 teve acesso e que fazem parte da investigação, Rafaela diz que o delegado a desencorajou a denunciar os problemas que enfrentava.
"Isso vai ser comprovado, por isso, peço que abram o celular de Rafaela. Provavelmente essa conversa vai estar lá", disse Aldair Drumond, pai dela.
O celular da escrivã está com a Polícia Civil.
Boletim de ocorrência
O pai de Rafaela ainda questionou o teor do boletim de ocorrência feito no dia da morte dela.
"[O boletim de ocorrência] foi completamente fraudulento. No dia eu estava completamente transtornado, não dei depoimento para a Polícia Militar e fui cercado por policiais civis. Tudo que está ali é falacioso e inventado por algum investigador ali", denunciou Aldair.
O g1 procurou a Polícia Civil e a Polícia Militar e aguarda retorno sobre as denúncias.
Por Rodrigo Salgado, g1 Minas — Belo Horizonte
Fonte: g1