A peça foi criada pelo advogado e professor Lucas Castilho (@lucasadvocacia). Nela, o castelo de Hogwarts está correndo o risco de passar para a propriedade de Lord Voldemort e os bruxinhos precisam descobrir uma maneira de adquirir o imóvel de volta para ajudar o professor Dumbledore.
Lucas Castilho é morador de Paraguaçu (MG) e dá aulas de direito civil em Machado e Poços de Caldas. Advogado há 22 anos, Lucas está completando 15 anos de docência. Como professor, ele busca ser além do que a pessoa que detém o conhecimento.
“Sempre admirei o educador Rubem Alves. Ele dizia que o professor precisa ir além da figura tradicional, ele deve ser uma representação do conhecimento para os alunos e, com isso, pode ser um mágico, um herói, um místico... O importante é tornar a experiência do aprendizado mais agradável”.
Foi percebendo que a metodologia tradicional não gerava os resultados esperados que Lucas decidiu inovar. Para tornar as aulas mais dinâmicas, o professor fez cursos de criatividade, palhaço, improviso e também de metodologia participativa.
E então surgiram as encenações. O primeiro deles foi o “Civil War”, uma mistura de Marvel e Direito. Depois veio o “CSI - Civel Scene Investigation” e agora o “Harry Potter – Animus Domini”. Todas elas voltadas para ensinar direito civil aos estudantes universitários.
Feitiços e latim
Lucas contou que a ideia de reproduzir Harry Potter para estudantes de direito surgiu em 2018, mas tudo começou a ser colocado em prática depois que ele comprou a fantasia do bruxinho neste ano.
“O Harry Potter era uma história que estava na minha cabeça faz tempo, mas não havia conseguido enxergar como adaptar para o Direito. Porém, como usucapião existe o famoso ‘Animus Domini’ que é em latim e em HP há vários feitiços em latim, abriu uma avenida na minha mente e vislumbrei a possibilidade da peça”.
Foto: Daniel Franco |
Para compor a encenação, o professor contou com a ajuda de nove estudantes. Os ensaios começaram em maio e em junho foi feita a apresentação para aproximadamente 250 pessoas no teatro de uma das faculdades onde dá aula.
“Aos alunos que não desejaram participar da peça, dei a opção de um trabalho alternativo, onde eles fariam resumos de outras duas matérias, gravariam um pequeno vídeo, criariam mapas mentais do assunto estudado e elaborariam duas questões. Paralelamente gravei vídeos com a explicação das matérias a fim de ajudá-los também e disponibilizei no youtube”.
Foto: Daniel Franco |
Animus Domini
A história começa durante uma aula (clique para assistir). Dumbledore explica aos bruxos como ocorre a usucapião extrajudicial e ensina o feitiço “Animus domini”. Em seguida, Hermione pede para Harry Potter fazer um feitiço e transformar a lição em música.
Enquanto isso, Lord Voldemort destrói todos os registros de propriedade de Hogwarts e Dumbledore acaba ficando sem a escritura do castelo. Além disso, o vilão apaga a mente dos juízes e, por isso, não há como ajuizar a ação de usucapião.
Porém, Hermione se lembra que leu em um livro sobre a usucapião extrajudicial em cartório e que precisam de um documento mágico chamado ata notarial.
Foto: Daniel Franco |
E então acontece a batalha final e os bruxos vencem Lord Voldemort. Só que eles precisam de um advogado e o vilão também tinha apagado as memórias deles.
A solução acontece depois que Harry faz o feitiço ‘advocatus futurus est’ e manda Rony para o futuro. Lá ele faz faculdade, se forma, passa na OAB e volta para o presente para assinar o registro da usucapião extrajudicial em favor de Dumbledore.
“Tem horas que eu nem acredito. Eu lembro quando eu tive a ideia de fazer a música “animus domini”. Eu ia fazer caminhada de manhã e ficava mentalizando a letra. Até eu que sou o ‘pai da criança’, achei muito legal”.
Foto: Arquivo pessoal |
Usucapião e Hogwarts
Usucapião é uma forma de adquirir um imóvel com a função social de propriedade. Segundo o professor, Hogwarts foi o cenário perfeito para ensinar sobre o assunto porque, além de ser uma escola, o local é um imóvel.
Na encenação, o usucapião em questão é feita de forma extrajudicial, ou seja, no cartório e sem a necessidade de um juiz. Porém, caso haja alguma discordância entre as partes, o processo é feito de forma judicial.
Foto: Daniel Franco |
O “Animus domini” é um dos principais pressupostos para a ação de usucapião e outras ações de posse. Ele é a intenção ou convicção de ser dono de um determinado bem, ou seja, a prova de que aquele imóvel pertence a pessoa em questão.
Ele pode ser comprovado por meio de pagamento de contas de água, luz, internet ou até de impostos como o IPTU e o ITR.
Prêmio innovare
Lucas está concorrendo ao Prêmio Innovare 2023 com o projeto “Civil War”. Nele, os estudantes se caracterizam como super-heróis e criam situações cíveis de acordo com o universo Marvel.
“Ao invés de debates ou seminários tradicionais, o Civil War são batalhas entre os grupos em que eles trabalham temas reais do direito julgados pelo STJ e STF”.
Eles já fizeram três Civil War. As batalhas são de encenação, debates e paródias. Um grupo enfrenta o outro, sendo um com versão do autor da ação e o outro com o réu. Jurados escolhem a melhor batalha.
Professor Lucas Castilho está concorrendo ao Prêmio Innovare 2023 com “Civil War” — Foto: Arquivo pessoal |
Para o professor, o importante desta metodologia é que ela trabalha com conceitos de empreendedorismo, liderança, trabalho em equipe, oratória e criatividade, além de direito civil.
“Eles deixam aquela postura passiva-tradicional e passam a ser protagonistas no processo de ensino-aprendizagem. Com isso o meu papel como professor deixa de ser o de transmissor do conteúdo, passando para um colaborador, um amigo”, finalizou.
Por Lara Silva, g1 Sul de Minas — Paraguaçu, MG
Fonte: g1