Turista é acusada de xingar crianças negras de macacas em Mcdonald’s no litoral de SP

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Via @portalcostanorte | Um McDonald's em Guarujá, no litoral de SP, tornou-se palco de confusão generalizada, após uma turista da capital paulista ser acusada de xingar de macacas três crianças negras que brincavam no espaço infantil do local.  

“Além de ameaçar agredir as crianças, ela chamou as crianças de macacos, o que é crime. Isso é racismo”, disse, indignada, a professora Ivy Jatobá, avó das crianças, em entrevista ao Portal Costa Norte nesta sexta-feira (29).  

Acionada por Ivy, a polícia compareceu ao local e levou todos os envolvidos para a delegacia. Segundo a ocorrência a que a reportagem teve acesso, hoje, a denunciada, uma estilista de 43 anos, negou que tenha chamado as crianças de macacas, contrariando a versão da avó delas.

O que aconteceu

O caso ocorreu há uma semana,  na sexta-feira (22), no Mcdonalds Enseada, na região central de Guarujá. Ivy, que é branca, afirma que levou seus três netos, uma menina de 12 anos e dois meninos de 8 e 9, todos negros, para celebrar o início das férias no Mcdonalds, perto de uma das praias mais conhecidas do litoral, a Enseada, de Guarujá.

McDonald's Enseada, em Guarujá - Imagem: Reprodução

 “Eram umas 10h da noite. Tinha muita gente”, relata Ivy, que mora na cidade. “As crianças comeram o lanche delas e foram lá brincar no espaço recreativo. O tempo inteiro eu sentei à mesa e fiquei de frente, observando elas. De repente, a minha neta chegou desesperada e me falou ‘vó, tem uma mulher lá brigando com os meninos. Ela tá brigando com eles’. Eu vi a mulher o tempo todo gesticulando”.

Ivy afirma que foi ao espaço recreativo verificar o que estava havendo e se deparou com a turista discutindo com outro homem.

“O rapaz estava indignado. Ele me disse, ‘olha, ela acabou de chamar os seus netos de macacos’. Eu não ouvi, o que eu ouvi foi ela falando que iria arrancar eles lá de dentro, mas outras pessoas confirmaram que ela os chamou de macacos”.

Também formada em direito, a professora afirma que, com esforço, manteve a compostura, acionou a gerente do estabelecimento, que lhe prestou apoio e chamou a polícia, não sem antes também ser humilhada pela denunciada. “Ela apontava o dedo na minha cara”. Depois disso, conta ela, outros clientes também intervieram e a confusão escalou.

A versão da estilista é diferente. À polícia, ela disse que sua filha também brincava no espaço kids e se queixou de que um menino a estava chutando. “Foi quando fui até o local e conversei para que não fizessem mais isso; conversei com a avó dessas crianças e expliquei a situação. Logo após isso, começaram a me acusar e me xingar”, disse ela em depoimento.

A reportagem tentou contatar a estilista, nesta sexta-feira, por telefone e aplicativo de mensagens instantâneas, mas ela não respondeu. Caso ela ou sua defesa se manifestem, a resposta será publicada neste mesmo espaço.

“Até chorei de raiva”, diz mãe

O pior, diz Ivy, foi ver a reação dos netos e de sua família. “A minha neta o tempo inteiro chorando. Meu neto de oito anos começou a passar mal. Se fosse com adulto já seria ruim, mas fazer isso com crianças”.

Ivy e os netos em praia no litoral. "Até as últimas consequências", diz ela. Imagem: Acervo pessoal

Nora de Ivy e mãe de uma das crianças, a vendedora Alessandra Souza disse, em entrevista, que o episódio traumatizou a família inteira. “Eu fiquei com tanta raiva, tanta raiva, que eu até chorei. Como que ela chama meu filho ou qualquer outra pessoa de macaco? Isso não se faz com ninguém. A minha família é 80% negra, sabe? Vários parentes sofrendo com isso”, relata com a voz embargada.

Questionada, a Gran Roma Comércio de Alimentos, franqueada do McDonald’s, no Guarujá, disse que “repudia toda e qualquer forma de preconceito e tem um compromisso inegociável em promover um ambiente respeitoso e inclusivo em todos os seus restaurantes”. A empresa também disse que seus funcionários são treinados para agir prontamente e prestar a assistência necessária em casos de racismo nos estabelecimentos.

Após depoimento, a denunciada foi liberada e pode responder por injúria racial que, legalmente, se equipara ao crime de racismo. A reportagem segue acompanhando o caso. 

Por Redação
Fonte: costanorte.com.br

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