Em entrevista exclusiva à nossa equipe, Heliton compartilhou que sua inspiração vem do desejo de fazer a diferença e de defender os direitos de seu povo.
“Minha jornada até aqui foi cheia de desafios, mas cada obstáculo superado reforçou minha determinação em lutar não apenas por mim, mas por minha comunidade e por aqueles que ainda virão. Ser advogado me permite ser essa voz”.
Contra todas as probabilidades, Heliton não apenas completou sua graduação, como também passou no Exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), tornando-se assim o primeiro indígena Huni Kui do estado do Acre a alcançar tal feito. Sua conquista é um símbolo poderoso de superação, resiliência e a importância da inclusão da diversidade cultural e étnica no ensino superior e nas profissões jurídicas.
Um exemplo de superação e determinação
A trajetória de Heliton é marcada por desafios e uma determinação inabalável. Aos oito anos, deixou sua aldeia rumo à cidade com um único propósito: buscar uma educação formal. Essa jornada o levou até Rio Branco, onde, após concluir o ensino médio, ingressou na universidade Unimeta, embasado por uma bolsa de estudos e pelo apoio financeiro do FIES.
A história de Heliton é uma inspiração para muitos, demonstrando o poder transformador da educação e a importância de se abrir espaço para todas as vozes na luta por justiça e igualdade. Ele agora se prepara para enfrentar os desafios de sua nova carreira, defendendo os direitos e interesses do povo Huni Kui e contribuindo para a construção de um futuro mais inclusivo e justo.
Sua conquista foi capturada em uma série de fotos pela fotógrafa da OAB/AC, Isabelle Nascimento (@iisabelleenascimento), destacando não apenas o advogado, mas também o indivíduo por trás dessa jornada extraordinária. Estas imagens, junto com a história de Heliton, servem como um lembrete poderoso da força do espírito humano e da capacidade de superar adversidades em busca de um objetivo maior.
O povo Huni Kui e sua história
Os Huni Kui, também conhecidos como Kaxinawá, têm uma rica história que se entrelaça com a biodiversidade da Amazônia Ocidental, habitando áreas desde o Alto Juruá até as fronteiras do Brasil com o Peru. Antes da chegada dos seringueiros no final do século XIX, os Huni Kui viviam às margens dos rios Muru, Humaitá e Iboiçu, áreas que eram consideradas seu habitat “original”. A chegada dos seringueiros marcou o início de um período de violência e exploração, forçando os Huni Kui a enfrentar desafios significativos, incluindo doenças trazidas pelos forasteiros e a exploração da borracha, que teve impactos duradouros em sua população e território.A cultura Huni Kui é profundamente enraizada em suas tradições e na relação com o meio ambiente. O nome “Huni Kuin” significa “pessoas verdadeiras” ou “pessoas com tradições”, destacando sua conexão com a terra e seus costumes ancestrais. Eles falam a língua Kaxinawá, parte da família linguística Pano, e praticam uma economia baseada na caça, pesca, coleta de plantas e agricultura de corte e queima. Mulheres e homens Huni Kui são habilidosos artesãos, produzindo itens como cestas, jóias de miçangas, cerâmicas utilitárias, redes e vestimentas.
As histórias orais dos Huni Kui falam de um tempo antes do contato com os não-indígenas, descrevendo uma migração ao longo dos rios, que os levou ao território onde hoje se concentram, principalmente ao longo do rio Envira. A invasão de seringueiros e caucheiros estrangeiros forçou os Huni Kui a se dispersarem e, em muitos casos, a se adaptarem a novas formas de viver, frequentemente marcadas por violência e exploração. Contudo, a resistência e a resiliência do povo Huni Kui permitiram que mantivessem e preservassem suas tradições culturais e sociais ao longo dos anos, apesar dos numerosos desafios enfrentados.
Esta visão ampliada sobre os Huni Kui não apenas contextualiza a importância da conquista de Heliton Souza Kaxinawá, mas também ilumina a riqueza cultural e a força deste povo, cuja história é um testemunho da sua perseverança e capacidade de adaptação diante das adversidades.