O abraço entre mãe e filho marca o fim de uma história de injustiça que começou 12 anos atrás. No dia 10 de março de 2012, a Polícia Civil de São Paulo prendeu o suspeito de ser um estuprador em série, que atacava mulheres em Osasco e Barueri, na Grande São Paulo. Carlos Edmilson da Silva foi processado e condenado em dez casos. As penas, somadas, chegavam a 137 anos de prisão.
A advogada Flavia Rahal conta que, em 2019, foi procurada por um dos promotores que atuavam nos processos contra Carlos Edmilson. Flavia é uma das fundadoras do Innocence Project Brasil, uma associação que trabalha para identifica erros que podem ter levado inocentes à prisão.
“A forma como esse reconhecimento foi feito foi uma forma muito indutiva porque, na grande maioria dos casos, elas foram confrontadas com uma única fotografia deste único rapaz. Então, essa conjuntura induz a pessoa que passou por um momento traumático, que no mais das vezes não tem a clareza daquilo que vivenciou como nós temos em outras circunstâncias, até pelo estresse forte que a situação provoca, e que são levadas a acreditar pela demonstração de uma única pessoa que aquela foi a pessoa que cometeu aquele ato tão gravoso”, afirma Flavia Rahal, diretora e fundadora do Innocence Project Brasil.
Mas para demonstrar que o Carlos Edmilson era mesmo inocente, os advogados precisavam de uma prova inquestionável. A confirmação veio do laboratório de DNA do Instituto de Criminalística de São Paulo. Os exames de DNA não só descartaram a participação de Carlos Edmilson nos crimes como ainda apontaram o verdadeiro culpado.
O DNA encontrado nas vítimas era de José Reginaldo dos Santos Neres, que já estava preso por outros crimes. A diretora do Núcleo de Biologia e Bioquímica do Instituto de Criminalística de São Paulo explica a importância do DNA para esse tipo de identificação.
“A análise de DNA criminal não tem por único objetivo indicar a culpa ou indicar quem pode ter participado de dado crime. Ela pode servir muito bem, essa análise, para inocentar pessoas que estejam sendo falsamente acusadas”, afirma Ana Claudia Pacheco, diretora do Núcleo de Biologia e Bioquímica do Instituto de Criminalística.
Nos últimos cinco anos, a equipe comandada pela doutora Flavia reverteu uma a uma as condenações impostas a Carlos Edmilson. Na terça-feira (14), o Superior Tribunal de Justiça anulou as últimas quatro. Nesta quinta-feira (16), depois de 4.450 dias preso por crimes que não cometeu, Carlos Edmilson teve de volta sua liberdade.
"Eles não acreditavam na minha palavra só. Deus sabe o que faz", diz.
A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo declarou que se for constatada qualquer irregularidade na investigação tomará medidas cabíveis e que exerce suas atividades dentro da lei e preza por apurações minuciosas.
O Jornal Nacional não conseguiu contato com a defesa de José Reginaldo dos Santos Neres, que o exame de DNA identificada como o estuprador.
Por Jornal Nacional
Fonte: g1