O caso ocorreu em 2014, quando a mulher tinha 22 anos. Segundo a Defensoria Pública, que representou a mulher no julgamento, ela e o ex-companheiro entraram em uma briga corporal após o homem cortar o cabelo do filho deles à força. Neste momento, a mulher deu uma facada no ex-companheiro.
"O filho do casal tinha cabelos crespos e em um dos dias de convivência da criança com a família paterna, o pai cortou o cabelo do filho, supostamente ignorando todo o cuidado que a mãe tinha. Importante pontuar que estamos falando de uma mulher negra, cujo cabelo é considerado um símbolo da sua identidade. Quando a criança voltou para o convívio materno, a mãe, muito esgotada emocionalmente, retornou à casa do pai para questionar sobre o ocorrido. Foi quando eles entraram em conflito corporal", destacou a defensora pública Michele Camelo, que atuou no caso.
A mulher ficou quatro meses presa pela facada e, posteriormente, foi acusada pelo Ministério Público pelo crime de tentativa de homicídio. Depois que a mulher deixou a unidade prisional, ela e o ex-companheiro, inclusive, reataram o relacionamento.
Ao longo do relacionamento, a mulher passou duas vezes pela Delegacia da Mulher após ter sido agredida pelo ex-companheiro - em uma das vezes, com uma paulada no rosto.
Em sua defesa, a Defensoria destacou que a mulher é órfã de pais, foi criada pelos avós, que já faleceram, e vende churrasco em uma feira para sustentar os dois filhos, além de precisar realizar sozinha todo o trabalho doméstico.
Conforme o órgão de defesa, o ápice da "sobrecarga mental" levou a cometer a tentativa de homicídio contra o ex-companheiro.
“Mostrei o contexto de sobrecarga mental feminina. Estamos falando de uma mulher negra, com poucos recursos financeiros, [...] sem rede de apoio, que precisa trabalhar e dar de conta de todas as obrigações domésticas que envolvem o cuidar. Um trabalho invisível, subestimado e desvalorizado porque é considerado natural. Fora isso, as conturbações de um relacionamento abusivo, com denúncias de violência física e psicológica. O processo inteiro não tem nenhuma testemunha, porque a máxima ainda é ‘em briga de marido e mulher ninguém mete a colher’”, conta a defensora Michele Camelo.
Por g1 CE
Fonte: g1