Ao todo, os indicadores de violações de direitos humanos e outros crimes, o que inclui a pornogafia infantil, também chegaram ao valor mais alto da série e aumentaram 48,7% de um ano para outro, com 101.313 notificações no ano passado.
É o que apontam dados da Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos da SaferNet divulgados nesta terça-feira (6). Os relatos, links e materiais das denúncias, que são encaminhados ao MPF (Ministério Público Federal) para investigação, começaram a ser recebidos em 2006.
De acordo com a organização, os fatores que podem explicar os recordes de denúncias são a introdução da IA (inteligência artificial) generativa para criar conteúdos de exploração infantil, a proliferação da venda de pacotes de conteúdo autogerado por adolescentes e demissões em massa nas big techs que atingiram equipes de segurança e moderação das plataformas.
"Nesse contexto de IA generativa, o criminoso não precisa enganar alguém para conseguir uma imagem íntima, ele pode criar uma sintética. Esse crime agora pode ser praticado em escala industrial", afirmou Iain Drennan, diretor-executivo da We Protect Global Alliance no evento Dia da Internet Segura, realizado nesta terça-feira pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) e pela Safernet Brasil.
Para Drennan, há pouco financiamento -público e privado- para a resposta à circulação de abuso infantil. "Há muito peso sendo colocado sobre a sociedade civil, sobre os pais e as crianças. e não deveria ser responsabilidade apenas deles."
Na lista de crimes denunciados, o que apresentou maior aumento foi o de xenofobia (252%), que passou de 4.030 registros em 2022 para 14.196 em 2023, seguido pela pornografia infantil.
Junto com a xenofobia, também cresceram as denúncias de intolerância religiosa no ambiente digital. De acordo com Thiago Tavares, fundador e diretor-presidente da SaferNet, os dois crimes -e o aumento das denúncias- estão ligados à guerra entre Israel e Hamas.
Houve queda nas notificações de racismo (-20,4%), LGBTfobia (-60,6%) e misoginia (-57,6%), esta caracterizada por conteúdos de violência ou discriminação contra mulheres.
O combate a esses tipos de crime é um dos pontos no extenso debate sobre a regulação de plataformas, em frentes como a exigência de moderação de conteúdo e a mudança de mecanismos que favorecem a propagação de ódio.
O recorde anterior de denúncias de abuso e exploração infantil havia sido em 2008, com uma explosão de conteúdos circulando pelo Orkut, então a rede social mais popular do país. Justamente na época do problema, o Google, então dono da plataforma, assinou um acordo com o MPF para entregar informações dos criminosos às autoridades.
Os outros picos da distribuição deste tipo de conteúdo ilegal foram em 2020 e 2021, período das fases mais restritivas da pandemia, que tiveram aumento das interações virtuais e de exposição em ambientes digitais, o que elevou também a quantidade de denúncias.
COMO DENUNCIAR ABUSOS ONLINE
A organização SaferNet tem um canal de denúncias anônimas. Para registrar um caso, é preciso acessar denuncie.org.br, colar o link do endereço da internet que a pessoa acredita que deva ser investigado e seguir os passos indicados na plataforma.
DICAS DE SEGURANÇA PARA PAIS
- Fale sobre segurança na internet com crianças de todas as idades quando elas se envolverem em atividades on-line
- Avalie e aprove jogos e aplicativos antes de serem baixados
- Acompanhe o que seu filho ou filha acessam na internet
- Use ferramentas de controle parental oferecidas pelas plataformas e aplicativos que seus filhos acessam
- Verifique se as configurações de privacidade estão definidas no nível mais alto para sistemas de jogos online e dispositivos eletrônicos
- Estabeleça regras sobre o uso da internet e mantenha os dispositivos eletrônicos em uma sala comum, aberta para todos da casa
- Explique que as imagens postadas online estarão permanentemente na internet
- A velha regra 'não fale com estranhos' também serve para a comunicação virtual
- O Instagram tem um guia para pais, disponível no link: https://about.instagram.com/pt-br/community/parents
Com informações do Childhood Brasil e SaferNet
Fonte: tnh1.com.br