Na segunda-feira, a direção do Hospital Municipal Pedro II afirmou que ele tinha sido deixado na unidade por um abrigo de Búzios, sem qualquer indicação de atendimento médico. O GLOBO procurou a prefeitura de Búzios, que não retornou os contatos.
Sete foram demitidos
Nas redes sociais, o secretário municipal de Saúde Daniel Soranz afirmou que a prefeitura do Rio demitiu sete pessoas e aplicou 14 medidas disciplinares a funcionários envolvidos no caso e classificou a situação como "gravíssima" e que necessitava de "punição exemplar para que não se repita". O paciente está internado em uma unidade de baixa complexidade e aguarda vaga em um abrigo público.
'Jogaram feito um lixo'
Segundo a professora Tatiana Cristina de Almeida Borges, de 44 anos, o homem foi deixado pelos próprios maqueiros da unidade.
— Nós o encontramos um pouco mais longe da porta do hospital. Os lojistas que estavam lá contaram que os maqueiros falaram que iam deixar em um lugar mais distante para não dar problema para eles. Acontece que a gente que levou ele para a porta. Ele estava de fralda, de sonda, sem condições de resolver nada. Deixaram ele ali podendo pegar uma infecção generalizada, sem amparo — relata Tatiana Cristina.
Ainda de acordo com Tatiana Cristina, o homem contou que foi deixado na rua após a assistente social do hospital afirmar que "não poderia fazer mais nada por ele". A funcionária está entre os demitidos. Tatiana alega que ele também relatou ter optado por não passar o contato da família.
— Eu fiquei indignada com aquilo tudo, então procurei a coordenação do hospital. Eles me falaram que ele não queria ligar para a família e foi uma escolha dele ir embora. Porém, o homem me contou que a assistente social disse que não poderia fazer mais nada por ele e que ele estava ocupando o leito de uma pessoa que precisava. Sendo assim, ele só falou que poderiam tirá-lo dali. Acontece que ele claramente não poderia ser deixado daquele jeito no meio da rua, jogaram feito um lixo — conta Tatiana Cristina.
A professora afirma que o hospital já conhece o paciente e que ele foi abandonado após deixar um abrigo em Búzios, na Região dos Lagos. Além de Tatiana, outras pessoas que passavam pela unidade prestaram auxílio.
— O hospital disse que ele é um paciente já conhecido e que tem um quadro de rebeldia. Ele estava em um abrigo em Búzios, sendo cuidado por um pastor, que depois não estava mais conseguindo arcar com os custos e o largou no hospital. Ele não recebe dinheiro nenhum, nada do governo. O próprio hospital acionou o Ministério Público, fizeram esse papel certinho, mas erraram ao deixá-lo nessas condições. Duas pessoas viram aquela cena e começaram a chorar, compraram comida para ajudar — destaca Tatiana Cristina.
A mulher tentou obter mais informações sobre o paciente para fazer o acompanhamento dele, mas o hospital negou o pedido. Depois dessa intervenção, segundo Tatiana, o homem foi levado novamente para um leito da unidade.
— Eu perguntei receber mais notícias sobre ele, mas falaram que eu não era familiar, então as informações seriam limitadas. O hospital acabou levando-o para dentro de novo, mas acho que só fizeram isso por conta da repercussão ali na hora — diz Tatiana Cristina.
Em nota, o Hospital Municipal Pedro II informou , na última segunda-feira, que "tentava articulação com uma instituição de acolhimento para recebê-lo, quando outros funcionários atenderam ao pedido do usuário para ser levado para fora, pois ele se negava a permanecer no hospital, informando que teria alguém para buscá-lo". Confira o comunicado na íntegra:
"A direção do Hospital Municipal Pedro II informa que o homem foi deixado no hospital por um abrigo de Búzios, sem qualquer indicação de atendimento médico no momento. O Serviço Social tentava articulação com uma instituição de acolhimento para recebê-lo, quando outros funcionários atenderam ao pedido do usuário para ser levado para fora, pois ele se negava a permanecer no hospital, informando que teria alguém para buscá-lo. Ao ser observado que não havia ninguém para buscá-lo, mesmo contra a vontade do usuário, a unidade o mantém sob guarda, até que o Serviço Social consiga encaminhá-lo para uma instituição de acolhimento, uma vez que não tem familiares próximos para recebê-lo".
Por Felipe Grinberg e Vittoria Alves
Fonte: oglobo.globo.com