Agricultora que se chama ‘Lei’ luta para manter nome após erro em novo registro: ‘Me sinto única’

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Via @portalg1 | Com um nome digno do Poder Legislativo, uma agricultora goiana procurou um mutirão da Justiça Itinerante para continuar “única”. Levando vida de “celebridade” ao se apresentar e chamando a atenção por onde passa, a agricultora Lei De Moreira da Costa, de 47 anos, quer consertar um erro em um registro de nascimento para continuar especial.

“Eu me sinto única, todo mundo fica abismado: ‘Seu nome tá certo?’. Não tem uma pessoa que vai escrever meu nome que não pergunta isso. Uma vez cheguei ao Cais que fazia acompanhamento e eu parecia uma celebridade. Todo mundo sabia quem eu era”, contou.

Apesar de amar se chamar “Lei”, a agricultora percebeu que, no cartório, após a certidão de nascimento ter sido feita, o nome dela foi alterado para “Leide” sem que ela soubesse. A divergência de documentos impede, inclusive, que ela oficialize o casamento, por isso procurou ajuda no mutirão (entenda abaixo detalhes da história).

“As pessoas às vezes acham que não é nada, mas pra mim é muita coisa que tá em jogo. Tem muita coisa que preciso, quero fazer, mas não posso enquanto eu não regularizar. Eu não casei e nem posso tomar a santa ceia na igreja por isso”, disse.

É “Lei” mesmo?

Para entender o porquê da vontade de continuar se chamando “Lei”, é preciso voltar 30 anos na vida da agricultora. Chamada de “Leide” até os 18 anos, ela se chocou enquanto fazia a identidade porque foi informada que escreveu o nome errado.

“Eu falei: ‘como assim assinei meu nome errado? Assino meu nome todos os dias’ Aí ele pegou minha certidão de nascimento, me mostrou e falou assim: seu nome é Lei De Moreira da Costa. Você tem que separar esse de’”, explicou.

Ao g1, Lei explicou a conclusão que ela chegou sobre o nome ter sido registrado como “Lei De” e não “Leide”. Uma foto mostra a cópia do registro de nascimento original da agricultora (veja abaixo).

“Aquelas máquinas de datilografia eram muito ruins, elas davam espaço. Acho que foi isso que aconteceu com o meu nome. Na hora que eles foram digitar na máquina, deve ter dado um espaço, eles não perceberam e ficou”, detalhou.

Agricultora Lei De Moreira da Costa, de 47 anos, quer consertar um erro no registro de nascimento em Goiás — Foto: Arquivo Pessoal/Lei De Moreira

Procura à Justiça

Lei explicou que procurou a Justiça porque queria uma cópia da certidão de nascimento com o nome “Lei de Moreira da Costa”, porque a cartorária se recusava a lhe entregar. Ela disse que tentou após perder sua carteira de identidade e tomou um “banho de água fria” ao pedir ajuda no cartório.

“Depois de eu ter falado muito pra cartorária que estava errado, ela falou assim: ‘Pois eu não mudo mais o seu nome a não ser que o juiz mande’. Eu tinha medo. Como que eu ia provar?”, descreveu.

O g1 não localizou o contato do cartório citado por Lei até a última atualização desta reportagem.

A agricultora disse que a cartorária, por entender que se tratava de um espaçamento errado, fez o registro com o nome Leide. No entanto, a alteração impacta na vida da mulher, já que todos os outros documentos são grafados como “Lei”, não “Leide”.

No mutirão, Lei foi orientada pela equipe do “Registre-se”, programa da Corregedoria Nacional de Justiça, que o Tribunal de Justiça de Goiás levou para os cidadãos que moram em assentamentos rurais do Estado.

A agricultora soube que, por conta da alteração na Lei 14.382, de 2022, ela pode ir ao cartório e, com os documentos necessários, alterar de uma vez por todas seu nome para Lei.

Situações inusitadas

Ao g1, Lei detalhou sobre a história de ter sido reconhecida em uma unidade de saúde (citada no início da reportagem).

“E eu cheguei lá e todo mundo... ‘Ah, a Lei chegou! Chegou aqui a Lei’. É muito interessante o meu nome”, relembrou.

Em outra ocasião, Lei precisava emitir um passaporte para o sobrinho, mas em um Vapt-Vupt, foi informada que seu nome não estava nos pedidos feitos por um juizado da infância e da juventude. Mas, a informação estava errada. O nome estava no pedido.

“A atendente achou que eu era uma lei. Ela não sabia que era o meu nome”, brincou.

Por que não ser “Leide”?

Questionada sobre o porquê se se manter “Lei”, a agricultora foi direta na resposta.

“Todos os meus documentos são como ‘Lei’. Eu não acho que tenho que retroceder, não. Eu tenho que seguir em frente. Todos os meus documentos estão em lei, então eu não vou voltar pra “Leide”, não”, explicou.

Moradora do assentamento Bandeirante, entre Baliza e Doverlândia, Lei disse que vai procurar um cartório para fazer a mudança oficial.

Por Michel Gomes, g1 Goiás
Fonte: g1

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