O pedido, protocolado por cinco vereadores, será encaminhado à comissão de ética pelo presidente da Câmara. Em 2023 também houve pedido de cassação contra o parlamentar sob acusação de que ele teria incentivado os atos de 8 de janeiro em Brasília.
O vídeo, postado na quarta-feira (17), traz diversas frases, como: "A Prefeitura de Maricá está ensinando 'macumba' às crianças em cursos e escolas municipais'. Em outro momento do vídeo, bonecas africanas, produzidas em uma oficina de arte, são chamadas de vudus. O vídeo finaliza com a mensagem: “Quando seu filho for possuído, você saberá de quem é a culpa”.
De acordo com o documento protocolado, por meio do vídeo, o citado buscou "associar às religiões de Matriz Africana como algo maléfico e que deve ser combatido por todos da sociedade".
O texto diz também que o vereador Ricardinho Netuno possui 30,9 mil seguidores no Instagram, por onde divulgou as imagens. O vídeo, ainda segundo o documento, fazia a "exposição indevida e sem autorização" de menores de idade.
Ao g1, o vereador Ricardinho Netuno negou que houve preconceito e disse que não é o autor do vídeo. O parlamentar contou ainda que recebeu o conteúdo pelo WhatsApp e que fez a divulgação apenas com o intuito de saber a opinião das pessoas.
"De forma alguma dei a minha opinião sobre o vídeo. Eu deixei bem claro. É só você assistir a minha publicação que está lá: 'Pessoal acabei de receber esse vídeo aqui no WhatsApp, gostaria de saber a sua opinião. A sua opinião é muito importante para mim', essa é minha fala. Eu tive alguma intolerância? O vídeo não é feito por mim, eu desconhecia esse vídeo eu deixei claro no início do vídeo: 'eu acabei de receber esse vídeo no WhatsApp', disse o vereador Ricardinho Netuno.
O parlamentar afirma ainda:
"Quem pegou esse vídeo e fez essa edição, acredito que tenha esse intuito de trazer o debate realmente. O que eu fiz foi pedir a opinião das pessoas. Eu não tenho problema nenhum com a religião, pelo contrário, eu acho que as religiões são muito bem-vindas e cada um se adequa com aquela que melhor convém. Nós temos que incentivar todas as religiões. Eu, a partir desse momento, vou exigir e fiscalizar a Secretaria de Cultura para que a cultura de Maricá seja preservada, tanto do cristianismo, do evangelho, do catolicismo, de todas as religiões, não só uma religião", finaliza.
Babalorixá e Prefeitura repudiam atitude
O babalorixá Antônio Jonas Chagas Marreiros, o Pai Liminha, repudiu ato do vereador Ricardinho Netuno — Foto: Bianca Chaboudet/g1O babalorixá Antônio Jonas Chagas Marreiros, o Pai Liminha, manifestou repúdio ao vídeo divulgado pelo vereador Ricardinho Netuno. Para o líder religioso, a atitude demonstrou "total alienação da história do Brasil".
"Não deveria ser despreparado, porque trabalha numa casa de lei, para poder saber um pouco da cultura universal, principalmente da cidade que ele age, que é Maricá. Certamente tem todo cunho, não só de preconceito, mas tem muitas tendências ali que vão dar margem para outros movimentos, outros segmentos sociais se sentirem ofendidos", disse.
O babalorixá, com título Dr. Honoris Causa, aproveitou, em entrevista ao g1, para explicar sobre a conduta do segmentos religiosos afro-brasileiros.
"Nós, da umbanda ou candomblé, não queremos, e nunca será, o desejo de impor ao próximo nossos credos. Entendemos que a palavra é união dos povos, pedindo paz no mundo, paz e proteção. É o pensamento do ser humano para fazer o bem", disse.
O que diz a Prefeitura
Em nota, a Prefeitura de Maricá, lembrou que o ensino da história e da cultura afro-brasileira é obrigatório por lei desde 2003 e está inserido na temática curricular nas escolas de ensino médio e fundamental para garantir a valorização da cultura brasileira.
O município também repudiou a atitude do parlamentar. Veja nota na íntegra:
"A Prefeitura de Maricá repudia veementemente o ataque contra as religiões de matrizes africanas feito pelo vereador Ricardinho Netuno. Em um vídeo preconceituoso publicado nas redes sociais, ele expõe, de forma distorcida, alunos e professores da oficina de bonecas, música e dança afro contemporânea, oferecida gratuitamente a crianças e adultos pelo projeto Maricá das Artes da Secretaria de Cultura.
Cabe ressaltar que o ensino da história e da cultura afro-brasileira é obrigatório por lei desde 2003 e está inserido na temática curricular nas escolas de ensino médio e fundamental para garantir a valorização da cultura brasileira.
A Prefeitura de Maricá respeita todas as religiões e se manifesta, com repulsa, contra as atitudes deste vereador, que deveria, como representante do povo de Maricá, combater o preconceito".
O g1 também tenta contado do partido Republicanos.
Fonte: g1