O crime, segundo a Polícia Civil, aconteceu em junho quando Guilherme Ribeiro Quintino Machado, de 20 anos, estava na loja e foi seguido por Henrique Duraes Bernardes, de 41, e impedido de sair do local. Ele contou que foi obrigado a mostrar onde estavam as peças que desistiu de comprar.
Aos investigadores, o atleta sustentou que foi seguido e intimidado por ser negro.
Por sua vez, Henrique negou o crime e destacou que apenas pediu para que Guilherme mostrasse onde ele havia deixado a bolsa com as peças de roupas. No entanto, o segurança afirmou que não "exista perfil para que sejam feitas as abordagens, mas sim atitudes". Aos investigadores, o homem também destacou que errou ao abordar o jogador de futebol.
No relatório enviado ao Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), a delegada Rita de Cassia Salim Tavares, titular da Decradi, após ouvir testemunhas e analisar as imagens das câmeras de segurança da loja, sustentou que ficou "configurada uma ação discriminatória que consistiu no tratamento diferenciado dirigido a vítima, justamente em razão de pertencer a uma determinada raça, cor e/ou origem étnica, que evidencia o racismo".
Henrique Duraes é funcionário da empresa Prossegur. À época da abordagem, ele trabalhava na loja da Zara há pouco mais de um mês.
O g1 tentou contato com Henrique, a empresa Prossegur e com a Zara, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.
O MPRJ foi procurado para saber se o segurança foi denunciado à Justiça. No entanto, o órgão não respondeu aos questionamentos.
Como foi o episódio
Guilherme e a namorada, Juliana, foram separadamente para os setores masculino e feminino para escolher roupas. Juliana disse que pegou uma ecobag que é fornecida aos clientes e a entregou para Guilherme. Os dois chegaram a escolher algumas peças, mas optaram por não levá-las.
Eles deixaram a sacola em uma arara da loja e foram até a saída. Ao tentarem sair, o segurança impediu Guilherme. Juliana disse que questionou a ação, mas não foi respondida pelo funcionário. Toda a abordagem durou cerca de 40 minutos.
Segurança segue jogador em loja no Rio — Foto: ReproduçãoGuilherme conta que foi obrigado a seguir, acompanhado do segurança, até a arara onde havia deixado a bolsa. Depois disso, o funcionário levou a ecobag até uma mulher para a verificação dos itens. O atleta destacou que era questionado pelo segurança o tempo todo sobre onde estava a bolsa. Ele também disse que ficou constrangido com toda a ação.
Juliana gravou os questionamentos aos funcionários da loja, sem receber resposta. Nas imagens feitas por ela, ainda é possível ver o segurança com a sacola na mão, levando em direção a outra funcionária.
Guilherme contou que parecia que o segurança estava recebendo instruções.
Depois da conferência dos produtos da loja, Guilherme foi liberado, mas Juliana retornou ao estabelecimento e solicitou a presença do gerente. Ela disse que, questionada, a responsável pelo local afirmou que verificaria o ocorrido e, depois de 20 minutos, voltou sem explicações. A namorada do atleta disse que também procurou o SAC do BarraShopping.
“Analisamos que realmente houve um crime de racismo e precisamos acompanhar essas investigações. Temos que averiguar se a Zara tem a característica de manter seus funcionários em uma política discriminatória, principalmente em relação à cor da pele das pessoas que adentram a loja”, afirmou a advogada Letícia Domingos, que representa Guilherme.
Veja a reportagem aqui.
Por Rafael Nascimento, g1 Rio
Fonte: g1