Entre as mensagens compartilhadas pelo trio com os colegas estão frases como "essa aí vai para o gás" e "eu adoro negros, pena que pararam de vender". O delegado responsável pelo caso, Rodrigo Souza, considera preocupante o comportamento dos universitários. "Eles podem não ter coragem [de cometer uma violência], mas ficam estimulando. A gente tem que estancar isso", avalia.
Procurada pelo TAB, a UniAmérica, que encaminhou a denúncia dos estudantes às autoridades, preferiu não se manifestar.
Algumas das postagens faziam menções diretas ao ditador nazista Adolf Hitler em imagens em vídeo. Incomodados com o comportamento agressivo e preconceituoso dos colegas, estudantes da turma chegaram a excluí-los do grupo de WhatsApp, segundo a polícia.
As investigações tiveram início há dois meses, depois que a polícia recebeu uma denúncia da instituição de ensino e cumpriu um mandado de busca e apreensão na casa de um dos estudantes. A partir da análise do celular, os investigadores descobriram a participação de outros alunos nas postagens e deflagraram uma operação para cumprir mais seis mandados de busca e apreensão na casa de outros dois deles, em 10 de julho.
Chamou a atenção dos policiais o fato de um dos universitários investigados usar como protetor de tela de seu notebook uma imagem do Massacre de Columbine, ocorrido em abril de 1999 em um colégio nos Estados Unidos. A imagem passou a ser usada pelo estudante na semana em que ocorreu o ataque a uma escola de Cambé, no norte do Paraná.
De tornozeleira
Os estudantes de direito acusados estão sendo monitorados com tornozeleira eletrônica e proibidos de ingressar no estabelecimento de ensino. A polícia suspeita que eles sejam participantes ativos de grupos de disseminação de ódio.
O delegado Souza conta que o comportamento dos investigados gerou um clima de tensão e medo em sala de aula, preocupando colegas, que evitam falar sobre o assunto. Ele informou ainda que, durante a verificação dos celulares dos acusados, foi identificado um outro grupo de WhatsApp intitulado "Partido Nazista", com troca de mensagens sobre o assunto. Uma postagem fazia alusão à Ku Klux Klan, organização supremacista dos EUA.
"Há discursos racistas, homofóbicos, elementos inerentes ao nazifascismo", confirma o Secretário de Direitos Humanos e Relações com a Comunidade de Foz do Iguaçu, Ian Vargas. Ele afirma que acompanha a investigação e colocou a secretaria à disposição para organizar palestras e fazer campanhas educativas para combater este tipo de crime.
Contradição
Para a polícia, os universitários acessaram o conteúdo postado em grupos de disseminação de ódio. Dois dos estudantes usavam aplicativos para mascarar o endereço de IP do computador, evitando a identificação.
Ao colher o depoimento, Souza diz que um deles se mostrou contrariado pelo fato de um delegado negro conduzir o inquérito. E afirma que um dos acusados tem "cor parda". Os alunos investigados têm idades entre 19 e 20 anos e não possuem antecedentes criminais.
Segundo Souza, os pais dos garotos disseram desconhecer a participação deles nas postagens. Um dos pais informou ao delegado que o filho ficava muito no celular e no computador, mas que ele não imaginava tal comportamento.
As investigações prosseguem e a polícia aguarda laudos complementares após a finalização das perícias nos aparelhos celulares. É possível que outros integrantes da rede sejam identificados. Nas conversas rastreadas, há contatos dos estudantes com pessoas de Santa Catarina, estado com presença de grupos nazistas e supremacistas.
Se forem condenados, os universitários podem ser submetidos a penas de 2 a 5 anos por crime de apologia ao nazismo (artigo 20 da lei 7716), e de 3 anos por associação criminosa.
A polícia, que diz estar recebendo inúmeras denúncias relacionadas a disseminação de conteúdos de ódio em Foz do Iguaçu, vai encaminhar cópia do procedimento para a instituição de ensino. Os alunos poderão ser expulsos.
A reportagem do TAB tentou ouvir a direção da universidade, mas eles preferiram não dar entrevistas, temendo a repercussão.
Por Denise Paro
Colaboração para o TAB, de Foz do Iguaçu (PR)
Fonte: tab.uol.com.br