‘Não sou caixa eletrônico, não dou joia de R$ 500 mil nem para minha mãe’, diz advogado sugar daddy

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Via @portalg1 | Formado pela Universidade de São Paulo, mestre em direito internacional, especialista em direito legislativo e com atuações no Banco Internacional e na Organização das Nações Unidas (ONU). O advogado Fernando Latorre está há décadas imerso no mundo jurídico, onde reina o conservadorismo. Aos 50 anos, nada disso o impede de ser um sugar daddy “assumido”.

"Não estou fazendo nada de errado como sugar daddy, não estou explorando ninguém. Quando me perguntam o que eu ganho com isso, com a força da minha condição econômica, eu ganho a chance de uma mulher interessante me ver. Numa boate seria diferente. Agora, se ela vai gostar ou não, é outra história", afirmou ele.

Com a carga de quatro relacionamentos sérios ao longo da vida, decidiu experimentar algo novo após o fim de um casamento de cinco anos: “No primeiro momento, nos três, quatro primeiros meses, fiquei solteiro mesmo, mal saí de casa. Aí comecei a ficar 'pimpão' de novo, comecei a olhar para o lado”, brincou.

Foi quando conheceu os aplicativos de relacionamento sugar: “Eu falei ‘bom, isso não é uma balada, eu não preciso ter o físico de um cara de 30 anos, malhado, porque aqui eu vou fazer o papo, vou na minha arma forte’”.

De início, Latorre estranhou a dinâmica de uma relação em que o dinheiro tem um papel tão importante, mas conta que aprendeu a lidar. "Eu me achava péssimo, tinha culpa, me sentia um bosta em não conseguir chegar e simplesmente conversar em uma balada com uma mulher mais nova. Comecei a trabalhar na forma de enxergar essa relação."

“Nunca exijo que uma mulher tenha qualquer obrigação comigo quando saio com ela, até porque não é esse tipo de relação que eu quero. Não sou caixa eletrônico” — Fernando Latorre, advogado e sugar daddy

Mas isso não quer dizer que ele não cumpra o papel de sugar — Fernando não nega que gosta de proporcionar viagens e até presenteia as mulheres com quem se relaciona.

“Quando viajo, gosto de tratar quem está comigo muito bem, ela não precisa pagar nada. Mas dar joia de R$ 500 mil, por exemplo, eu não faço isso nem pela minha mãe. Mas se eu estou te convidando para viajar comigo, você não vai gastar nada, um chiclete... É esse luxo que gosto de proporcionar. Dou presentes que acho que são a cara da pessoa. Uma vez, dei um vibrador, e a menina adorou.”

O advogado e sugar daddy Fernando Latorre tem 50 anos — Foto: g1

O advogado já chegou a pagar também um cursinho para uma ex-namorada prestar vestibular: "É uma menina que conheci no aplicativo, superlegal. Um mês depois, ela me contou que tinha dificuldade de bancar as despesas e que todas as relações dela eram sugars. Ela estava fazendo cursinho para a faculdade de direito. Tinha 23 anos, morava no Capão Redondo, trabalhava demais. Era o sonho dela. Era caro, mas eu paguei com gosto", lembrou.

'Eu até tinha preconceito'

Voltando um pouco no tempo, Latorre revela que não aceitava muito a ideia de homens mais velhos saindo com mulheres mais novas "Eu tinha até preconceito. Achava feio, falava que o cara estava comprando a menina, não via esse tipo de relação de nenhuma forma com bons olhos."

Depois de entender e ser um dos atores desse romance moderno, o advogado passou a classificar o relacionamento sugar apenas como uma forma de cortar etapas. "Não tem aquela história de ir para uma balada, tentar interagir com uma mulher. O jogo está dado, você sabe o que a pessoa quer, e ela sabe o que você quer."

"Eu tenho isso muito bem resolvido. A exploração sexual está na tua atitude, na forma como você se comporta. Eu sempre tento conquistar a pessoa que está comigo. Eu falo com todas as letras: 'Estou te convidando para sair, mas você não precisa ficar comigo'."

