Família de escrivã encontrada m0rt4 denuncia assédio em funeral e fraudes no boletim de ocorrência

Via @portalg1 | O pai da escrivã da Polícia Civil Rafaela Drumond, encontrada morta pela família no início de junho, afirmou nesta sexta-feira (7) que policiais o teriam pressionado durante o velório da filha para obter informações sobre momentos antes da morte dela. Aldair Drummond fez a denúncia durante audiência da Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

"Escrivão ligando para mim, falando que delegado estava tentando falar comigo. Não era momento para aquilo. Depois, esperando chegar no IML, foi pressão de vários detetives, policiais. Será que isso é normal?", questionou o pai de Rafaela.

Rafaela Drumond foi encontrada morta na casa da família, em Antônio Carlos, no Campo das Vertentes, em 9 de junho. O caso foi registrado como suicídio. Ela atuava na delegacia de Carandaí, na mesma região, e relatou assédio moral e sexual no trabalho.

"Um delegado fez pressão para ver se eu sabia de alguma coisa, dos fatos que ela estava convivendo. [...] Se ele fez essa pressão sobre mim, com minha filha chegando do IML, imagina o que ela não viveu nos últimos meses de vida?", contou Aldair.

Testemunhas já ouvidas

Letícia Gamboge, chefe da Polícia Civil de MG, Reinaldo Felício Lima, corregedor-geral da Polícia Civil, e Luísa Barreto, secretária de Planejamento e Gestão, participaram da reunião.

A delegada Letícia Gamboge destacou que as investigações sobre a morte de Rafaela, conduzidas pela Corregedoria-Geral da Polícia Civil, são acompanhadas pelo Ministério Público de Minas Gerais. Segundo ela, a maior parte das testemunhas já foi ouvida.

"Tivemos já quase a totalidade das diligências realizadas, e há o aguardo da elaboração de um laudo pericial de extração de dados do telefone celular da Rafaela – extração autorizada pela família – cuja senha é desconhecida. Há licenças de um software israelense que fazem a quebra desse sigilo visando a apuração do conteúdo. Então, a gente necessita desse retorno por parte da provedora do software", afirmou.

O corregedor-geral da Polícia Civil, Reinaldo Felício Lima, disse que o procedimento está sendo feito de maneira "isenta".

"Se no curso das investigações restar vislumbrada qualquer conduta transgressora, os servidores serão investigados, com direito a contraditório e ampla defesa. E, ao término, será proposta determinada sanção a essas pessoas".

Deputados, representantes do governo, entidades sindicais e a família da vítima também participam da audiência.

Possíveis assediadores

O pai da vítima disse que o delegado Itamar Cláudio Netto e o investigador Celso Trindade de Andrade são os responsáveis pelo assédio praticado contra Rafaela. A escrivã, no entanto, não havia contado à família o que sofria dentro da delegacia. O pai reforçou que as informações sobre os assediadores estão nos áudios e vídeos deixados por Rafaela.

Os dois policiais foram transferidos de Carandaí para Conselheiro Lafaiete em 23 de junho, dias após o corpo de Rafaela ter sido encontrado.

Um dos requerimentos da audiência determina que seja encaminhado à Polícia Civil pedido para que os dois servidores suspeitos de assédio contra Rafaela sejam afastados preliminarmente de suas atividades até o fim das investigações.

Sugestão de exoneração

A família ainda denuncia omissão por parte do delegado. Em um dos áudios em que o g1 teve acesso e que fazem parte da investigação, Rafaela diz que o delegado a desencorajou a denunciar os problemas que enfrentava.

"Isso vai ser comprovado, por isso, peço que abram o celular de Rafaela. Provavelmente essa conversa vai estar lá", disse Aldair Drumond, pai dela.

O celular da escrivã está com a Polícia Civil.

Boletim de ocorrência

O pai de Rafaela ainda questionou o teor do boletim de ocorrência feito no dia da morte dela.

"[O boletim de ocorrência] foi completamente fraudulento. No dia eu estava completamente transtornado, não dei depoimento para a Polícia Militar e fui cercado por policiais civis. Tudo que está ali é falacioso e inventado por algum investigador ali", denunciou Aldair.

O g1 procurou a Polícia Civil e a Polícia Militar e aguarda retorno sobre as denúncias.

Por Rodrigo Salgado, g1 Minas — Belo Horizonte
Fonte: g1

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