A loja da rede de fast-food está localizada na esquina das ruas Carlos Góis e Ataulfo de Paiva, a poucos metros do mar. O local fecha às cinco da manhã e reabre às dez. A CBN acompanhou, nas últimas semanas, a rotina das duas mulheres para entender quem elas são e por que estão nessa situação.
Moradores estão sensibilizados e curiosos
Mãe e filha moram em McDonald’s do bairro há três meses — Foto: CBN |
Os vizinhos do McDonald’s contam que vêem as mulheres todos os dias por lá. Chama a atenção que elas têm celulares, estão sempre com roupas limpas, carregam ao menos cinco malas em bom estado, mochilas, e possuem dinheiro para pagar o que consomem na loja e em outros comércios da região.
Há três meses, todos os dias, um empresário que mora na região observa, da janela de seu apartamento, a dupla sentada na frente da lanchonete, esperando os funcionários abrirem as portas.
“Quando o Mac fecha, elas ficam sentadas do lado de fora, não se afastam. Quando abre, de manhã, elas entram e pegam sempre a mesa perto da porta. Muito triste, morar em uma lanchonete é uma situação insustentável”, descreve o morador.
As mulheres não aceitaram, até o momento, a ajuda de ninguém - nem de moradores, nem de empresários, nem do poder público. A Polícia Militar, uma equipe do Segurança Presente e funcionários da prefeitura já tentaram fazer contato, mas a ajuda foi dispensada todas as vezes.
Suzy e Bruna: os nomes das mulheres que vivem no McDonald’s
Mãe e filha moram em McDonald’s do bairro há três meses — Foto: CBN |
Desde o começo do mês, a reportagem da CBN passou a frequentar a rua Carlos Góis com recorrência, conversando com vizinhos, comerciantes, ambulantes e, claro, com essas duas mulheres. Elas dizem que são mãe e filha, se chamam Suzy e Bruna, e não quiseram passar sobrenomes. Suzy, a mais velha, aparenta ter cerca de 50 anos. Bruna, a mais nova, menos de 30.
As duas falaram que nasceram no Rio Grande do Sul, mas moram no Rio de Janeiro há oito anos. Em uma das visitas, Suzy disse que quer encontrar um aluguel no Leblon por até R$ 1.200, algo impossível nos dias de hoje. Ela afirmou que está visitando apartamentos da região e escolhendo a nova moradia e que, até lá, prefere não gastar dinheiro e esperar a nova casa aparecer.
Em outra visita, Bruna estava sozinha. Enquanto ouvia a reportagem, ela fazia maquiagem, passava pó e se olhava num pequeno espelho que tinha na bolsa. Bruna confirmou a história da mãe: as duas estão procurando um apartamento com um orçamento apertado. Ela disse ainda que estavam bem de saúde, que a mãe teve um problema no olho, mas já havia sido resolvido.
Em todos os contatos, Suzy e Bruna foram de poucas palavras, mas trataram com cordialidade o repórter. Elas negaram todos os pedidos de entrevista feitos pela CBN nesses encontros.
À espera do marido que está em Paris
Após as negativas de entrevista, a reportagem buscou novos caminhos para tentar desvendar a história. Primeiro, entrando em contato com a Secretaria de Assistência Social do Rio. Uma equipe foi ao local, mas a ajuda foi recusada por mãe e filha.
Em outro momento, conversando com a equipe do Segurança Presente, um programa de proteção instalado no bairro. Assistentes sociais da iniciativa também estiveram no McDonald’s, mas foram recebidas de forma ríspida e sequer conseguiram fazer o cadastro de Bruna e Suzy.
Por telefone, uma das profissionais disse que estava preocupada com a situação, que parecia mais complexa do que a narrativa sobre mãe e filha procurando um apartamento para alugar. À assistente social, elas relataram que o marido de Bruna estava em Paris, na França, e que assim que ele voltasse a família alugaria o imóvel. Nas conversas com a reportagem, as duas nunca mencionaram a existência desse homem.
Testemunhas relatam histórico de passagem por hotel e calote
Mãe e filha moram em McDonald’s do bairro há três meses — Foto: CBN |
Foi com um ambulante da região que algumas respostas começaram a surgir. O vendedor fica na mesma esquina do McDonald’s. Ele chegou a trabalhar em um hotel em Copacabana antes da pandemia e contou que Suzy e Bruna deram um calote nesse estabelecimento, pois saíram sem pagar, em 2022.
“Conheço elas pelo histórico (do local) onde eu trabalhei, um hotel em Copacabana. Elas se hospedaram lá e não pagaram a hospedagem, em 2022. Não aceitam ajuda, são bem ríspidas, não se abrem. Ficam andando na rua, peregrinando. Ficam para lá e para cá, e não tem um local fixo”, conta o vendedor.
Uma pessoa que trabalhou na gerência do hotel na época confirmou a história e disse que a direção preferiu não denunciar o caso à polícia, para evitar exposição.
O caso de Bruna e Suzy foi parar nas redes sociais, em perfis que compartilham notícias de bairros do Rio. Relatos nos comentários dos posts afirmam que as duas estão vagando pela cidade há algum tempo e já teriam passado uma temporada no Aeroporto Internacional Tom Jobim, o Galeão, e outra no parque Jardim de Alah, também no Leblon.
Por Pedro Bohnenberger
Fonte: cbn.globo.com