O g1 conversou também com babies para entender a dinâmica da relação.

• Babies querem fugir do estereótipo que atrela o tipo de relacionamento ao sexo.

• Já o daddy alega que o dinheiro facilita a sua interação com uma mulher mais jovem e 'corta' etapas da conquista.

É exploração sexual?

Relacionamentos sugar quase sempre estão atrelados a uma dúvida capital: existe exploração sexual nesse tipo de relação? Para Isabela de Castro, presidente da Comissão Permanente da Mulher na OAB-SP e advogada, não é o caso.

"Dei uma olhada em todos os sites de relacionamento sugar, não cheguei a me cadastrar, mas eles sempre deixam tudo muito explícito. Não podemos falar de exploração sexual, ali fica bem claro que cada um é livre para fazer o que quiser com o seu corpo. Nesse sentido, os relacionamentos pessoais dizem respeito ao casal", explica.

"O que foi combinado entre eles, fica entre eles. O que acho importante é pontuar como vamos encarar juridicamente esses relacionamentos. Se, por acaso, encerrar o relacionamento, como as partes vão seguir, se existe um contrato sobre o direito que cada um tem, sobre aquilo que eles compartilham e como vai ser dividido."

"Mesmo se você for falar em questão de prostituição, a prostituição em si não é crime no Brasil. É legal. Então, se a pessoa quiser vender o seu corpo ou qualquer outra questão relacionada a isso, ela está livre para fazê-lo. E outra coisa: em qualquer outro aplicativo de relacionamento existe isso, não somente no universo sugar", completa Isabela.

Segundo o psicanalista Christian Dunker, o relacionamento sugar surgiu apenas como resquício da prostituição. Ele afasta a ideia de que haja ligação entre profissionais do sexo e mulheres que acessam os aplicativos.

"Ao longo do século XX, a prostituição foi se profissionalizando, foi se tornando um trabalho como qualquer outro. Essa desmoralização, no sentido de sair do plano moral e caminhar para outras considerações de saúde e proteção trabalhista, criou uma aceitação da prostituição como uma prática que envolve troca no universo capitalista".

"Tenho a impressão de que o relacionamento sugar aparece como uma extensão disso. Uma espécie de desdobramento. Não só eu posso terminar a qualquer momento, como as negociações do que cada um vai receber em cada momento são dinâmicas, como se você tivesse entrado num certo espírito do neoliberalismo", destaca o pesquisador.

Sugar em crescimento

De acordo com dados divulgados pela plataforma MeuPatrocínio, que é exclusiva para quem busca esse tipo de relação, o número de sugar babies e daddies cresceu no Brasil, principalmente depois da pandemia.

No segundo semestre de 2023, o total de usuários da plataforma passou de 9,8 milhões, um aumento de 276% em comparação com o mesmo período de 2019, quando a plataforma tinha 2,6 milhões de cadastros ativos. A maioria dos usuários é concentrada no estado de São Paulo.

• São Paulo (SP) - 4.718.840 usuários

• Rio de Janeiro (RJ) - 1.994.618 usuários

• Minas Gerais (MG) - 1.346.222 usuários

• Paraná (PR) - 1.013.680 usuários

• Rio Grande do Sul (RS) - 846.710 usuários

• Santa Catarina (SC) - 777.532 usuários

O site é gratuito para homens e mulheres, mas há planos pagos para daddies que querem ter destaque na plataforma.

• O plano premium custa R$ 299 por mês e garante ao daddy impulsionar o perfil para receber mais visualizações

• Já o membro elite deve pagar R$ 999 mensais para ter uma espécie de carimbo e mostrar às pretendentes que pode bancar o relacionamento, além de ter os antecedentes criminais checados

Por Gustavo Honório, Deslange Paiva, g1 SP — São Paulo
Fonte: g1

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