Jornalista e apresentador do programa “Diario del Giorno”, Andrea Giambruno sugeriu que as mulheres poderiam evitar a violação não se embriagando demais.
“Se você vai dançar, tem todo o direito de ficar bêbada, mas, se você evitar ficar bêbada e perder a consciência, também evitará se meter em encrencas porque não encontrará o lobo”, atestou Giambruno.
Seus comentários, numa conversa com o jornalista conservador Pietro Senaldi, eclodiram na forma de indignação entre os mais variados campos do espectro político e atingiram a premiê. Cobrada por uma posição, a política de extrema direita adotou o silêncio.
Apelidado de “primeiro cavalheiro” ou o “Ken” de Meloni, Giambruno parece ter apreciado a controvérsia e se manteve desafiador.
Reforçou que o estupro é abominável, mas se recusou a pedir desculpas pelas observações: “Se eu tivesse dito algo errado, teria pedido desculpas, mas não é o caso e nunca haverá um dia em que um político me dirá o que dizer.”
As declarações de Giambruno vêm na esteira de dois casos de estupros coletivos que abalaram o país. Em julho, duas meninas de 10 e 12 anos foram estupradas por um grupo de adolescentes em Caivano, Nápoles.
A premiê condenou o ataque e prometeu reforçar a segurança. Dias depois, em outro episódio violento, sete jovens embebedaram uma mulher de 19 anos e a arrastaram para uma área isolada de Palermo, onde ela foi estuprada pelo grupo.
As condenações ao marido de Meloni se centraram na mesma linha: a da justificação da agressão sexual pela culpabilidade da vítima.
As críticas uniram os partidos de oposição e ganharam também a adesão da atriz e política Alessandra Mussolini, neta de Benito Mussolini e deputada no Parlamento Europeu pelo partido Força Itália. Ela considerou os comentários de Giambruno gravíssimos e típicos de um homem da Idade Média.
“Estamos no habitual: um homem que diz “você pediu”. Violação é violação, se não entendermos isso, realmente acabou para nós, mulheres”, afirmou a eurodeputada ao jornal “La Repubblica”.
Ex-prefeita de Turim e representante do Movimento Cinco Estrelas, Chiara Appendino apelou à primeira-ministra e à rede Mediaset, para a qual Giambruno trabalha, para intervirem no caso.
“Temos a primeira mulher premiê da história, que afirma lutar contra a violência de gênero e se apresenta como mulher, mãe e cristã. Ela deveria se distanciar das declarações muito sérias do parceiro porque o silêncio implicará a sua cumplicidade com elas.”
Meloni visitará Caivano nesta quinta-feira (31), onde se encontrará com as vítimas e seus parentes. Mas não se distanciou das opiniões do marido.
Por Sandra Cohen
Fonte: g1